quarta-feira, fevereiro 25, 2009

11º Jogo das 12 Palavras - 1ª Parte

Amigas e amigos, eis o belo e rico conjunto de textos deste nosso 11º Jogo das 12 Palavras, tripartido .
No mês de Março teremos, segundo a aritmética, o 12º mas não corresponde ao 1º Aniversário do Jogo dado no início este se bi-mensal.
Mas será próximamente e agradeço que enviem sugestões para festejarmos condignamente o 1º ano de edição, ininterrupta, do Jogo e publicação do livro "22 Olhares Sobre 12 Palavras" .
Grato pela vossa continuada participação.
Boa leitura.
O soberano tigre
de morfeu navio,
uma sacudidela
afasta dentro do oceano
qualquer oscilação
e o vento vasteza
não altera a situação
desta minha batida.
Paula Raposo
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Acabo de libertar-me dos braços de Morfeu,
acordo dentro desta espécie de navio,
que é barco ou barca,
que construí com as minhas próprias mãos,
transporte da faina batida na foz deste rio
e bojo movente para turistas ou gente assim.
O oceano ainda está longe das margens baixas
mas sinto o vento marítimo avançar,
uma oscilação, uma sacudidela,
situação habitual quando as águas oceânicas
embatem nas águas fluviais.

Ao começar a desenrolar os meus apetrechos
para pescar navegando à vista da costa,
sinto em redor a vasteza que se estende até ao deserto
e de súbito descortino,
atento, hirto, soberano,
a figura de um tigre,
só e forte e frio,como sentinela de um território de ninguém.

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das palavras

foi assim sem tirar nem por. num pé de vento fiquei a ver navios, ou Braga por um canudo. o que, sendo coisa diversa, vem a dar no mesmo. as 12 palavras são assim tão diversas e, ao mesmo tempo algumas tão semelhantes, sinónimas ou quase, que me deixaram nesta situação. que um oceano é uma vastidão ou uma vasteza de água salgada a perder de vista todos sabemos assim como sabemos que uma batida pode provocar uma 0scilação sendo que a inversa também é verdadeira ou pode também provocar uma sacudidela. depende daquilo em que bate e do que está dentro ou da sensibilidade do que lá se encontra. a escolha depende da pessoa e esta é soberana podendo pois usar o termo que mais adequado achar para transmitir um sentimento ou uma emoção. assim, uma "oscilação" emocional pode fazer tremer os alicerces de alguém e essa pessoa dizer que ficou…"batida". ou, um condutor distraído, incauto, pode dizer que deu uma "batida" quando o seu carro foi contra outro veículo. uma pessoa sovada pode usar o mesmo termo "batida" para dizer que foi sovada. se um brasileiro tomar um batido de frutas pode usar a palavra no feminino e lá vem "batida" num outro contexto. se estivermos a ouvi um fadista e este for soberbo, excepcional, ouve-se no meio dos aplausos: ahhhh tigre! a que propósito, se o fado é coisa de país de brandos costumes e onde este felino não existe desde tempos imemoriais? isto presumindo que na evolução da terra e das espécies, quando havia um só continente, por aqui pudesse andar. ou os seus antepassados… se o fadista for mau o melhor é recolher a penates, ou seja, a casa, e aos amorosos braço de Morfeu. vão por mim…

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Asas são para voar

Longe vão os tempos em que eu voava com Morfeu. Já não sou aquele gavião de asas doiradas… deixei que elas fossem violentamente arrancadas por uma nortada… caí. Embati tão forte dentro de um navio à deriva que quase lhe causei um rombo.No fundo dos meus olhos quase se extinguiram as labaredas que os faziam brilhar. No lugar desse lume que me aquecia, o vento passou a ser o soberano, aquele que dita as leis e transforma em aridez tudo aquilo em que toca. Cada sacudidela, cada oscilação deste barco que me aprisiona, causadas pela fúria das águas do enorme oceano que me volteia, provoca em mim uma vasteza de um nada, que eu almejaria que fosse um tudo. Por isso me transformei num tigre assanhado, que ruge e arranha, numa tentativa desesperada de despertar uns sopros de uns olhares, por muito fugazes que sejam, que me venham atear os resquícios das fogueiras que um dia arderam em mim.Eu sou apenas eu e a minha situação.Mas ao longe, bem ao fundo de um tempo que parece breu, uma batida me faz estremecer e acordar. São as asas de latão que vêm ao meu encontro. Afinal, Morfeu ainda não me abandonou, não desistiu de mim. Começo a perceber que ele jamais deixará de me chamar a voar!
Fa menor

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Um Morfeu eticamente irrepreensível
Evocação a
Francisco Torres, do blog Anomalias que, em homenagem ao seu gato, assumiu o nick name de Morfeu

Que raio de ideia aquela do passeata pelo oceano em meio da tormenta de Verão, que de tão anunciada, nem podia ser considerada surpresa. Vá lá que não custa nada, uma horita na travessia até às Berlengas, nem dá para o enjoo! E há que tempos não vou lá, espraiar a vista pela vasteza do mar alto, com aquele sensação única de quem tem os pés assentes numa ilhota, terra firme mas diminuta, em falésia que, ao simples abrir de braços, é rampa de lançamento de sonhos voados, qual albatroz de partida para a imensidão…

Mal os pés postos no barco, navio de brinquedo, que faz a travessia a partir de Peniche, já a oscilação, ainda que ténue, do porto de abrigo o deixara algo suspeitoso. Mas o vento fresco e a manhã de sol risonho com promessa de dia da aventura possível, varreram uma hesitação que pressentira, à flor da pele.

Dentro da sua enorme mochila de caminheiro, embrulhado com a merenda e o equipamento fotográfico, o seu companheiro de todos os dias, o gato Morfeu, cuidadosamente camuflado e abafado, como passageiro clandestino que se preza, fartinho que estava o seu dono de saber da rigorosa proibição de invadir a ilhota com bicharada doméstica ou por domesticar. Ainda para mais com um tigre daqueles, habituado a fazer razias nos pombos e pardalada dos jardins por onde vadiava.

Mas, que fazer? Deixá-lo onde, com o preço que pediam para alojamento da bicharada? À solta? Nem pensar, que a vizinhança andava atiçada pelas tropelias e mortandades do Morfeu e o mais certo era darem-lhe conta do canastro. Em casa, dir-me-ão. Impossível, pois albergava temporariamente uma velha tia felinofóbica, em deslocação à cidade para uma improvável cura de mal de pulmões, ainda por cima…!

Como no mais e, particularmente com ele, o bichano era de uma doçura e de uma moleza de causarem espanto, decidiu-se por aquela pequena prevaricação ou infracção aos seus códigos de ambientalista convicto e militante, confiando que a proverbial sornice do bichano, acomodado no ninho que congeminara, facilitaria a aventura.

Pé no barco e primeira sacudidela de mar, logo se apoderou dele a sensação de que a viagem não lhe iria correr de feição. A torrada matinal, misturada com o café com leite, interrompeu a sua marcha ordeira para onde a natureza a encaminhava e deu início a uma penosa regressão, que lhe encheu o corpinho de arrepios.

E assim decorreu a travessia. Batida de mar no barquito e carga ao mar regurgitada pelo nosso herói, sacudido por convulsões espasmódicas, para gáudio de alguns e repugnâncias da maioria, já nem falando do seu espanto pela aparente capacidade de multiplicação da torrada, que parecia nunca mais acabar, dando substância ao seu tormento.

Já perto do embarcadouro da ilha, depois de ter recorrido, pela enésima vez, aos lenços de papel que transportava na mochila para minorar os estragos que tanto vómito - de quem o vento parecia aliado de ocasião - lhe ia deixando estampado na fatiota, eis que um último e avassalador espasmo o sacode, o inteiriça, e, acto contínuo, o leva a projectar-se, violento e descontrolado, contra a amurada, lançando o derradeiro resquício de alma que ainda lhe restava… e lançando, também, borda fora, o infeliz Morfeu, projectado por cima da sua cabeça, pela desmesura do arranque e através do fecho da mochila que permanecera, esquecidamente, por fechar.

Estranhara o bichano as atribulações do trajecto, por parte do seu dono sempre tão afável. O choque gélido com a água do mar e o consabido pavor que o frio líquido provoca em escaldado gato, ocorre à mente do bichano – que a tem, contra a opinião de muitos néscios – que tudo aquilo configurava uma situação de abandono, idêntica à dos relatos que ouvira de tantos dos seus congéneres.

Abruptamente saído do aconchego embrulhado da mochila para aquele pavor de frio e desmesura, nem olhou para trás, a ver do seu, até aí, idolatrado e confortável dono.

À sua frente, a falésia subia e descia ao ritmo das ondas e parecia chamá-lo. Recorrendo a atávicos instintos, se a redundância é permitida em tal momento de aflições, desata a esgravatar na água, de olhar espavorido e sem um gemido até a alcançar e guindar-se por ela acima, com a força do desespero e a habilidade de alpinista experimentado.

O dono, mergulhado na sua angústia e confortado com uma turista italiana compadecida, interessada e interessante, apenas deu pela falta do Morfeu muitos minutos após o desembarque. Levou o desaparecimento à conta de mais uma galderice do bichano, porventura ainda do lado de Peniche, que, a ele, o tormento até amnésia provocara.

A meio da encosta, cansado e aturdido, o velho Morfeu deixou-se ficar numa cama de chorões batida pelo sol, a retemperar-se da desdita, rapidamente caindo nos braços do seu homónimo.

Ao acordar, depara com o olhar circunspecto, tímido mas curioso de uma belíssima coelha brava, que o fitava da sua lura, espantada com o inusitado turista, ela que nunca saíra da ilha, o que, se lhe dava incomensuráveis horizontes, por um lado, lhos entorpecia, por outro.

Desengane-se quem pense que o drama evoluiu em crime. Morfeu, predador por natureza, era uma alma sensível, antes de mais, aos prazeres da vida. E o momento deparou-se-lhe soberano. Entre miados gentis e ronronices a propósito, que colheram da interlocutora uns encantadores estremecimentos labiais de correspondência, em breve decidiram partilhar infortúnios e abandonos.

Ela, também, a pobre, de coração partido por um companheiro useiro e vezeiro em infidelidades, ao qual pusera com dono recentemente, desfrutando agora, só para si, de uma lura excelentemente posicionada, sem acesso a humanos e virada a sul, de onde colhia o melhor aconchego diário do sol.

E assim se descobriram. Diferentes pelagens mas idênticas nostalgias, de vidas bem passadas a aconselharem apaziguamentos que a sabedoria dos dias nos traz.

Hoje, Morfeu, é um gato feliz com a sua coelha, que lhe abriu a porta da lura. Lá vai apanhando uma ou outra gaivota, discretamente, sem que o reparem, para combater imperiosas agruras de fome, ele próprio gato ecológico pela natureza sábia das coisas, farto de saber que o que há mais, nas Berlengas, são gaivotas, de quem ninguém dará pela falta.

Tem, como naturais aliados, em vizinhança inteligente e cúmplice, o lagarto-ocelado, o rato preto e as rolas-do-mar. Não é vulgar, entretanto, deparar com ele em amenos diálogos com a encontradiça mas esquiva coruja-do-nabal, nos seus devaneios nocturnos. Mas definitivo, enquanto dure, é o entranhado afecto que vem desenvolvendo com a coelha-brava…

Afecto contra-natura, dirão alguns. Néscios, esses, que não atentam nos brilhos que ressaltam naqueles olhares, mais visíveis em claras noites, a quem os divise do mar, quais estrelas incrustadas na falésia.
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DA BATIDA INESPERADA DO VENTO

Perdidos dentro dos nossos domésticos afazeres diários,
soporificamente embalados nos braços de Morfeu,
nem sempre nos damos conta
dos sinais premonitores da tormenta.

Então, quando ela surge, a sensação
é a de termos sido repentinamente abocanhados
pela ferocidade das mandíbulas dum tigre.


Perante a enorme sacudidela de vento
nas velas do navio da nossa vida,
sentimo-nos sem bússola, perdidos,
desesperados com a situação.

Nessa altura não estamos preparados para vislumbrar
a soberana oportunidade que nos é dada
para refazermos o rumo e retomarmos
o equilíbrio da nossa barca.

Mas, normalmente, depois da grande e inesperada oscilação
navegamos mais adultos e mais sábios
na vasteza do mar oceano da nossa existência.

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sobressaltos


Morfeu estendeu os braços soberano sobre a vasteza do oceano, analisando a situação como um tigre a sair de dentro de água, a oscilação do navio, batida pelo vento, obrigou-o a uma sacudidela da cabeça aos pés.

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em mim a criança disse

sacudidela,

situação-oceano

Frágil soberania

em mim a adultez foi

vento, oscilação

batida de frente

em mim

A morte - Morfeu dentro -

Conseguiu ser

navio-tigre sem sono.

vasteza mesmo.

Rubens da Cunha

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Regresso

no vasto oceano, entre sacudidelas, fortes oscilações, intensas batidas das águas no casco do navio - mau grado os ferozes assobios do vento - Alice continuava nos braços de Morfeu. soberanamente adormecida. alheia à violência da situação externa. sonhava embalada pelo constante balouçar.

dentro de dias chegaria a casa. à pátria onde não ia havia anos. a vasteza da savana iluminava-se no sonho resplandecendo doirada. um rugido atroou o espaço e pareceu vibrar em ondas de calor como nos desertos quando ocorrem as miragens. Alice não temeu. aguardou confiante. sabedora que o animal a saudava pois aquele animal era o seu animal-guia e pelos sonhos comunicavam.

um enorme tigre surgiu do nada. luminoso. irradiando luz caminhou em direcção a ela. atirou outro rugido aos ares movendo a cabeça de forma majestosa. alertando os restantes animais que aquele território era seu. chegado perto, parou. Alice colocou-lhe a mão sobre a cabeça e assim ficaram longamente. conversando.

Eremita

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A tempestade

Deslizo
Mar dentro
Primeiro entregue
A um mar doce
Calmo e apaziguador…
Mas, logo
Começo a sentir
A batida,
A oscilação forte
no navio,
E olho o mar
Que se transformou
Num oceano
Que se abre soberano
Na vasteza
Das suas ondas imensas
Que vão desenhando
Ora um tigre
Ora um leão
E o vento
Que me leva
E que me traz
Na imensidão
Do momento
E mais uma sacudidela
E outra…
Não sou nada
A situação
Ultrapassa-me,
Mas deixo-me ir,
Perdida e encontrada
Nos braços de Morfeu
Elsa Sequeira

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... tinha de partir nesta jornada , toda aquela vasteza me convidava para grandes viagens .
Ao longe as nuvens formavam estranhas formas que eu tentava identificar . Uma delas era Morfeu , o filho da noite . Trazia-me sonhos e visões , inebriando-me a razão . Seria um mau presságio ? Era um chamamento ?
Nada como seguir em frente por este oceano imenso .
O anoitecer veio acompanhado de ondas que fustigavam violentamente o navio . A oscilação sentia-se de tal forma que mais parecia uma sacudidela longa e prolongada.
No Céu as Estrelas que iam aparecendo indicavam-me o norte. O vento amainou, acalmando o mar da sua revolta. Pude então apreciar todo o esplendor daquele tapete gigantesco, que reflectia o meu fascínio pelo desconhecido.
O som da ondulação era uma autêntica batida ritmada, acompanhada pelo ranger do mastro principal. E assim no horizonte apareciam os primeiros raios de sol, imagem soberana a que não estava habituado.
Finalmente o dia e um porto de abrigo que se avista. Chamei-lhe "Baía dos poetas", pela sua beleza e misteriosidade.
No alto uma igreja erguia-se por entre rochas toscas e agrestes. À entrada, um tigre deitado em cada um dos lados da porta, fazem a guarda de honra. Lá dentro esouros esquecidos que aumentam a minha imaginação.
Situação peculiar de quem procura para além do infinito.
José Rios (sem blogue)


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guerra

sem oscilação sobre a decisão tomada o soberano ordenou uma batida e os seus olhos brilhavam com a ferocidade do tigre.
as tropas, em rigorosa formação, entraram no navio que, sobre a vasteza do oceano, os conduziria, contra ventos e marés, independentemente da situação no local e das sacudidelas das águas enfurecidas como que em sintonia com a fúria dos homens dentro do seu bojo.
nas próximas horas e dias Morfeu seria esquecido e Marte louvado.
uma maré de fúria e sangue cobriria o mundo.
Dark

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imponderabilidade

a soberana vasteza do oceano nada representa. não tem poder contra a força do vento, que sendo nada mais que ar em movimento, lhe pega como na mais leve pena e de batida em batida, de sacudidela em sacudidela, de oscilação em oscilação o vira de dentro para fora. engole o mais poderoso navio com a fúria do tigre esfaimado dilacerando a presa. a situação torna-se imponderável, mas num piscar de olhos as águas ficam mansas. como se Morfeu sobre elas caminhasse domando-as.
Sereia

11º Jogo das 12 Palavras - 2ª Parte

sobrevivência

o vento atingiu a solitária árvore. perdida na vasteza da planície, sentinela única daquele imenso oceano de terra calcinada a perder de vista a batida forte do ar imprimiu-lhe uma oscilação. uma sacudidela imprimiu-lhe um estremecimento semelhando hesitação na decisão a tomar. a situação era desesperadora. a árvore, soberana expressão de vida sentiu a seiva correr mais forte bem por dentro de si animando cada tronco, cada ramo. sentiu-se perdido navio no meio de longínquo e inóspito mar. Morfeu, sentado num dos seus braços, trauteava canção de embalar enquanto fazia soar sua lira. a árvore sabia que não podia ceder. o sono seria fatal. a última expressão de vida desapareceria da superfície da imensa planície que se estendia a perder de vista. onde antes existiam florestas, bosques, verdes prados cheios de vida, animais de todas as espécies, caçando, preguiçando ao sol, lançando aos ares suas vozes. maviosas umas, quase assustadoras pela força e potência outras. a árvore lembrou com ternura o tigre que, durante anos adoptara os seus ramos como leito e como ponto de vigia de onde detectava caça ou adversários. pensou que, por todos eles, não cederia. o sono arrastaria a morte. a seiva pararia e ela, guardiã da vida, desapareceria. com ela toda a esperança de renascimento.
Amla
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Parado no deck do navio,
cotovelos apoiados na amurada,
estendeu o braço e deu uma sacudidela
a libertar a cinza do cigarro.

situação nova que lhe trazia o prazer dela
em cada batida, em cada latejar
dentro do cérebro tão lúcido que doía.
Como se entregue a Morfeu
em sonho se alongasse na vasteza
daquele outro oceano de sensações.

Qual tigre fixado na presa
posicionado contra o vento
o olhar perdia-se na imensidão
no verde-azul do infinito adiante
na esperança sem tamanho
no vaivém da oscilação
soberana das águas.
Jawaa
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A Dúvida

Deteve-se no cimo da falésia e ali ficou de face voltada para o vento...Sentia-se como um pequeno navio, a oscilar perigosamente nas ondas da tormenta, perdida na vasteza do oceano. Sentia-se invadida de incertezas e dúvidas, a sua vida sacudida de um modo inesperado...já não se sentia soberana do seu ser, sentia-se enclausurada numa situação para a qual não antevia solução.
Olhou para baixo, para o mar revolto que se desfazia contra a falésia...Ocorreu-lhe dar um salto de tigre e assim poder finalmente descansar, embalada nos braços de Morfeu...Todas as incertezas e dúvidas desapareceriam então...
Olhou mais uma vez para baixo...a sua alma agitava-se dentro do peito, e as batidas do coração ressoavam-lhe nos ouvidos...
Respirou fundo...
E deu um passo...para trás....
Afastou-se da falésia. Amanhã é outro dia.
Margarida Martins

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soberania perdida

antes era senhora
soberana de mim.
de minha vida.
um vento estranho
chegou
alterando a situação.
sentira-lhe a batida.
uma leve oscilação
a correr-me por dentro.
agora, perdida
na vasteza daquele oceano,
navio sem rumo,
qualquer sacudidela
me estremecia os alicerces
que rugiam – tigre mortalmente
ferido num deriva
sem norte. cego
morcego sem radar.

só nos sonhos – quando
nos braços de Morfeu
voltava a sentir o domínio
de meu ser.

acordar era interminável
queda por abismo
de dores.
TMara

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Carta a Morfeu

Divino,
É o cansaço que me leva a suplicar o vosso auxílio.
O sono abandonou-me e deita-se comigo a insónia que é amante cruel e castigadora, soberana e toda poderosa proíbe-me de descanso merecido.
Não posso nem quero resignar-me a esta situação de desconforto.
Vem Divino Morfeu acompanhar o meu sofrimento, sentir a ansiedade e a dor da solidão. A Vossa ausência obriga-me a ser subserviente a esta condição de permanentemente acordado que me tortura.
Embalai-me como o vento embala os poderosos navios e transportai-me para o mundo maravilhoso dos sonhos, para lá dos oceanos e mais perto do céu. Só Vós e a vasteza de Vossos celestiais poderes sois capaz de me adormecer finalmente.
O meu corpo oscila e treme na escuridão nocturna, sacudido pelas batidas ensurdecedoras do meu coração desesperado.
Dizei-me pois Ò Divino qual o sacrifício, qual a oferenda que pretendeis deste Vosso humilde servo, para que Vossa companhia torne a alegrar as minhas noites. Dai-me uma missão, ordenai e sereis obedecido e prometo-vos aproveitar essa dádiva com todas as minhas forças.
Vingai-me desta mal amada insónia que como um tigre me tem prisioneiro em suas impiedosas garras e abençoai-me com a Vossa presença.
Peço-vos a paz Ò Divino,
somente a paz.
António Rios

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Urge uma sacudidela, um vento de mudança para que, tal como há 35 anos possamos melhorar a situação.
País soberano, com uma vasteza de terreno a perder de vista, inaproveitados, onde em tempos não distantes , a oscilação das searas nos lembrava a batida do rebentar das ondas ou o deslizar de um navio pelo oceano...dentro de uma concha, adormecidos nos braços de Morfeu, pais á deriva, num ensaio sobre a cegueira..Impávidos, diluindo-se num lamaçal de crises e recessões .Onde a (in)justiça se agudiza nos mais pobres, deixando impunes os desordeiros, os políticos sem escrúpulos até que um dia ao amanhecer, alguma força, militar ou não, munido da força de um tigre, se aventure a dar ao povo o que é do povo..
E citando Ary dos Santos"
E se esse poder um dia.
O quiser roubar alguém.
Não fica na burguesia.
Volta á barriga da mãe.
Volta á barriga da terra.
Que em boa hora o pariu.
Agora ninguém mais cerra.
As portas que Abril abriu
".
...............Deixem-me sonhar que Abril será sempre!
Bicho-de-conta

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Cartas

Terrível bebé: gosto das suas cartas (um oceano de letras), que são meiguinhas, e também gosto de si (ai, a batida no meu peito…), que é meiguinha também. E é bombom, e é vespa (que o vento não derruba), e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo e a Bebé deve escrever-me sempre (vem a carta num navio…), mesmo que eu não escreva (soberana apatia), que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguém gosta de mim (nem Morfeu) e também porque é que havia de gostar, e isso mesmo, e tudo torna ao princípio, e parece-me que ainda lhe telefono hoje, (dentro de mim, a vontade) e gostava de lhe dar um beijo na boca (situação maravilhosa), com exactidão e gulodice e comer-lhe na boca os beijinhos que tivesse lá escondidos (tal a vasteza do meu desejo) e encostar-me ao seu ombro e escorregar para a ternura dos pombinhos (numa oscilação calculada), e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ofelinha gosta de um meliante e de um cevado e de um javardo (não de um tigre) e de um indivíduo com ventas de contador de gás e expressão geral de não estar ali mas na pia da casa ao lado, e exactamente, e enfim, e vou acabar porque estou doido, e estive sempre, e é de nascença, que é como quem diz desde que nasci (que sacudidela teria levado?), e eu gostava que a Bebé fosse uma boneca minha, e eu fazia como uma criança, despia-a, e o papel acaba aqui mesmo, e isto parece impossível ser escrito por um ser humano, mas é escrito por mim.

(a partir de uma carta de Fernando Pessoa para Ofélia Queiroz)
Zé-viajante

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humano poder

soberano do sono
Morfeu perde-se
na vasteza do
oceano construído
pelo humano sonhar.
tigre já não senhor
da situação. navio
lançado à deriva
pela força do vento
do pensamento.
entre oscilações
batidas sacudidelas
perde-se na imensidão
cega e vazia
que dentro do Homem
se elabora e des-constrói.
TMara/multiply

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e nós

dentro da noite de nós

há mistérios incontidos,
peças de vento
na vasteza de um oceano infindo,
a oscilação de um navio
em indomável situação de vazio

soberano da noite sem voz,
pela savana avança o tigre
ao rufar dos tambores
em monocórdica batida.
A agudeza do seu olhar
em branco e preto tecido
lapida, em subtis fragmentos,
as raízes do dia.

É Morfeu clamando o esmaecido
com a sacudidela de suas teias
Incomensuráveis, densas e finas
Amita

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MÚSICA

Mesmo de olhos fechados sinto aquela batida
Que me encanta e me faz olhar para dentro
E pensar que estou a ouvir o meu morfeu
Neste lugar de sonho aqui no navio
Que parece deslizar neste imenso oceano
Não senti até agora qualquer oscilação
Só esta música como que uma sacudidela
Para que os meus sentidos saiam desta situação
Só vejo uma saída muito soberana
Imaginar estar na selva junto a um tigre
Tendo à minha volta toda aquela vasteza
Mas apenas tenho a cara e o cabelo ao vento!...
Belisa

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Morfeu decide reunir alguns Deuses para promover uma noite de sonhos. Pede ajuda a Hipnos seu pai, que orna toda a vasteza do oceano com papoilas vermelhas.
Como não poderia deixar de ser Zeus é convidado, para que controlá-se a chuva,raios e trovões. Razão soberana do Deus supremo.
Eis que surge Hermes assinalando os caminhos com pequenos montículos de pedras, que os convivas seguiriam como orientação. A seu lado Hades vindo do mundo dos mortos.
Das profundezas do mar onde habita, aparece Posídon, traz ostras para a festa e pérolas para as Deusas. Sente-se o vento com a chegada de Hera a rainha dos céus. Atena chega logo a seguir, numa sacudidela de sabedoria e integridade.
A oscilação ao longe anunciava Hefestos, apesar de dominar o fogo e os vulcões a sua deficiência fisica não passava despercebida. Depois de mais uma vitória no seu curriculo Niké traz oferendas, uma cria de tigre e ambrósia, a alimentação divina.
Acompanhada por seus irmãos Hélios e Eos vem Selene, iluminada pelo luar de uma noite de lua cheia. Dentro de um tornado que à muito rondava o concílio aterra Cronos, já oirado da sua longa viagem.
Faltavam ainda duas personagens que eram esperadas impacientemente.
Batida pela brisa suave, uma beleza estonteante de seu nome Afrodite. Faz-se silêncio, todos anseiam um olhar seu, um sorriso, um lugar a seu lado.
Como sempre Dionisio chega em cima da hora, uma situação que todos perdoam. O vinho, o néctar que ele elegeu para a noite é justificação mais que suficiente para a sua falta de pontualidade.
Todo aquele ópio que as papoilas espalhadas por Hipnos emanavam, lhes toldava a visão. Ao longe o que diziam ser um navio,não era mais do que um delírio.
São místicos os designios dos Deuses.
José Rios

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Urgentes ventos alísios

Estamos, sem o querer, na situação dum tigre adormecido por Morfeu, vagueando a cada sacudidela do mar da vida

a oscilação do navio sobre as águas
diz do vento que chamou a tempestade
a batida da proa no oceano traz o eco
daqueles dias em que sabíamos da vasteza
soberana das águas que corriam calmas
dentro de nós.
nesta jangada sem norte convoco a chegada
de urgentes ventos alísios.
Vida de Vidro

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O

Dia de São Valentim

AVISO: O conteúdo do texto que se segue pode ferir a sensibilidade dos leitores.

Naquela época, e naquele local, a soberana era a girafa. Por muito que parecesse estranho. Tinha vindo num navio misterioso e cabia-lhe contar uma história.

A força do vento era tal que derrubou o tigre astuto que “se enrolara” com a pantera. E, quando a girafa, numa sacudidela elegante se desfez do abraço do leão, a situação complicou-se. Ali, na vasteza da selva, os amores desencontrados dos muitos animais, prenunciavam devassidão. A oscilação do macaco, nas manobras provocatórias de aproximação à iguana, era algo nunca visto naquele território.
A batida vigorosa do coração do gorila, levou a que este se declarasse, sem rodeios, à ursa maior, sua vizinha. E com que enlevo o fez...
Um oceano de amores, naquele maravilhoso dia em que tudo era permitido.
Dentro de cada um havia a satisfação das aventuras vividas, dos amores proibidos. De tal forma se cansaram (e o cansaço era divinal) que todos caíram, regaladamente, nos braços de Morfeu.
Zé-viajante

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SOLIDÃO

Na coberta do navio e apesar da forte oscilação que sa fazia sentir, Maria aproveitou a hora da sesta para, estirada numa das cadeiras que por ali se encontravam para uso e desfruto dos pasageiros, meditar um pouco sobre o seu novo estado civil e, talvez entregar/se um pouco a Morfeu.
Olhava o oceano na sua imensa vasteza onde, de quando em vez, alguns peixes voadores deixavam-se ver em vôos rasantes sobre a água.
Os afagos do vento no seu rosto recordavam-lhe beijos e carícias há tanto tempo sentidas.
A tarde ia, mansamente, perdendo a sua luz para dar lugar a um pôr de Sol, cor de fogo, só possível de observar, naquelas paragens.
Ergueu-se e, com uma leve sacudidela ao cabelo já cor de prata, pegou no seu saco onde um tigre bordado a seda, recordava-a os momentos passados na agradável mas tão remota viagem à India.
A sua situação era agora diferente.
Estava só e dentro do seu peito a batida do seu coração, onde o amor já não era soberano, marcava o ritmo lento, do pesar, duma vida solitária.
Benó

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Arrepio

Dentro de um navio vacilante, sinto a oscilação do oceano. O vento penetra-me a espinal medula. As cortinas fecham-se. O sonho desce da Lua e beija o negro com o seu reflexo. As aspirações mantêm-se. Uma sacudidela e sou levada por um reflexo. A lágrima soberana espera que a vasteza de Morfeu me leve para onde a realidade seja pura como o sonho. Olho aquele tigre esculpido pelas cordas amarradas à terra. A batida do meu coração revela-se forte. Acredito que a ansiedade das borboletas no estômago seja um presságio magnânimo na realização da felicidade. Sinto uma brisa no rosto. Uma situação aparentemente estranha.
Eli

11º Jogo das 12 Palavras - 3ª Parte


SELVA INTERIOR

Sonhava com o Tigre da Malásia, soberano da selva, por aqueles lados, dia e noite, noite e dia, preenchia-me a obsessão. Resolvi então percorrer o caminho. Dentro do navio, em pleno oceano vento forte, as vagas alterosas, faziam que parecesse uma casca de noz, eu pequenina, com tamanha oscilção.
A batida do mar no navio infernizava-me as datas, já para não falar da náusea companheira noite e do dia, dia e da noite.
Foi numa dessas sacudidelas depois de vários dias sobre a vasteza tempestuosa, caminho escolhido mas cruel, que olhei a situação percebendo que o tigre estava dentro de mim e que a luta tinha chegado ao fim.
Finalmente pude entregar-me nos braços acolhedores de Morfeu.
Claras Manhãs



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Enigma


dentro da caverna dos mundos,
um enorme ventrículo hexagonal,
tudo é um imenso oceano em flores.

no centro do âmbito,
sustentado por pulsares 0ndulantes,
existe uma flama de batida distinta.

ao fundo,
nos pés da cama de ébano,
desansa o tigre branco da desigualdade.

subitamente,
percebe-se uma sacudidela no olhar.
e solta-se a voz do soberano:

mortal,
na câmara das safiras bidimensionais,
haverá sempre oscilação.
tomarás sempre um navio.

mas para seres no reino de Morfeu,
só pela nau que faz o caminho da ilusão!

resolve o enigma da situação:
vasteza ou vento?
V.F.S



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canção de ninar

vem de dentro a batida
e o soberano ser –
tigre de papel –
levado pelo vento
perdido navio sem
mastros, nem leme.
eleva-se na oceânica
vasteza.

sem controlo
da situação
deriva entre cada
sacuidela
cada oscilação
enquanto
Morfeu canta a
Canção de Aquiles.
TMara/A Cor da Vida

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Lagash

Deitada no beliche do seu camarote, Lagash embala-se no som do vento, que lá fora cospe o estribilho do tempo. A oscilação do navio torna-a sonolenta. As águas do oceano cinzentas de tédio cospem a sua saliva no vidro da vigia. A agonia, que a veste por dentro, contrasta soberbamente com o seu aspecto. Para trás ficaram as ruínas do seu mundo imersas no soberano desdém dos interesses.
Pela retina dos seus olhos cansados passam, em câmara lenta, as imagens dos últimos dias, quando os ares cuspiam o fogo do ódio. Ódio feito em ambição de irmãos.
Lagash soergue-se, passa os dedos pela massa pendente de cabelos negros espalhados em seu redor, e, pestaneja à visão dilacerada, que teima em permanecer dentro de si. Aquele vulto abocanhando a terra de pernas retorcidas e mãos enclavinhadas no ar que lhe acabou, o outro de olhos vítreos e rosto retorcido, um outro encolhido pela dor da bala recolhida na sua carne, aqueloutro de boca escancarada, olhar perdido no amanhã que não veio. O vermelho do sangue empapando o cinzento do quadro. A cor que escorre da tela por excesso. As cores da sua terra, todas em excesso de vermelho, cinzento, negro e raiva.
O crivo das paredes, os esqueletos de ferro retorcidos, o pó, a cal, a argamassa esboroada, o cheiro de pólvora, o suor liquefeito em rancor, os olhares baixos, cravados na terra árida de vontade e amor. O vento quente que crepita nas ruas faz crer que a vida se esconde por ali, algures. Na esquina perdida de um pneu, no olhar ferido da criança, na burka negra que corre ziguezagueando na busca do alimento ou talvez, quem sabe do corpo caído no asfalto estilhaçado.
E a memória pulula, gira, envolve, amarga, fervilha.
As mãos que se enclavinham, as unhas que rasgam, a dor que mitiga a memória.
Lagash rebola o corpo no beliche, puxa da almofada e esconde o rosto. A memória recrudesce em tons mais ácidos. O marido e a filha mortos. Cá fora perto da palmeira do quintal. Um míssil. Uma explosão. Fumo e cheiro de carne queimada, sangue. Pedaços da sua carne espalhados aqui e além. O horror, a ânsia, a dor. Sentir que as suas entranhas foram rasgadas, sentir, que a sua alma foi roubada, sentir, o nojo, o vómito de estar viva, sentir, o quebrar da vontade, o uivar da mente. Tudo isso. Ajoelhada na terra, bebe o pó enxofrado da morte, grita o horror da insídia dos homens, daqueles que se alvitram seus irmãos. Um irmão não mata, não rouba, não rasga. Um irmão ampara.
Sacode-se. Toda.
Não sorri. Levanta-se e maquinalmente puxa pelo xaile e cobre os ombros magros. Encosta-se à vigia e contempla o mar. Na vasteza do horizonte os seus fantasmas diluem-se. O azul cinzento mergulhado lá ao longe por entre uns raios desmaiados de sol acordam-na para a sua situação real.
É uma refugiada. Política, assim definida.
Lagash.
O nome, a terra, o rio, o tigre, leito do mundo e cópula da humanidade. Aos milénios de vida sobrepõem-se, agora, os segundos de morte. A sua terra de onde lhe vem o nome. O seu destino parou aqui. O resto, o resto é a sombra de si, da sua alma partida.
………………………………………….
Londres
O ritmo alucinante do jornal torna-os quase histéricas de prazer. As notícias que povoam os teclados e monitores, os telefones que ressoam ininterruptos, conferem aquele ar desarrumado mas fervilhante. No seu gabinete envidraçado, James deita o olhar sobre a redacção. Conhece-os a todos. Os bons, os aspirantes e os trepadores. Cada um a seu género. Mas no final a equipa é soberba.
Aqui conta-se o mundo, jogam-se os destinos, constroem-se os mitos e arrasam-se os conceitos. Todavia, momentos há, em que também se edificam as boas vontades e se vendem as histórias de vida, mas pouco. O bom não é vendável, a miséria é ávida em pormenores, qual fiel de tempos e vidas em desequilíbrio.
Hoje, ele, James Previl, tem uma reportagem fabulosa. Uma sobrevivente, uma mulher. Lagash Mashhadani, a irmã de Tayseer al Mashhadani, a líder dos sunitas feita refém, e posteriormente libertada. Lagash é notícia. Tem a equipa de reportagem pronta para recebê-la em Heathrow, depois de amanhã.
Lagash será a protagonista de uma série de crónicas sobre a verdade do Iraque. James, pese os seus sessenta anos sente-se ligeiramente excitado pelo impacto que prevê ir alcançar, e, sobretudo pelo aumento previsível de vendas Uma mais -valia.
Não é implacável nem desumano. Não fora ele, outro, seria. O clima de luta pelos objectivos lucrativos torna as pessoas metodicamente especulativas. Ele não é diferente, tem um lugar cobiçado a defender.
Esfrega as mãos e levanta-se. Cá em baixo em Fleet street a vida move-se inexorável. O corrupio das horas, dos passos, dos olhares, esgares e sorrisos dão o tom à sua cidade. Londres merece o esforço, merece a notícia.
Dois dias. As folhas riscadas de negro serão manuseados por milhares. A vaidade fá-lo opado. O rosado da face balofa rebrilha a par do cinzento dos olhos. Um fulgor de vitória que trinca antecipadamente.
Senta-se na sua cadeira, gira embalando-se, um sorriso de beatitude cai-lhe do rosto. Fecha as pálpebras, cruza os braços unidos as pontas dos dedos. O sono doce alastra-o. E ela vem, o seu rosto, a sua mágoa, a sua história. A pessoa. Ela que lhe crava o dedo na carne, dilacerando-o. Aquele olhar de censura e ódio também. Acorda. Volve o olhar pelo cubículo. Ninguém, não podia ser. Mais uma comédia de enganos vestida de Morfeu . Puro engano!
James Previl predador de desgraças, gente do mundo encolhe os ombros e esfrega as mãos.
Somente dois dias. Uma pequena espera.
…………………………………….
Lagash.
Novo agitar, outra sacudidela, outro frémito expandido.
Abre a porta e sobe até ao deck. O vento fustiga-lhe o rosto e o corpo. O mar revolto ondula em vagas que a fazem baloiçar. Enfrenta-o. Crepita de fúria. As vagas criam berços cobertos de lençóis de espuma. A chuva batida, vinda sabe-se lá de onde ensopa-a. Agarra-se. Bebe a água, e o sal, e o vento, e o dia.
Bebe. Bebe fundo, bem fundo. Como se lhe purificasse as entranhas em chaga. Sente um ardume, uma dor fina que se alastra que a envolve. Está viva! A sua maldição.
Esperam-na do outro lado. Sabe que a esperam. Sabe as regras do jogo que vai jogar. Sabe que tem a vida por um fio. Sabe o risco. Valerá a pena? Não teme porque nada tem. É livre de razão e coração.
Fica ali, parada em silhueta ondulante ao sabor do mar. A noite cai. O negro cobre-a. Mais um véu, de tantos que a vida a macerou. Porém, este agiganta-se na sua vontade, envolve-a no precipício do tempo. Um gesto, só um. Ei-la. Ali, vogando entre o céu e o mar, no rasto da liberdade, no amanhã renascido.
Mateso

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O tigre na sua jaula
(recordando e aproveitando Der Panther, de Rilke)

O tigre, dentro da jaula, sentia ao longe a batida das vagas contra o casco do navio.

Não estava assustado. Apenas triste por a cada minuto se afastar do seu mundo, da sua família, dos seus cheiros.

Aturdido com a ocilação do oceano e uma ou outra sacudidela mais forte, fechava os olhos e tentava entregar-se a Morfeu e ao esquecimento, e só raro abria a “silenciosa cortina das pupilas”.

Sentia, e sofria, a irreversibilidade da situação: deixara para sempre de ser soberano na vasteza ilimitada da savana, nunca mais correria contra o vento, desafiando a natureza e os outros animais. O futuro deixara de ser seu desde que caíra na armadilha do caçador.

Cansado e impotente, fechou o coração e desistiu.
Justine


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RECORDAÇÕES”
Nas praias da minha infância, em África, passei momentos de grande felicidade.
Naquelas areias corri, brinquei. Sonhei. Saltava para dentro dos barcos, arrumados junto às árvores, à espera dos pescadores. Os solitários encontram-se na praia, jogam futebol de praia, estendem-se ao sol e vivem os seus amores. Um dia, um tremendo susto, pois um tigre que tinha fugido do zoológico, corria pelas dunas. Um perigo enorme para todos, mas Deus é soberano e tudo se resolveu da melhor maneira.
Ao fundo, um navio espreitava, saindo do oceano.
Junto à janela, miro a solidão pendurada nos galhos dos cajueiros. É noite de luar; o vento move os moinhos nos prazeres do destino. No silêncio da noite ouve-se o suspiro de uma sereia na beira do mar. Olhar o céu e se arriscar pela areia da praia, vendo a lua, como quem está de partida. De repente, uma batida forte interrompe os meus pensamentos.
Diante da vasteza do tempo e da imensidão do escuro, é um imenso prazer para mim saber que estás por perto. Conheces o sabor das minhas lágrimas. Procuro o teu regaço. A cabeça deitada em linho macio, o cabelo enfeitado da luz do luar… Vem pois, Morfeu de mansinho, acalmar o meu sono agitado.
Uma oscilação forte no meu peito agoniado. Sinto a boca seca. Mas que situação tão estranha!!! Para quando um pouco de Paz, dentro de mim?
Na rua, filas de carros aguardam a passagem do comboio, que desliza velozmente. Perante a sacudidela do vento, as minhas roupas levantam-se e, envergonhada, afasto-me.
Dormindo, sou livre para sonhar!
Então, finalmente sorrirei.
Ester Afonso


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NO PROMONTORIO


Ao olhar a vasteza do oceano que me rodeia e que, hoje, é cruzado por grandes navios, recordo o nome dum grande português que habitou por estas paragens onde eu, agora, vivo, passeio e sonho.Daqui, homens corajosos partiram em pequenas embarcações, autenticas cascas de noz (simbolicamente falando), desafiando deuses e monstros habitantes desses mares soberanos que tornavam cada viagem dessa gente audaz, marinheiros feitos à força, arrancados à sua terra, numa verdadeira aventura.Os fortes ventos que obrigavam a uma oscilação constante daquelas pequenas embarcações, tornavam a situação daquela gente, dentro do pequeno espaço em que eram obrigados a viver, um verdadeiro inferno. Por vezes, o desespero era tanto, pela falta de alimentos, água, higiene, etc. que havia verdadeiras lutas de tigres pela simples obtenção duma côdea de pão ou uma gota de água.Quando a brisa proporcionava descanso e a nau balouçava-se em leves sacudidelas, a marinhagem podia, enfim entregar-se, por algum tempo, nos braços do Morfeu e usufruír de algum descanso. No entanto, a batida do seu coração, onde já não cabiam tantas saudades, era forte demais para ele ser completo. Tudo isto, eu recordo, sentada no Promontório da minha terra. Daqui, eu vejo grandes navios equipados com o que há de mais moderno em tecnologia naútica, transportando marinheiros e passageiros para essas terras longinquas desbravadas com tanta dor e coragem pelos portugueses do Infante.


Benó

domingo, fevereiro 15, 2009

Desafio à escrita sobre o anão que morava num sapato nº 32


Da amiga Cátia Azenha recebi o e-mail de que abaixo reproduzo a quase totalidade por ser do interesse de todos:





«Começará amanha a publicação das respostas ao desafio dos três anões, que pretendia que escrevessem (em prosa, ou não) seguindo a frase ou ideia:

"Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32."

O objectivo deste desafio era, para além de colocar as pessoas sobre um "assunto" comum, era "desconstruir" a lógica do pensamento, escrevendo sobre algo que não faz muito sentido. (...) Quero deixar desde já o meu agradecimento a todos os que embarcaram comigo e responderam a este desafio. Obrigada pela dedicação, pela companhia, pelo esforço e pelo gostar conjunto pela escrita.

A publicação dos textos acontecerá de forma semelhante à publicação do desafio "Rai's parta os sapos": Será publicado um texto por dia, seguindo uma lógica de chegada, para que todos possam aproveitar cada estória.

Quem acompanhou o primeiro desafio sabe que, embora comece a publicação já amanha, aceitarei textos até ao dia em que publicarei o meu texto, que será o último (não sendo isto um concurso, faz todo o sentido que não feche as portas a ninguém!). Por isso fica aqui o convite a quem ainda não teve tempo ou oportunidade de escrever, têm ainda uns diazinhos para mos enviarem...

Conto com a vossa companhia na leitura dos textos, assim como que para a publicação dos mesmos.»

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

as 12 Palavras para o 11º Jogo

E aqui estão as doze palavras para o 11º Jogo.
Os textos deverão, impreterívelmente ser enviados -data limite - até 22 de Fevereiro.
O Jogo das 12 Palavras vai bem e recomenda-se e tal deve-se à adesão de todas/os e à qualidade dos textos produzidos.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Convite e desafio - mais um e empolgante

Desafio feito pela amiga Cátia Azenha seguindo o mote:

"Era uma vez um anão que teve três filhos: O Becas, o Bicas e o Bocas. Este último era tão pequeno, tão pequeno que casou e foi viver dentro de um sapato nº 32."

Este é um desafio que pretende colocar-nos a escrever, puxando pela imaginação para uma situação menos lógica.
A criatividade é algo que se trabalha, desconstruindo a lógica que tentamos sempre colocar em tudo.
Esse é o objectivo: construir desconstruindo.
Este desafio está também a ser acompanhado, à distancia, por algumas pessoas com interesse sobre escrita... Estou expectante com o resultado. Fico a aguardar as respostas ao desafio para o email catiaazenha@gmail.com até dia 15 de Fevereiro.
Dia 16 de Fevereiro iniciarei a publicação dos textos no blog Ticho.
Vamos lá pessoal?
Por mim aceito o desafio. e agradeço o convite
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Nota informativa - cito a Cátia "Como alguns de vós saberão, em setembro / Outubro, considerando a responsabilidade social da Crioestaminal, propos-se a lançar um ebook com contos de natal escritos por pais,conhecidos e simpatizantes. Por cada conto recebido, entregaria 50€ à Casa do Gil. Quando tive conhecimento desta iniciativa, alertei alguns amigos que não podemos deixar de participar e entre todos, escrevemos 6 contos! No inicio de Janeiro, após tratamento e escolha, os contos escolhidos sairam no ebook. Estando este livro disponível na integra na internet, envio-vos o link onde poderão ler o resultado de uma campanha de grande sucesso por parte da Crioestaminal e com efeitos práticos.

domingo, fevereiro 01, 2009

aqui deixo o convite para a exposição da amiga Ester M.

A amiga Ester enviou-nos o convite para a sua próxima exposição de fotografia.
Aqui o divulgo a todas/os esperando que possam comparecer pois deve ser de grande beleza como se vê pela imagem que ilustra o convite.


E do seu blogue retirei este excerto informativo:

«"À Descoberta da Índia ao Ritmo dos Sentidos"Dependendo da vossa disponibilidade, tenho o prazer de vos convidar a "espreitar" a exposição.

Estará aberta ao público entre os dias 2 e 13 de Fevereiro no Posto de Turismo da Moita (apenas pode ser vista nos dias úteis) com possível alargamento por mais 4 dias, até 19 de Fevereiro/2009.

Passem a palavra, p.f.

O mérito é também do meu Padrinho de fotografia, que me levou ao Encontro de Oeiras em Outubro passado.
A exposição está já a ser anunciada...também aqui:
http://www.fotogenicos.net/site/index.php/topic,127.msg534.html#msg534e ainda em
http://nunoalexsousa.blogspot.com»