quarta-feira, agosto 08, 2007

uma experiência que agora vivo dia-a-dia



Apesar da Primavera que tão diferente foi, apesar do Verão-Outonal-Invernoso, tenho andado por fora.
Creio que não tarda poderei dizer que conheço o Gerês melhor do que a palma da minha mão.

Tenho-o palmilhado dia após dia. Semanas houve em que nem voltei a casa.
Saía já apetrechado para ficar fora uns dias e assim fiz. Embrenhei-me neste mundo de beleza e magia. Deixei-me contaminar por ele.
Deixei o seu silêncio encher-me e esvaziar-me, então, depois encontrei mais paz em mim do que me lembro de alguma vez ter sentido.

Agora, sempre que penso na minha querida Maria Manuel, não sinto dor.
Sinto-a tão presente em tudo o que está vivo e vibra, mesmo no que os meus limitados olhos e restantes sentidos humanos não conseguem ver ou apreender, muito menos compreender.

Há quem vá para um retiro, para Kathmandu…
Sei lá, para lugares distantes.
Para quê? Basta que nos deixemos ir, envolver pela força da natureza, ligarmo-nos a ela de novo, desprendendo-nos das coisas com que enchemos o nosso dia-a-dia nas cidades actuais e com que atafulhamos as casas, as almas….
Desprendermo-nos das coisas e de nós mesmos, do nosso ego tão competitivo na sociedade que construímos e que é uma sociedade doente e que nos provoca doenças.

Não vale a pena ir para lugar algum.
Nem perto nem longe porque qualquer “viagem” que valha mesmo a pena, que nos faça entrever o real que ocultamos com camadas e camadas de véus de medos, de rejeições…, é uma viagem interior.
Tão simples quanto isto.
Claro que o estarmos num local onde a natureza ainda vive, onde podemos sentir fluir a energia vital que liga os vários planos, e deixarmos, de coração aberto, que entre em nós, nos habite, facilita a viagem e, mais do que isso, a tomada de uma nova consciência que poderá vir a ser vital para a sobrevivência da humanidade.

Hoje já não lembro Maria Manuel com dor, mas com gratidão e alegria por tudo o que juntos vivemos e partilhámos e nunca mais voltei a sentir no peito a dor da sua ausência.
Nem sei mais o que se designa por solidão apesar de passar semanas sem ver ou sequer falar com outro ser humano.

Gostaria de vos saber explicar mas não sei. Podem pensar que o estar isolado me enlouqueceu ou que deliro.
Eu sei que não e o que possam pensar não me afecta.
Por outro lado afecta-me o não saber transmitir-vos a minha experiência, pois sei o que ela fez por mim, como sou um ser humano em aprendizagem.
Tranquilo agora, sem receios nem dores, capaz de olhar o mundo e a vida de uma forma que nunca pensara possível apesar de ter uma vaga memória de algo semelhante quando criança, mas sei que as crianças de hoje, com os perigos que espreitam por todo o lado estão tão confinadas a espaços fechados e sempre sob vigilância de adultos que lhes não permite este tipo de interacção.

Quase não têm contacto com a natureza, em si e, quando a têm é no âmbito de tutela de adultos e actividades organizadas.
O espaço para a descoberta e a imaginação, não orientada, está prejudicado.

Não critico os pais. Protegem os filhos de uma sociedade doente, Estão certos. Temos é que entender isto e lutar para reconstruir um outro ser humano, capaz de criar uma sociedade à sua medida.
Humana como parte do todo planetário e cósmico.

P.S - sabia que há muito aqui não vinha, mas só agoa tive a visão temporal do afastamento.
Aos que por aqui passaram entretanto, as minhas desculpas.

7 comentários:

Teresa David disse...

Deambular por esses locais lindos deverá ser bastante revitalizador. Desde garota que não vou ao Gerês, mas guardo ainda as imagens que se me colaram á memória.
Estar só não quer dizer que se viva em solidão. Verdadeiramente a pior solidão é a acompanhada!
Obrigada pela visita e gostei bastante do que aqui vi e li.
Bom regresso
Bjs
TD

Anónimo disse...

Passaste para além do Bojador... para além da dor.

Volta, Eremita. Eu gostei de ti.

:)

Cláudia disse...

O eremita é aquele que procura conhecer-se.Distanciando-se do barulho mundano, do supérfluo inconsciente e fútil, observa e analisa o seu mundo interior, iluminando gradualmente o seu inconsciente com a chama da inconsciência.Esclarecendo seu lado inconsciente, vai-se conhecendo;conhecendo-se, vai-se resolvendo; resolvendo-se vai se centrando, e centrando-se, vai-se tornando fértil até ao ponto em que pode nutrir o mundo com sua simples presença.Em silêncio, sem gesticulações, sem dedos apontando o céu, desde o seu coração tão único e especial, quanto comum e simples.Que maravilhosa etapa de vida...Obrigada pelas suas palavras.

Amaral disse...

Ler este teu testemunho é uma benção!
Encontraste o teu patamar de consciência onde tudo se torna claro e pleno de tranquilidade.
O contacto com a natureza não te afastou da humanidade, apenas te fez unir ainda mais, em espírito e em verdade.
A paz que sentes é a aproximação com o teu eu interior, de uma maneira como nunca havias sentido!
Que bom! Nunca percas o rumo desse caminho maravilhoso!

bettips disse...

Perdoa, só agora li a tua razão. Fui lendo. Acho tocante. Espero que, se companhia encontrares, que seja a da luz que te guie em vida. Tem cuidado, contudo com a "demasiada solidão"...porque partilhar é preciso! Abç

Amita disse...

Fiquei maravilhada com este texto que tanto me diz. No silêncio há muitas vozes que falam e nos transportam para a essência em luz e paz.
Do mesmo modo me levaste para o meu tempo de menina e mocinha nesse Gerês, acalmia em aromas e brilhos mil.
Estou muito grata pela tua presença no meu espaço de palavras.
Com muito carinho,um grande abraço

Meg disse...

Pela Bettips cá cheguei.
Quanta emoção nesta descoberta de um viver e um sentir já tão raro.
Comovida me despeço, sem saber do dia e da hora em que fiz esta visita.
Bem haja