quarta-feira, março 25, 2009

o 12º Jogo das 12 Palavras - parte I

Há um ano, no dia 23 de março de 2008, lancei o desafio para iniciarmos este jogo (aqui deixo os links para cada um dos momentos iniciais desta colectiva e lúdica aventura).
A recepção e respostas foram boas. Assim, as 12 Palavras para o 1º Jogo foram aqui publicadas.

Iniciámos esta aventura com a postagem do 1º Jogo das 12 Palavras a X de X de 2008.

Quase um ano volvido após o 1º Jogo, outros 11 corridos e um livro produzido (com textos até ao 5º jogo) continuamos, creio que com prazer, de forma solidária, esta partilha.
De boa saúde _ como se pode ver pelas contribuiões enviadas _ fruíndo as palavras e os seus mútiplos sentidos.
Por mim dá-me prazer o desafio que cada novo jogo - com as suas 12 palavras - acarreta, bem como a partilha de imaginários.
Saúdo os novos participantes que vêm enriquecer o colectivo:
Agradeço às e aos amigos que se mantém empenhados com o entusiasmo de sempre.
Saúdo as e os amigos que por razões de suas vidas não têm podido colaborar como desejariam e espero o seu breve retorno ao nosso convívio.
Deixo o desafio para o 13º Jogo _ dar-me-ia e creio que a todos grato prazer contar com a participação de quem esteve presente no(s) 1º(s) _ comemorativo do 1º aniversário do nosso Jogo das 12 Palavras utilizando as 12 primeiras:

AMORTECIDA; AVASSALADOR; AZUL;CÉU; COMUNGAR; DISTANCIAMENTO; ERODIDO; FAROL; FUSÃO;IMENSO; MAR; TEMPESTADE.

Fica feito o desafio e proponho o seguinte calendário:

Envio de textos: impreterívelmente até 21 de Abril de 2009
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A respeito do livro "22 Olhares Sobre 12 Palavras" a amiga Eli Rodrigues sugere a data de 4 de Abril (não confirmada a 100%) para uma apresentação na FNAC de Viseu.
Face à total ausência de respostas a algumas questões, nomeadamente pedido de sugestões
e colaboração - relacionada com esta e outras matérias - não estou em condições de avaliar se valerá a pena o esforço da Eli. Necessitamos, ela e eu, do vosso retorno:
  1. Quem está interessado - ou não - que se realize esta apresentação em Viseu?
  2. Quem estará presente?

Por favor façam-me chegar as vossas respostas com a máxima urgência para que a Eli decida se estão ou não reunidas condições para avançar.

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Enviei-vos imagem da notícia saída no "Jornal de Poetas e Trovadores"







Não houve retorno ,
mas creio que a terão recebido...

á cautela aqui fica!



Passemos agora ao 12º Jogo!

Eis os textos recebidos:

beija-flor parece dizer
amor, palavra singela.
Mas nós sabemos quando tudo se embaraça
no desejo de excluir de tal sentido
a maldição, entre as vitualhas de cada devaneio,
e como então nos falta a coragem e a virtude da partilha.
Benjamim já fui,
com a simplicidade dos murmúrios aparentes.
Mas a ode que a família julga assim tecer,
dita com a flauta cujo som embala e anuncia
todas as fecundações da verdade,
não vence nunca o nosso medo secreto
que o desamor mate a flor
ROCHA DE SOUSA DESENHAMENTO
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eu, benjamim

sou Benjamim, filho mais novo de Jacob _ mais tarde baptizado por Deus, como Israel. dos seus doze filhos nasceram as doze tribos de Israel - ao que dizem seu filho dilecto, mas em verdade, José o era. minha mãe, Raquel, morreu ao dar-me à luz e suas últimas palavras foram o nome que queria dar-me: Ben- Oni. meu pai mudou-o para este por que respondo. nossa vida é regida pela simplicidade. o amor expressa-se em todos os nossos gestos. de uns para com os outros e para com a natureza e Deus que tudo nos dá. a verdade é um valor instilado desde o berço apreendido pelo exemplo dos mais velhos _ só pelo amor, pela verdade e pela partilha nos tornamos dignos da humanidade que o sopro divino em nós instilou. claro que o aprendizado da partilha também é uma necessidade para a sobrevivência da tribo e do clã. assim como a coragem. mas somos pacíficos. vivemos do pastoreio. eu sou pastor e tocador de flauta. alimentamo-nos de legumes e cereais, de leguminosas e do leite das cabras. com eles fazemos os queijos que duram mais tempo e colhemos os frutos que as árvores dão no tempo certo.
com estas vitualhas vivemos saudáveis e longas vidas. por vezes a dieta é enriquecida com peixes e muitos são fumados ou secos criando uma reserva para dias de carência. só em ocasiões festivas comemos carne, sacrificando um ou mais animais, mas para tal lhes pedindo permissão e perdão. as nossas mulheres cuidam dos filhos _ de todos _ pois todos somos uma unidade e confeccionam os alimentos e aprendem, desde crianças, a tecer os fios do linho, do cânhamo e a lã com que fazem as nossas vestes, mantos, mantas e demais panos necessários à protecção dos corpos face as intempéries. aprendemos o valor da poesia e construímos odes ao amor terreno e ao amor divino que nos criou e de tudo nos provê. o amor de uma mulher tem a leveza do beija-flor e faz florescer nossos dias quando nos enriquece com filhos. uma maldição se abateu sobre nós quando vendemos nosso irmão José aos ismaelitas por vinte moedas de prata. mais tarde estes venderam-no, no Egipto, a Potifar eunuco do faraó e chefe dos guardas. desde essa altura os cereais não medraram, os pastos secaram, assim como os poços.
TMara estranhosDias
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ODE ao AMOR
(de Maria para Benjamim)


Já que dizes que o amor é sã partilha,
então ganha coragem beija-flor:
Com simplicidade e com verdade,
duas vitualhas do dito bem-querer,
beija-me a mim, Benjamim.

Mais uma dança de encantar tu vais tecer
quando soprares da prateada flauta transversal
a melodia suave desta doce maldição,

Esconjuro que és
gravado em mim.
Aníbal Raposo
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A flauta toca a ode
que o Benjamim amor
diz voando tal como
o beija-flor
num acto de coragem
e partilha, a tecer
simplicidade
nas vitualhas do desejo
jamais maldição
e sempre verdade!"
Paula Raposo

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LINHA DE SINTRA
(Viagem de comboio)

Campolide era a estação preferida. Capa e nome de um LP de Sérgio Godinho, era a primeira logo a seguir ao túnel do Rossio. Segunda metade dos anos 40. Criança, extasiava-me sempre que andava de comboio, apesar de o fazer diariamente.
Com toda a simplicidade, achava que à janela, era o melhor lugar do mundo. A escuridão do túnel não me assustava. (A força e a coragem demonstradas por minha mãe ao levar-me todos os dias ao hospital para tratamentos, só as compreendi anos mais tarde).
Cruz da Pedra/Jardim Zoológico. Apeadeiro há muito desactivado, era o meu destino no 1º ano do ciclo. Perto da gare, um pequeno riacho, suficientemente grande para um banho completo, se, ao tentarmos a travessia, caíssemos à água. A técnica perfeita para não cair, era ir saltitando de pedra em pedra, apoiado numa das canas fortes que por ali abundavam. Um pássaro que já se habituara à nossa presença (beija-flor, ou parecido) era o complemento perfeito daquele ambiente.
S. Domingos de Benfica e a sua mata. De comboio ou a pé, Cruz da Pedra era perto, era para ali que íamos quando o intervalo das aulas era mais longo. Junto à mata, os Pupilos do Exercito, escola militar onde a partilha de ideais era muito importante.
Com o título pomposo de estação, Benfica era a preferida por todos aqueles, que naquela idade, tinham um amor profundo a um clube de grandes tradições.
Santa Cruz de Benfica , na verdade, era apenas mais um apeadeiro que servia um bairro simpático de vivendas (Muitos anos depois ameaçado por uma via rápida a que chamam Cril.
Damaia. Sempre a confusão com a Maia e as pessoas que lá viviam, ou eram da Maia…) Hoje, completamente remodelada e mudada de local, acrescenta ao nome a antiga Santa Cruz de Benfica.
Reboleira. Inventada por um construtor civil como chamariz para a venda de andares, nunca passou de uma construção iniciada e depressa abandonada. Como se uma maldição a atingisse.
Amadora. Muitos anos depois, tantos que se perdem na memória, passagem obrigatória por essa estação. Cansado do “ pára-arranca “ do IC 19, era ali que apanhava outro transporte que me levava ao trabalho. (Junto à paragem, todos os dias o cego que nos encantava tocando a sua flauta).
Queluz/Belas, sem referências de maior. Paragem obrigatória, era mais uma estação no percurso. Ver as pessoas que entravam e saíam era a única nota de interesse.
Barcarena/Tercena. Em tempos de boleia, era o local de embarque a caminho de Sintra. Antes da construção desenfreada de milhares de prédios e consequente movimento de pessoas, era possível ouvir-se música nos vastos campos em redor. E sonhar com uma ode perfeita para os nossos ouvidos…
Cacem/Agualva. Passada a fase dos estudos em Lisboa, interrompidos para começar a trabalhar, situava-se no Cacém a escola nocturna. Escola onde pensava começar a tecer o caminho para um curso superior. Que não veio a acontecer.
Rio de Mouro/Rinchoa e de nada me lembro.
Nas Mercês, a lembrança da feira anual. A sempre apreciada carne de porco frita (abusavam do pimentão…) e todas as outras vitualhas que nos enchiam a alma e o estômago. (Vim a saber, anos mais tarde, que era ali que ela apanhava o comboio a caminho de Lisboa).
Algueirão/Mem Martins. O primeiro grande dormitório a seguir a Sintra. Era nesta estação que o comboio enchia e deixava de haver lugares sentados. Recordo, no entanto aquela senhora com um bebé de meses (decerto o benjamim da família) que furando, pedindo licença, insistindo, se sentava sempre no mesmo lugar junto à janela.
Portela de Sintra. Apeadeiro construído após a expansão da Vila para os arredores.
Chegou a ser o meu local de entrada e saída, quando, a estudar à noite no Ateneu em Lisboa, o utilizava seis vezes por dia. Durou apenas seis meses, a aventura.
Sintra. Com a remodelação total das estações, Sintra como destino final dos que vinham de Lisboa, perdeu todo o encanto. Hoje, a estrutura lá erguida, já não deixa ver, em toda a sua grandeza, o Castelo dos Mouros lá no alto. Mais funcional é certo, deixou de ser o ex-libris da linha de Sintra.
Zé-viajante
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amor in

ai amor de beija-flor
partilha de vitualhas
lareira com acendalhas
maldição de querubim
vem a mim
ai vem a mim
diz-me que sim
benjamim
que sem ti eu fico assim
como flauta sem coragem
verdade de fraca aragem
a tecer simplicidades
em ode feita às cidades
com pós de perlimpimpim
ai amor
dá-me por fim
esse sim
de uma paixão
… ou então
dá-me um não!
Jorge Castro
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Alma Perdida

A sua alma vagava sobre os penedos, rugindo atormentada, para todo o sempre amaldiçoada...
Olhava com arrependimento para a sua vida passada,
Vida essa onde a luxúria imperava e o amor era negado,
Uma vida onde o som das flautas soavam toda a noite, acompanhadas de odes a Baco.
Desejaria de ter tido a coragem de ter vivido uma vida de simplicidade,
Mas as luzes luxuriantes e manipuladores da noite eram como vitualhas para a sua alma.
Desejaria de ter partilhado o seu leito com alguém de verdade,
e tecer esperanças e um amor puro,
Mas a sua alma era como um benjamim mimado sempre sedento de caprichos,
Era como um beija-flor bebendo do néctar de diferentes flores.
Só lhe restava agora olhar para este passado com amargura
E passar o resto da eternidade mergulhada num sombrio agrilhoamento.
Mac silence..

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ode à vida

na simplicidade de seu viver, com alegria e coragem, o beija-flor tece uma das mais belas odes á vida quando, de flor em flor, recolhe as vitualhas que lhe são alimento enquanto em toda a natureza, da flauta de Pan, ressoa um cântico de amor – o benjamim da vida. seu filho dilecto. fonte de tudo o que existe - e verdade onde a partilha é a lei maior. tão poderosa que não há maldição que logre inverter este ciclo,mau grado as sucessivas rupturas criadas.
Amla - fragmomentosii

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Ainda em vida
Toquei na velha flauta,
cantata liberta de longos véus
escuros.
Já não há maldição;
espantaste todas as vitualhas,
todas,
pelo meu salão escuso.
Amor?
Fugidio,
nem se lhe sentiu a sombra,
nem simplicidade naquele olhar,
escorregadio de coragem,
em renúncia.
(…)
Ode à orquídea!
Ao beija-flor que a resgata,
entre dois sulcos de brisa!
No redondel do olhar,
foi tão só um benjamim
ascenso de si,
apenas,
naquele meu salão escuso.
Partilha a tua boca, apenas.
Tecer frases feitas
é um caminho de tortura,
sem bermas.
Verdade sem tristeza,
por onde, vida, nos levas,
em melodias de trevos e vielas?…
Jaime A.
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A UM AMIGO

Amor rima com beija-flor.
Talvez estas duas palavras sirvam para os poetas e poetisas deste jogo puderem comporem os seus poemas e pensarem um pouco na simplicidade do seu impulsionador. Ele, que viveu algum tempo e por vontade própria, em recolhimento e, agora, se encontra junto dos seus benjamins, cheio de coragem para suportar o frio das terras do norte de outro continente deixando em esquecimento a nossa velhinha Europa.
Na verdade, a partilha da sua amizade, por nós todos, é gratificante e entra nos nossos corações como os sons duma flauta mágica ao tecer suaves acordes numa ode ao nosso conhecimento mágico e virtual, proporcionado por este jogo interactivo que, não será só de 22 olhares mas sim, de todos e para todos que queiram participar e, afastar, não direi maldição mas, o mau juízo que muitos fazem, dos contactos e amizades, via Internet.
Espero que, este amigo comum, tenha levado para o jovem continente de índios e cowboys, um pote bem cheio de vitualhas para repartir com os seus familiares, pois assim poderá matar saudades do nosso velho cantinho europeu enquanto se delicia no degusto bem apaladado dos comeres minhotos
Benó

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O espelho reflecte a harmonia de formas apetecíveis,
vitualhas de prazer que só quero partilhar contigo.
Deixa que te olhe e percorra a verdade que é o teu corpo.
Ouve os batimentos acelerados de quem deseja.
Toca os teus lábios nos meus como um beija-flor,
que sorve o néctar doce do absinto.
Sente o ardor do nosso beijo sôfrego e descontrolado,
que nos faz tecer longos mantos de coragem.
Escuta o amor que nos une,
como uma maldição que não queremos que acabe.
Partilha comigo a simplicidade de uma ode,
tocada à flauta por um benjamim qualquer
José Rios

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Beija-flor trinou batendo as asas num repique de graça. Poisou devagarinho no cardeal cor de ciclame e olhou em redor. Beija-flor descansou.
O sol escorria numa quentura morna de sentidos. As folhas verdes gotejavam de brilho. O ar colava-se ao corpo.
Naquela hora, a modorra visitava a natureza mais o homem. Porém beija-flor continuava trinando, a melodia chegou no vento à casa amarela. Clarisse deitou a perna cor de canela para fora do lençol. Rolou a carne na tepidez do ar. Salivou os lábios túrgidos, pestanejou, bocejou e botou o braço para fora. Depois apurou o ouvido. O trinado do beija-flor picou-lhe a orelha.
Beija-flor tinha voltado. Era tempo de amor.
Dengosa enrolou as pernas rebolando as ancas. O gesto destapou uma ode de canela perfumada e palpitante. Faceira agitou os caracóis apertados que teimavam em tapar-lhe o olho de veludo. Estendeu a vista por baixo e gostou do que viu. Mulata boa e tenra. Ela sabia. O corpo pedia e o desejo subia.
E beija-flor trinava.
Cobriu o corpo lindo com vestidinho de alcinhas. Algodão vermelho macio. Sozinho, assim em cima da carne. Uma simplicidade feita beleza.
Enfiou os pés nas chinelas e saiu para a rua. O desejo mole alagou-lhe os seios. Uma coceira redonda. De cima para baixo, e, de baixo até cima. Um zumbido sem tino.
Bateu o portão do quintal. O calor envolveu-a ainda mais. Um treme-treme a ardejar-lhe o corpo. Clarisse zonzou. Deu um passo, mais outro e o requebro de anca tomou conta dela. Gostou.
O beija-flor a trinar e Clarisse a menear.
Vai mato dentro. A melodia chama-a. Beija-flor é o seu maestro.
Bilhó mulato escorreito está jardinando. Vê Clarisse no vestidinho vermelho descendo a rua e dengando a cada passo. Não despega olho, não. Aquela moça tem mandinga. Aquele meneio de canela abrasa-o. Clarisse vai já longe. Levanta-se, deixa o sachinho mais o balde de lado. As flores que esperem. Ele tem que ir colher aqueloutra flor. Já na rua, estuga o passo como se fora gato esticado. Pé aqui, pé ali, na pegada do feitiço de canela. O sol ateia-o ainda mais.
E beija-flor a encantar,
Clarisse ouve cada vez mais perto aquela flauta de trinados tão puros. Parece som de prata a cair na água. Tão lindo! Tão lindo que até dói. E o calor que alaga o corpo. Sente as coxas molhadas. Espreita por dentro do vestidinho de alças. Tudo parece maior. Cresceu. Sente a cabeça a rodar. Olha em volta e de revés. Vê mulato Bilhó. Rapaz bonito e enxuto.
Gosta.
Sente o latejo do seu corpo de canela. Olha-o de soslaio. Espicaça-o. Freme. Pára. Corta um cardeal da sebe de Dona Letinha. Mexe na flor, acariciando o estame erguido. Passa-a pelo rosto olhando para trás de olho bem aberto, lança uma gargalhada. Ai, que ele vem vindo. Ai!
Beija-flor continua trinando e Clarisse dengando.
Aquele tecer insinuante de sentidos faz a coragem de Bilhó subir como se fora balão redondo escapulindo da mão de menino. Estuga o passo. As pernas ágeis desentorpeçam os passos da distância. E chega-se por trás assim devagarinho. Passa-lhe a mão na nádega que adivinha firme e de jeito coloca-se a seu lado.
Sorriem. Olho no olho. Há a luz do desejo. a verdade não tem palavras. Tem gesto.
Dão as mãos. Os braços balançam ao ritmo do andar. Bamboleado em jeito de partilha. Um bater de asas contínuo como se fora beija-flor.
A acácia está florida, o cheiro enreda mais. Clarisse encosta- se ao velho tronco. Defronte beija-flor pipila sobre a folha verde da samambaia. Parou agora. Parece que os está mirando. Bate as asas, assim, sem parar. São as asas de beija-flor ou as mãos de Bilhó num desatino na sua carne de canela?
Suspira fundo, de prazer e fecha os olhos.
Clarisse não sabe mais onde está. Tudo rodopia. O sentido do mundo gira no ventre de canela. A maldição de mulher no suspiro do prazer, fá-la estremecer. Que gostosura, que mundo de sentir. Bilhó é macho possante. Dá-lhe o prazer da vida no reboliço de um vai e vem. Clarisse geme e geme. Trinado de mulher. Pipilar de fêmea. Primícias
Na árvore beija-flor humedeceu. Está quedo. Os olhos mais a cabecita movem-se irrequietos.
A música mudou. Cicios de mulher em pauta de sentir.
Beija-flor pia solitário.Logo, logo, um outro e mais outro…e ai, outro ainda, soam em redor.
Pipilo ou cicio? Beija-flor ou Clarisse?
Confusão!
Sob a acácia as vitualhas do prazer jazem em silêncio. Escuta-se o segredo da tarde embrulhado num trapo de sentidos já contados. Clarisse sonolenta de gozo, estende a mão para o rosto de Bilhó. Interlúdio de carne. Estrofe de som.
A samambaia estremece no seu verde. Beija-flor saltita. Um toque aqui, outro ali. A carícia de uma asa. Um esvoaçar permanente. Uma íris de cores. Beija-flor está feliz.
Beija-flor ou Clarisse?
Pássaro ou mulher? Pipilo ou cicio? Quem sabe? Quem ouviu?
Gente não foi.
Na casa amarela a tarde acordou. Clarisse sentada no banco da cozinha descasca o feijão. Ploc, ploc e o grão vai caindo na bacia azul. E a bacia vai enchendo, enchendo tal como o devaneio de Clarisse.
Algures um beija-flor, um benjamim de ilusão vai esvoaçando…
Mateso -Artmus

terça-feira, março 24, 2009

12º Jogo das 12 Palavras - parte II

AVISO E EXPLICAÇÃO
Como informei nos comentários na 1ª parte, tenho tido dificuldade em aceder ao Blogger/blogue e colocar os últimos textos.
Hoje estou a conseguirMAS não consigo colocar os links aos vossos blogues. Irei tentando e creio que será colmatada esta questão.
Obrigado.
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fui o benjamim de uma família de sete filhos. dizia a voz do povo que o sétimo filho de uma família de sete irmãos carregava consigo ou uma bênção ou uma maldição.
assim mantinham-me à distância. evitavam que os seus filhos brincassem comigo desconhecedores de qual a carga que transportava.

a coragem é um dos lemas inscrito no nosso brasão, juntamente com a simplicidade na forma de viver em verdade. de coração limpo. a flauta a nossa arma dilecta. com ela tecemos odes à vida e ao amor que partilhamos com amigos e vizinhos, assim como as vitualhas que cada um coloca sobre as mesas comunitárias.
no dia a dia a minha vida estava restrita ao convívio com a família dado o receio que os restantes tinham daquilo que eu transportava. passava assim muito tempo só. cada um tinha tarefas a cumprir em prol da comunidade.
sendo o mais novo não entrara ainda na distribuição de tarefas o que se mostrava complicado não só pela idade, mas pelo facto de ter que conviver com pessoas que me receavam. ninguém me tratava mal mas respondiam-me laconicamente mantendo grande distância física e afectiva entre mim e eles. os meus pais explicaram-me as razões. os avós contaram-me histórias de outras pessoas como eu que se tornaram grandes heróis. referenciais da nossa história.
nada disto aliviava a dor pelo comunitário ostracismo passivo que redundava num grande isolamento maus grado o esforço de toda a família.
partia campos fora a observar os animais e as plantas. conhecia os ninhos das aves, as tocas de outros animais e via as plantas crescer, quase ao milímetro. identificava as aves pelo voo. Conhecia-as pelo seu canto e pela coloração das penas. Os beija-flor fascinavam-me. esquecia tudo e ficava horas a observar o seu voo. a velocidade das asas a bater quando com os seus longos bicos recolhiam o néctar das flores. conhecia os rituais de acasalamento de dezenas de animais, reproduzindo quase integralmente as belas coreografias de cada um.
cresci feliz, apesar de tudo, e hoje sou um artista. o bailado e a coreografia a minha área pelo que agradeço a todos o isolamento a que me votaram pois permitiram-me intensa e minuciosa aprendizagem pela observação dos movimentos dos animais assim como dos ondulatórios movimentos das plantas tocadas pelas mais leves brisas ou quase arrancadas por fortes ventanias. fazia um jgo de observação e imitação que agora expresso em bailados que os críticos consideram imorredoiros na nova estética e me merecem unânime aplauso.
Eremita
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santuário

vivia Mário, o benjamim, o sétimo filho da família, com grande simplicidade e a leveza do beija-flor uma vida de amor e partilha tecida na verdade dos sentimentos e na coragem de os expressar. do riso ás lágrimas sem falsos pudores.
de madrugada partia a pastorear as ovelhas e enchia os dias com odes compostas na sua flauta de cana feita segundo a forma ritual ensinada pelo pai e passada de geração em geração desde tempos perdidos na memória familiar.
no bornal transportava as vitualhas que o alimentariam. a água bebia-a fresca pelas fontes, num cocharro pendurado à ilharga.
mas na vida de Mário havia uma mágoa que nunca o largava e que ele aprendera a manter soterrada pela paz e harmonia de seu viver. uma maldição que o levara a isolar-se. a distanciar-se dos outros humanos e das grandes massas habitacionais e humanas. o seu cérebro funcionava como um radar captando os pensamentos e sentimentos de quem o rodeava. tal situação era um fundo poço de insuportável dor.
TMara/ Multiply

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Benjamim- pássaro selvagem

Benjamim é um beija-flor, um pássaro selvagem, um pinga-amor.
Ele não sabe, mas partilha de uma maldição, comum a variadas maldições, que não o deixa parar em ramo verde. Desconfia, apenas, de algo trágico e eminente, pululando em seu redor, nos sons melodiosos de uma flauta. E essa música deixa-o receoso. Todavia, não se atreve a criar coragem para escutar, com atenção, a voz do vento. Desse modo, fica sem perceber bem de onde sopra o toque e o que quererá dizer essa ode.
Por um lado, uma verdade portátil borbulha no seu cérebro de pardal de telhado; por outro uma simplicidade volúvel fervilha no seu bico carregado de néctar e pólen de flores - vitualhas imprescindíveis à sua sobrevivência.
Ainda assim, a sua natural rebeldia, aliada à desconfiança de que algo não está bem, levam-no a tomar providências no sentido de tecer um ninho seguro, que o proteja de contratempos. Mas, apesar de tudo, continua firme na convicção de que será sempre um pássaro selvagem.
Fa menor

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Apaziguando-me


No horizonte o sol declinava
Partia
Levando consigo
A maldição
Que pairava no ar...
O benjamim
Tocava flauta,
Uma ode ao amor,
Partilha da sua
Simplicidade.
E, no fundo de mim
Sentia tece a verdade,
Vitualhas
Da minha coragem,
Acalmia da minha inquietude
Enquanto o beija-flor
Partia também com o sol...
Elsa Sequeira

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Entontecidos e acuados
deambulam pelos telhados
em magnética invisibilidade

São vozes derramando vitualhas
em odes de tempestade
tacteando a flauta da verdade

Dizem: maldição, incongruência!
Dizem: da menina-larva,
do benjamim precoce,
o aclarar a demência…

Olvidam que é hora do amor,
da partilha em simplicidade
qual sublime beija-flor
a tecer partituras de humanidade
com a coragem e vigor

que na natureza de nós
em ternos laços
nos dança
Amita

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Pescador de sonhos

Ele era o benjamim companha daquele barco, fonte do seu ganha-pão
Tinha a coragem necessária para enfrentar todos os mares alterosos, raivosos, medonhos, habitados por gigantes que seriam o temor de qualquer pescador mas não dele.
Na simplicidade de homem do mar passava as suas horas de folga a tecer as malhas da rede que seria lançada pelos braços fortes dos seus camaradas, para a captura do peixe que, em partilha igual renderia o mísero sustento de todos.
No vai-vem da agulha de emalhar sonhava com o amor da mulher que estava em casa, sempre fiel e à sua espera, para o cobrir de beijos, tal como o beija-flor fazia todas as primaveras quando visitava a roseira vermelha plantada por si, junto da janela da cozinha.
No seu sonho de homem do mar apaixonado, havia o desejo de ser poeta.
Gostaria de fazer versos, talvez sonetos como o Camões ou ode(s) que ele, na verdade, não sabia muito bem como era, mas lembrava-se de ter ouvido a professora falar qualquer coisa sobre isso nas aulas nocturnas.
Também sonhava ter uma flauta para tocar nas noites de Inverno durante o defeso, para não ouvir o vento zunir nas frinchas das portas como uma maldição.
Faria lindas musicas e versos que falassem do amor para a mulher cantar, naquela voz doce que só ela tinha.

O chamamento do mestre da tripulação despertou-o do devaneio em que se encontrava. Era a hora da refeição e como não tinha havido captura de pescado, iriam comer as vitualhas que sempre existiam a bordo para suprir as falhas do mar.
Isto não era sonho mas a realidade dum pescador sem pesca.
Benó

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Romã...romã...

quatro letras iguais, ao contrário, a primeira amor
Romã fruto belo colorido, procurado por beija-flor
Por fim em Roma antiga haveria um benjamim
Um guerreiro forte, valente e com coragem
momentos de descanso ouviria flauta
Sendo estes só conturbados pela maldição
Acompanhado pela lira entoava o canto de uma ode
E teria também seus momentos de partilha
Onde porventura se destacava a sua simplicidade
Contrastando com as armadilhas que teria de tecer
Mas procurando, talvez, sempre a busca da verdade
E no final o banquete com as suas habituais vitualhas
belisa

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entre os sonos, recolho as vitualhas
que hão-de ser o pasto fino da verdade
entrelaçar de ilusões, no tecer de uma ode
ao amor, ao beija-flor, às rosas.

E lembro o homem velho, na simplicidade do lar,
narrando ao menino a história eterna da flauta
do zagal, levando a maldição longe de Hamelin.
E moldando a infância do seu benjamim
lhe conta da palavra dada e não cumprida de partilha.
Diz-lhe da coragem inumana do flautista – a justiça
dente por dente – que rouba então cada lar a alegria, o riso,
a vida, num castigo atroz sem remissão.
jawaa

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Isabel tira partido de toda a beleza da planície alentejana, dos horizontes que se estendem pelos campos, da tranquilidade dos dias passados à beira da piscina, do prazer da leitura no jardim, dos momentos de reflexão e inspiração no miradouro, das searas a perder de vista, das varandas e da beleza de um pôr-do-sol no terraço. Para Isabel todos os requisitos propícios a intensos momentos de amor.
No seu passeio matinal encontrou um beija-flor picando uma papoila. Desceu a planície e ouviu uma doce melodia, ficou surpreendida pelo João, o BENJamim da família tocando flauta.
Aquando da chegada da Primavera, os dias brilham de uma forma diferente, convidando à partilha de momentos inesquecíveis; a verdade é só uma: ali os dias são passados de forma agradável entre passeios e descanso, não há correrias e preocupações, Isabel dá-se ao luxo de tomar o pequeno-almoço às 11:00h.
Aproveita a vista para a piscina enquanto saboreia o delicioso pequeno-almoço confeccionado com produtos regionais e onde o pão caseiro não pode deixar de estar presente. Acompanha com queijo de ovelha, presunto ou enchidos alentejanos. Prova também as frutas da época, que encontra ao natural ou sob a forma de compota ou sumo. A simplicidade da sala, onde costuma deixar-se embalar numa cadeira de baloiço, convida ao descanso e ao convívio, em diferentes momentos do dia.
Numa noite de Abril, um grupo de pessoas reúne-se à volta da mesa e, contam histórias de outras vidas, onde a maldição aparece numa ode mágica, com a devida coragem de não se assustarem. Uns e outros costumam tecer considerações acerca de temas arrepiantes. Já vencidos pelo sono, pedem vitualhas antes de voltarem aos seus quartos, onde pernoitam, para de manhã cedo seguirem um percurso que os levará a destino incerto.
Ester.A.

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Fora


Não me venhas mais com desfiles de palavras ocas. Vou libertar-me numa ode sem fim, onde a simplicidade e a partilha me exijam. Precisas de tecer mais poemas de verdade e menos vitualhas. Não vou ouvir o som daquela flauta, onde o teu cheiro penetra em mim como uma maldição. A coragem fez-se à estrada e encontrou uma nova terra onde pernoitar, uma vez mais, uma vez mais. Por seres o benjamim de uma família redonda, tornaste-te um beija-flor que anda de poiso em poiso a enganar com o seu amor!
Eli Rodrigues

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Paixão

olho para o tempo
e sei-me benjamim.

alguns dirão que sou jovem,
demasiado jovem,
para tecer na flauta uma ode ao amor.

como se a partilha só surgisse pela experiência,
estão convictos da sua verdade.
desprezam a simplicidade!
e não tem a coragem de o assumir.

talvez o incandescente seja uma maldição?
para alguns …
para outros, meras vitualhas.

para mim?
o tempo é beija-flor em paixão.

VFS - do Inatingível e outros Cosmos

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O Deus Pã com coragem e amor
Partilha qual benjamim a simplicidade
Procura tecer com flauta como beija-flor
uma ode, meras vitualhas e o encontro da verdade
exorcisando a maldição com alegria e sem dor.
Álvaro das Caroleiras

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Ele era o benjamim do mundo dos Gnomos...tinha composto a ode mais bela que algum dia já se ouvira...mas, na sua simplicidade...tinha medo de pegar na sua flauta...e tocar naquele jantar, para que fora convidado a tocar, onde as mesas repletas de VITUalhas, eram ocupadas pelos gnomos mas sábios da comunidade....além disso, uma maldição pairava no ar...o último gnomo que o fizera...tinha deixado de saber tocar e compor, vivendo agora envolto em tristeza.

Entregue aos seus pensamentos, sentou-se debaixo de roseiral...onde sem ele se aperceber...um lindo beija-flor se deliciava com o néctar de uma das rosas... vendo a tristeza do gnomo...perguntou-lhe o que se passava...o gnomo contou-lhe...e a verdade era que lhe faltava coragem...para o fazer.

O passarinho bateu mais as suas asas...segredando ao seu ouvido...disse-lhe que seria fácil....apenas tinham que tecer o seu plano....depois bastava partilhar com amor a sua música maravilhosa!!
E, assim foi....o gnomo nessa noite tocou maravilhosamente, encantando todos os presentes...que extasiados o aplaudiram em pé...no fim, o bater de asas de seu amigo roçou seu rosto, deslocando uma brisa com cheiro de rosas.
Clarinda Galante

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Amor, amor é partilha, companheirismo, cumplicidade, tolerância, verdade… amor é uma palavra hoje banalizada e difícil de pronunciar com verdade e sentimento. Para amar é preciso ter coragem porque amar é sofrer. O amor faz parte da vida, mas por vezes parece mais um sofrimento, uma maldição e não uma dádiva a que se tem direito. Há quem por amor aceite umas vitualhas tal a necessidade de se sentir amado e desejado . . .
Maria foi andar pelo campo para espairecer, pensar no seu grande amor problemático, repara na simplicidade de um beija-flor quando aborda uma flor e suga o seu néctar e dessa visão quase lhe nasce uma ode à vida.
Para completar essa bela paisagem que a ilumina e ajuda nos seus pensamentos amorosos, descobre mais um elemento que avista nas colinas, um pastor conduzindo o seu rebanho, repetindo diariamente esse gesto mas, parecendo feliz, tocando a sua flauta, o benjamim de uma família imensa em que todos sorriem. Eles amam-se do seu jeito, amam a terra, amam os animais, a natureza...
A Maria regressa com a alma cheia de esperança, purificada de mente, novas ideias e vontade de tecer argumentos com o seu bem amado.
A sua lareira crepita, pega numa chávena de chá e pensa...como a vida seria bela se o amor imperasse, a partilha, a simplicidade, a verdade...e aguarda a chegada do seu amor.

mj/skuba

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Exaustos, imundos e sequiosos partilhavam irmãmente os poucos víveres que sobejaram e sentiam-se agradecidos pelo pequeno pedaço de pão, seco e bolorento, como se tratasse de vitualha digna de reis.
A fome e a sede eram suportáveis a estes habituados à frugalidade, habituados à simplicidade e à privação de sono e conforto.
A necessidade de se manterem atentos e despertos não lhes permitia dormirem; o ódio pelo inimigo e o desejo de vingança mantinham nestes homens a coragem e o vigor semelhante à dos heróis cantados em odes e epopeias.
Junto aos feridos e moribundos um mancebo, criança ainda. Chamavam a este benjamim, pela sua ainda resistente beleza e infantilidade. Tocava uma flauta; sons da sua terra, de sua casa, sons de saudade e de esperança. Contrastavam estas inebriantes melodias com os gritos e gemidos de dor, dos decepados, dos mutilados, dos esventrados, daqueles que perdiam o seu sangue e impotentes e desesperados, aguardavam em agonia arrepiante e assustadora resignação a chegada da morte.
Os mais velhos e experientes, contavam com entusiasmo exagerado e falacioso desta gente à guerra usada, históriasNegrito de aventuras e desventuras, de batalhas, glórias, de mulheres e seus encantos, de paixão, de amor, de bravura e valentia sem par e sem igual, falavam de honra e de vitórias.
Alguns, mais devotos, oravam aos Deuses, suplicavam por sucesso na batalha que se adivinhava, invocavam protecção divina, entoavam cânticos e invocações mágicas, ancestrais; sobre o inimigo pesada maldição se abateria. Por esta fé, verdade insuspeita e inabalável, todo o medo desaparecia e ganhava força o desejo de matar; de viver.
Aproximava-se a hora, brevemente se iriam ouvir os sons das trompetas, sentir-se o peso das armas e frágeis armaduras. Os generais preparavam o embate final, jogando com a vida de seus subalternos, teciam planos de combate, decidiam quantos a sacrificar e dividiam entre si o possível espólio da vitória.
O dia nascerá mas sem que se ouça o canto das aves, fugiram para longe em direcção à paz…a última que se viu era um beija-flor.
António Rios

domingo, março 08, 2009

as 12 palavras do 12º Jogo


E as 12 Palavras são estas:
Amor - beija-flor - benjamim - coragem - flauta -maldição - ode - Partilha - simplicidade - Tecer - Verdade - vitualhas.


Cá espero os vossos textos, prosa ou poesia, o mais tardar até dia 25 do corrente. Lembro a todas e todos as/os participantes que deverão enviar os textos com as 12 palavras obrigatórias em MAIÚSCULAS. Não a cores, não a negrito, MAS destacadas em maiúsculas.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

11º Jogo das 12 Palavras - 1ª Parte

Amigas e amigos, eis o belo e rico conjunto de textos deste nosso 11º Jogo das 12 Palavras, tripartido .
No mês de Março teremos, segundo a aritmética, o 12º mas não corresponde ao 1º Aniversário do Jogo dado no início este se bi-mensal.
Mas será próximamente e agradeço que enviem sugestões para festejarmos condignamente o 1º ano de edição, ininterrupta, do Jogo e publicação do livro "22 Olhares Sobre 12 Palavras" .
Grato pela vossa continuada participação.
Boa leitura.
O soberano tigre
de morfeu navio,
uma sacudidela
afasta dentro do oceano
qualquer oscilação
e o vento vasteza
não altera a situação
desta minha batida.
Paula Raposo
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Acabo de libertar-me dos braços de Morfeu,
acordo dentro desta espécie de navio,
que é barco ou barca,
que construí com as minhas próprias mãos,
transporte da faina batida na foz deste rio
e bojo movente para turistas ou gente assim.
O oceano ainda está longe das margens baixas
mas sinto o vento marítimo avançar,
uma oscilação, uma sacudidela,
situação habitual quando as águas oceânicas
embatem nas águas fluviais.

Ao começar a desenrolar os meus apetrechos
para pescar navegando à vista da costa,
sinto em redor a vasteza que se estende até ao deserto
e de súbito descortino,
atento, hirto, soberano,
a figura de um tigre,
só e forte e frio,como sentinela de um território de ninguém.

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das palavras

foi assim sem tirar nem por. num pé de vento fiquei a ver navios, ou Braga por um canudo. o que, sendo coisa diversa, vem a dar no mesmo. as 12 palavras são assim tão diversas e, ao mesmo tempo algumas tão semelhantes, sinónimas ou quase, que me deixaram nesta situação. que um oceano é uma vastidão ou uma vasteza de água salgada a perder de vista todos sabemos assim como sabemos que uma batida pode provocar uma 0scilação sendo que a inversa também é verdadeira ou pode também provocar uma sacudidela. depende daquilo em que bate e do que está dentro ou da sensibilidade do que lá se encontra. a escolha depende da pessoa e esta é soberana podendo pois usar o termo que mais adequado achar para transmitir um sentimento ou uma emoção. assim, uma "oscilação" emocional pode fazer tremer os alicerces de alguém e essa pessoa dizer que ficou…"batida". ou, um condutor distraído, incauto, pode dizer que deu uma "batida" quando o seu carro foi contra outro veículo. uma pessoa sovada pode usar o mesmo termo "batida" para dizer que foi sovada. se um brasileiro tomar um batido de frutas pode usar a palavra no feminino e lá vem "batida" num outro contexto. se estivermos a ouvi um fadista e este for soberbo, excepcional, ouve-se no meio dos aplausos: ahhhh tigre! a que propósito, se o fado é coisa de país de brandos costumes e onde este felino não existe desde tempos imemoriais? isto presumindo que na evolução da terra e das espécies, quando havia um só continente, por aqui pudesse andar. ou os seus antepassados… se o fadista for mau o melhor é recolher a penates, ou seja, a casa, e aos amorosos braço de Morfeu. vão por mim…

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Asas são para voar

Longe vão os tempos em que eu voava com Morfeu. Já não sou aquele gavião de asas doiradas… deixei que elas fossem violentamente arrancadas por uma nortada… caí. Embati tão forte dentro de um navio à deriva que quase lhe causei um rombo.No fundo dos meus olhos quase se extinguiram as labaredas que os faziam brilhar. No lugar desse lume que me aquecia, o vento passou a ser o soberano, aquele que dita as leis e transforma em aridez tudo aquilo em que toca. Cada sacudidela, cada oscilação deste barco que me aprisiona, causadas pela fúria das águas do enorme oceano que me volteia, provoca em mim uma vasteza de um nada, que eu almejaria que fosse um tudo. Por isso me transformei num tigre assanhado, que ruge e arranha, numa tentativa desesperada de despertar uns sopros de uns olhares, por muito fugazes que sejam, que me venham atear os resquícios das fogueiras que um dia arderam em mim.Eu sou apenas eu e a minha situação.Mas ao longe, bem ao fundo de um tempo que parece breu, uma batida me faz estremecer e acordar. São as asas de latão que vêm ao meu encontro. Afinal, Morfeu ainda não me abandonou, não desistiu de mim. Começo a perceber que ele jamais deixará de me chamar a voar!
Fa menor

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Um Morfeu eticamente irrepreensível
Evocação a
Francisco Torres, do blog Anomalias que, em homenagem ao seu gato, assumiu o nick name de Morfeu

Que raio de ideia aquela do passeata pelo oceano em meio da tormenta de Verão, que de tão anunciada, nem podia ser considerada surpresa. Vá lá que não custa nada, uma horita na travessia até às Berlengas, nem dá para o enjoo! E há que tempos não vou lá, espraiar a vista pela vasteza do mar alto, com aquele sensação única de quem tem os pés assentes numa ilhota, terra firme mas diminuta, em falésia que, ao simples abrir de braços, é rampa de lançamento de sonhos voados, qual albatroz de partida para a imensidão…

Mal os pés postos no barco, navio de brinquedo, que faz a travessia a partir de Peniche, já a oscilação, ainda que ténue, do porto de abrigo o deixara algo suspeitoso. Mas o vento fresco e a manhã de sol risonho com promessa de dia da aventura possível, varreram uma hesitação que pressentira, à flor da pele.

Dentro da sua enorme mochila de caminheiro, embrulhado com a merenda e o equipamento fotográfico, o seu companheiro de todos os dias, o gato Morfeu, cuidadosamente camuflado e abafado, como passageiro clandestino que se preza, fartinho que estava o seu dono de saber da rigorosa proibição de invadir a ilhota com bicharada doméstica ou por domesticar. Ainda para mais com um tigre daqueles, habituado a fazer razias nos pombos e pardalada dos jardins por onde vadiava.

Mas, que fazer? Deixá-lo onde, com o preço que pediam para alojamento da bicharada? À solta? Nem pensar, que a vizinhança andava atiçada pelas tropelias e mortandades do Morfeu e o mais certo era darem-lhe conta do canastro. Em casa, dir-me-ão. Impossível, pois albergava temporariamente uma velha tia felinofóbica, em deslocação à cidade para uma improvável cura de mal de pulmões, ainda por cima…!

Como no mais e, particularmente com ele, o bichano era de uma doçura e de uma moleza de causarem espanto, decidiu-se por aquela pequena prevaricação ou infracção aos seus códigos de ambientalista convicto e militante, confiando que a proverbial sornice do bichano, acomodado no ninho que congeminara, facilitaria a aventura.

Pé no barco e primeira sacudidela de mar, logo se apoderou dele a sensação de que a viagem não lhe iria correr de feição. A torrada matinal, misturada com o café com leite, interrompeu a sua marcha ordeira para onde a natureza a encaminhava e deu início a uma penosa regressão, que lhe encheu o corpinho de arrepios.

E assim decorreu a travessia. Batida de mar no barquito e carga ao mar regurgitada pelo nosso herói, sacudido por convulsões espasmódicas, para gáudio de alguns e repugnâncias da maioria, já nem falando do seu espanto pela aparente capacidade de multiplicação da torrada, que parecia nunca mais acabar, dando substância ao seu tormento.

Já perto do embarcadouro da ilha, depois de ter recorrido, pela enésima vez, aos lenços de papel que transportava na mochila para minorar os estragos que tanto vómito - de quem o vento parecia aliado de ocasião - lhe ia deixando estampado na fatiota, eis que um último e avassalador espasmo o sacode, o inteiriça, e, acto contínuo, o leva a projectar-se, violento e descontrolado, contra a amurada, lançando o derradeiro resquício de alma que ainda lhe restava… e lançando, também, borda fora, o infeliz Morfeu, projectado por cima da sua cabeça, pela desmesura do arranque e através do fecho da mochila que permanecera, esquecidamente, por fechar.

Estranhara o bichano as atribulações do trajecto, por parte do seu dono sempre tão afável. O choque gélido com a água do mar e o consabido pavor que o frio líquido provoca em escaldado gato, ocorre à mente do bichano – que a tem, contra a opinião de muitos néscios – que tudo aquilo configurava uma situação de abandono, idêntica à dos relatos que ouvira de tantos dos seus congéneres.

Abruptamente saído do aconchego embrulhado da mochila para aquele pavor de frio e desmesura, nem olhou para trás, a ver do seu, até aí, idolatrado e confortável dono.

À sua frente, a falésia subia e descia ao ritmo das ondas e parecia chamá-lo. Recorrendo a atávicos instintos, se a redundância é permitida em tal momento de aflições, desata a esgravatar na água, de olhar espavorido e sem um gemido até a alcançar e guindar-se por ela acima, com a força do desespero e a habilidade de alpinista experimentado.

O dono, mergulhado na sua angústia e confortado com uma turista italiana compadecida, interessada e interessante, apenas deu pela falta do Morfeu muitos minutos após o desembarque. Levou o desaparecimento à conta de mais uma galderice do bichano, porventura ainda do lado de Peniche, que, a ele, o tormento até amnésia provocara.

A meio da encosta, cansado e aturdido, o velho Morfeu deixou-se ficar numa cama de chorões batida pelo sol, a retemperar-se da desdita, rapidamente caindo nos braços do seu homónimo.

Ao acordar, depara com o olhar circunspecto, tímido mas curioso de uma belíssima coelha brava, que o fitava da sua lura, espantada com o inusitado turista, ela que nunca saíra da ilha, o que, se lhe dava incomensuráveis horizontes, por um lado, lhos entorpecia, por outro.

Desengane-se quem pense que o drama evoluiu em crime. Morfeu, predador por natureza, era uma alma sensível, antes de mais, aos prazeres da vida. E o momento deparou-se-lhe soberano. Entre miados gentis e ronronices a propósito, que colheram da interlocutora uns encantadores estremecimentos labiais de correspondência, em breve decidiram partilhar infortúnios e abandonos.

Ela, também, a pobre, de coração partido por um companheiro useiro e vezeiro em infidelidades, ao qual pusera com dono recentemente, desfrutando agora, só para si, de uma lura excelentemente posicionada, sem acesso a humanos e virada a sul, de onde colhia o melhor aconchego diário do sol.

E assim se descobriram. Diferentes pelagens mas idênticas nostalgias, de vidas bem passadas a aconselharem apaziguamentos que a sabedoria dos dias nos traz.

Hoje, Morfeu, é um gato feliz com a sua coelha, que lhe abriu a porta da lura. Lá vai apanhando uma ou outra gaivota, discretamente, sem que o reparem, para combater imperiosas agruras de fome, ele próprio gato ecológico pela natureza sábia das coisas, farto de saber que o que há mais, nas Berlengas, são gaivotas, de quem ninguém dará pela falta.

Tem, como naturais aliados, em vizinhança inteligente e cúmplice, o lagarto-ocelado, o rato preto e as rolas-do-mar. Não é vulgar, entretanto, deparar com ele em amenos diálogos com a encontradiça mas esquiva coruja-do-nabal, nos seus devaneios nocturnos. Mas definitivo, enquanto dure, é o entranhado afecto que vem desenvolvendo com a coelha-brava…

Afecto contra-natura, dirão alguns. Néscios, esses, que não atentam nos brilhos que ressaltam naqueles olhares, mais visíveis em claras noites, a quem os divise do mar, quais estrelas incrustadas na falésia.
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DA BATIDA INESPERADA DO VENTO

Perdidos dentro dos nossos domésticos afazeres diários,
soporificamente embalados nos braços de Morfeu,
nem sempre nos damos conta
dos sinais premonitores da tormenta.

Então, quando ela surge, a sensação
é a de termos sido repentinamente abocanhados
pela ferocidade das mandíbulas dum tigre.


Perante a enorme sacudidela de vento
nas velas do navio da nossa vida,
sentimo-nos sem bússola, perdidos,
desesperados com a situação.

Nessa altura não estamos preparados para vislumbrar
a soberana oportunidade que nos é dada
para refazermos o rumo e retomarmos
o equilíbrio da nossa barca.

Mas, normalmente, depois da grande e inesperada oscilação
navegamos mais adultos e mais sábios
na vasteza do mar oceano da nossa existência.

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sobressaltos


Morfeu estendeu os braços soberano sobre a vasteza do oceano, analisando a situação como um tigre a sair de dentro de água, a oscilação do navio, batida pelo vento, obrigou-o a uma sacudidela da cabeça aos pés.

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em mim a criança disse

sacudidela,

situação-oceano

Frágil soberania

em mim a adultez foi

vento, oscilação

batida de frente

em mim

A morte - Morfeu dentro -

Conseguiu ser

navio-tigre sem sono.

vasteza mesmo.

Rubens da Cunha

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Regresso

no vasto oceano, entre sacudidelas, fortes oscilações, intensas batidas das águas no casco do navio - mau grado os ferozes assobios do vento - Alice continuava nos braços de Morfeu. soberanamente adormecida. alheia à violência da situação externa. sonhava embalada pelo constante balouçar.

dentro de dias chegaria a casa. à pátria onde não ia havia anos. a vasteza da savana iluminava-se no sonho resplandecendo doirada. um rugido atroou o espaço e pareceu vibrar em ondas de calor como nos desertos quando ocorrem as miragens. Alice não temeu. aguardou confiante. sabedora que o animal a saudava pois aquele animal era o seu animal-guia e pelos sonhos comunicavam.

um enorme tigre surgiu do nada. luminoso. irradiando luz caminhou em direcção a ela. atirou outro rugido aos ares movendo a cabeça de forma majestosa. alertando os restantes animais que aquele território era seu. chegado perto, parou. Alice colocou-lhe a mão sobre a cabeça e assim ficaram longamente. conversando.

Eremita

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A tempestade

Deslizo
Mar dentro
Primeiro entregue
A um mar doce
Calmo e apaziguador…
Mas, logo
Começo a sentir
A batida,
A oscilação forte
no navio,
E olho o mar
Que se transformou
Num oceano
Que se abre soberano
Na vasteza
Das suas ondas imensas
Que vão desenhando
Ora um tigre
Ora um leão
E o vento
Que me leva
E que me traz
Na imensidão
Do momento
E mais uma sacudidela
E outra…
Não sou nada
A situação
Ultrapassa-me,
Mas deixo-me ir,
Perdida e encontrada
Nos braços de Morfeu
Elsa Sequeira

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... tinha de partir nesta jornada , toda aquela vasteza me convidava para grandes viagens .
Ao longe as nuvens formavam estranhas formas que eu tentava identificar . Uma delas era Morfeu , o filho da noite . Trazia-me sonhos e visões , inebriando-me a razão . Seria um mau presságio ? Era um chamamento ?
Nada como seguir em frente por este oceano imenso .
O anoitecer veio acompanhado de ondas que fustigavam violentamente o navio . A oscilação sentia-se de tal forma que mais parecia uma sacudidela longa e prolongada.
No Céu as Estrelas que iam aparecendo indicavam-me o norte. O vento amainou, acalmando o mar da sua revolta. Pude então apreciar todo o esplendor daquele tapete gigantesco, que reflectia o meu fascínio pelo desconhecido.
O som da ondulação era uma autêntica batida ritmada, acompanhada pelo ranger do mastro principal. E assim no horizonte apareciam os primeiros raios de sol, imagem soberana a que não estava habituado.
Finalmente o dia e um porto de abrigo que se avista. Chamei-lhe "Baía dos poetas", pela sua beleza e misteriosidade.
No alto uma igreja erguia-se por entre rochas toscas e agrestes. À entrada, um tigre deitado em cada um dos lados da porta, fazem a guarda de honra. Lá dentro esouros esquecidos que aumentam a minha imaginação.
Situação peculiar de quem procura para além do infinito.
José Rios (sem blogue)


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guerra

sem oscilação sobre a decisão tomada o soberano ordenou uma batida e os seus olhos brilhavam com a ferocidade do tigre.
as tropas, em rigorosa formação, entraram no navio que, sobre a vasteza do oceano, os conduziria, contra ventos e marés, independentemente da situação no local e das sacudidelas das águas enfurecidas como que em sintonia com a fúria dos homens dentro do seu bojo.
nas próximas horas e dias Morfeu seria esquecido e Marte louvado.
uma maré de fúria e sangue cobriria o mundo.
Dark

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imponderabilidade

a soberana vasteza do oceano nada representa. não tem poder contra a força do vento, que sendo nada mais que ar em movimento, lhe pega como na mais leve pena e de batida em batida, de sacudidela em sacudidela, de oscilação em oscilação o vira de dentro para fora. engole o mais poderoso navio com a fúria do tigre esfaimado dilacerando a presa. a situação torna-se imponderável, mas num piscar de olhos as águas ficam mansas. como se Morfeu sobre elas caminhasse domando-as.
Sereia

11º Jogo das 12 Palavras - 2ª Parte

sobrevivência

o vento atingiu a solitária árvore. perdida na vasteza da planície, sentinela única daquele imenso oceano de terra calcinada a perder de vista a batida forte do ar imprimiu-lhe uma oscilação. uma sacudidela imprimiu-lhe um estremecimento semelhando hesitação na decisão a tomar. a situação era desesperadora. a árvore, soberana expressão de vida sentiu a seiva correr mais forte bem por dentro de si animando cada tronco, cada ramo. sentiu-se perdido navio no meio de longínquo e inóspito mar. Morfeu, sentado num dos seus braços, trauteava canção de embalar enquanto fazia soar sua lira. a árvore sabia que não podia ceder. o sono seria fatal. a última expressão de vida desapareceria da superfície da imensa planície que se estendia a perder de vista. onde antes existiam florestas, bosques, verdes prados cheios de vida, animais de todas as espécies, caçando, preguiçando ao sol, lançando aos ares suas vozes. maviosas umas, quase assustadoras pela força e potência outras. a árvore lembrou com ternura o tigre que, durante anos adoptara os seus ramos como leito e como ponto de vigia de onde detectava caça ou adversários. pensou que, por todos eles, não cederia. o sono arrastaria a morte. a seiva pararia e ela, guardiã da vida, desapareceria. com ela toda a esperança de renascimento.
Amla
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Parado no deck do navio,
cotovelos apoiados na amurada,
estendeu o braço e deu uma sacudidela
a libertar a cinza do cigarro.

situação nova que lhe trazia o prazer dela
em cada batida, em cada latejar
dentro do cérebro tão lúcido que doía.
Como se entregue a Morfeu
em sonho se alongasse na vasteza
daquele outro oceano de sensações.

Qual tigre fixado na presa
posicionado contra o vento
o olhar perdia-se na imensidão
no verde-azul do infinito adiante
na esperança sem tamanho
no vaivém da oscilação
soberana das águas.
Jawaa
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A Dúvida

Deteve-se no cimo da falésia e ali ficou de face voltada para o vento...Sentia-se como um pequeno navio, a oscilar perigosamente nas ondas da tormenta, perdida na vasteza do oceano. Sentia-se invadida de incertezas e dúvidas, a sua vida sacudida de um modo inesperado...já não se sentia soberana do seu ser, sentia-se enclausurada numa situação para a qual não antevia solução.
Olhou para baixo, para o mar revolto que se desfazia contra a falésia...Ocorreu-lhe dar um salto de tigre e assim poder finalmente descansar, embalada nos braços de Morfeu...Todas as incertezas e dúvidas desapareceriam então...
Olhou mais uma vez para baixo...a sua alma agitava-se dentro do peito, e as batidas do coração ressoavam-lhe nos ouvidos...
Respirou fundo...
E deu um passo...para trás....
Afastou-se da falésia. Amanhã é outro dia.
Margarida Martins

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soberania perdida

antes era senhora
soberana de mim.
de minha vida.
um vento estranho
chegou
alterando a situação.
sentira-lhe a batida.
uma leve oscilação
a correr-me por dentro.
agora, perdida
na vasteza daquele oceano,
navio sem rumo,
qualquer sacudidela
me estremecia os alicerces
que rugiam – tigre mortalmente
ferido num deriva
sem norte. cego
morcego sem radar.

só nos sonhos – quando
nos braços de Morfeu
voltava a sentir o domínio
de meu ser.

acordar era interminável
queda por abismo
de dores.
TMara

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Carta a Morfeu

Divino,
É o cansaço que me leva a suplicar o vosso auxílio.
O sono abandonou-me e deita-se comigo a insónia que é amante cruel e castigadora, soberana e toda poderosa proíbe-me de descanso merecido.
Não posso nem quero resignar-me a esta situação de desconforto.
Vem Divino Morfeu acompanhar o meu sofrimento, sentir a ansiedade e a dor da solidão. A Vossa ausência obriga-me a ser subserviente a esta condição de permanentemente acordado que me tortura.
Embalai-me como o vento embala os poderosos navios e transportai-me para o mundo maravilhoso dos sonhos, para lá dos oceanos e mais perto do céu. Só Vós e a vasteza de Vossos celestiais poderes sois capaz de me adormecer finalmente.
O meu corpo oscila e treme na escuridão nocturna, sacudido pelas batidas ensurdecedoras do meu coração desesperado.
Dizei-me pois Ò Divino qual o sacrifício, qual a oferenda que pretendeis deste Vosso humilde servo, para que Vossa companhia torne a alegrar as minhas noites. Dai-me uma missão, ordenai e sereis obedecido e prometo-vos aproveitar essa dádiva com todas as minhas forças.
Vingai-me desta mal amada insónia que como um tigre me tem prisioneiro em suas impiedosas garras e abençoai-me com a Vossa presença.
Peço-vos a paz Ò Divino,
somente a paz.
António Rios

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Urge uma sacudidela, um vento de mudança para que, tal como há 35 anos possamos melhorar a situação.
País soberano, com uma vasteza de terreno a perder de vista, inaproveitados, onde em tempos não distantes , a oscilação das searas nos lembrava a batida do rebentar das ondas ou o deslizar de um navio pelo oceano...dentro de uma concha, adormecidos nos braços de Morfeu, pais á deriva, num ensaio sobre a cegueira..Impávidos, diluindo-se num lamaçal de crises e recessões .Onde a (in)justiça se agudiza nos mais pobres, deixando impunes os desordeiros, os políticos sem escrúpulos até que um dia ao amanhecer, alguma força, militar ou não, munido da força de um tigre, se aventure a dar ao povo o que é do povo..
E citando Ary dos Santos"
E se esse poder um dia.
O quiser roubar alguém.
Não fica na burguesia.
Volta á barriga da mãe.
Volta á barriga da terra.
Que em boa hora o pariu.
Agora ninguém mais cerra.
As portas que Abril abriu
".
...............Deixem-me sonhar que Abril será sempre!
Bicho-de-conta

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Cartas

Terrível bebé: gosto das suas cartas (um oceano de letras), que são meiguinhas, e também gosto de si (ai, a batida no meu peito…), que é meiguinha também. E é bombom, e é vespa (que o vento não derruba), e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo e a Bebé deve escrever-me sempre (vem a carta num navio…), mesmo que eu não escreva (soberana apatia), que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguém gosta de mim (nem Morfeu) e também porque é que havia de gostar, e isso mesmo, e tudo torna ao princípio, e parece-me que ainda lhe telefono hoje, (dentro de mim, a vontade) e gostava de lhe dar um beijo na boca (situação maravilhosa), com exactidão e gulodice e comer-lhe na boca os beijinhos que tivesse lá escondidos (tal a vasteza do meu desejo) e encostar-me ao seu ombro e escorregar para a ternura dos pombinhos (numa oscilação calculada), e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ofelinha gosta de um meliante e de um cevado e de um javardo (não de um tigre) e de um indivíduo com ventas de contador de gás e expressão geral de não estar ali mas na pia da casa ao lado, e exactamente, e enfim, e vou acabar porque estou doido, e estive sempre, e é de nascença, que é como quem diz desde que nasci (que sacudidela teria levado?), e eu gostava que a Bebé fosse uma boneca minha, e eu fazia como uma criança, despia-a, e o papel acaba aqui mesmo, e isto parece impossível ser escrito por um ser humano, mas é escrito por mim.

(a partir de uma carta de Fernando Pessoa para Ofélia Queiroz)
Zé-viajante

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humano poder

soberano do sono
Morfeu perde-se
na vasteza do
oceano construído
pelo humano sonhar.
tigre já não senhor
da situação. navio
lançado à deriva
pela força do vento
do pensamento.
entre oscilações
batidas sacudidelas
perde-se na imensidão
cega e vazia
que dentro do Homem
se elabora e des-constrói.
TMara/multiply

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e nós

dentro da noite de nós

há mistérios incontidos,
peças de vento
na vasteza de um oceano infindo,
a oscilação de um navio
em indomável situação de vazio

soberano da noite sem voz,
pela savana avança o tigre
ao rufar dos tambores
em monocórdica batida.
A agudeza do seu olhar
em branco e preto tecido
lapida, em subtis fragmentos,
as raízes do dia.

É Morfeu clamando o esmaecido
com a sacudidela de suas teias
Incomensuráveis, densas e finas
Amita

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MÚSICA

Mesmo de olhos fechados sinto aquela batida
Que me encanta e me faz olhar para dentro
E pensar que estou a ouvir o meu morfeu
Neste lugar de sonho aqui no navio
Que parece deslizar neste imenso oceano
Não senti até agora qualquer oscilação
Só esta música como que uma sacudidela
Para que os meus sentidos saiam desta situação
Só vejo uma saída muito soberana
Imaginar estar na selva junto a um tigre
Tendo à minha volta toda aquela vasteza
Mas apenas tenho a cara e o cabelo ao vento!...
Belisa

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Morfeu decide reunir alguns Deuses para promover uma noite de sonhos. Pede ajuda a Hipnos seu pai, que orna toda a vasteza do oceano com papoilas vermelhas.
Como não poderia deixar de ser Zeus é convidado, para que controlá-se a chuva,raios e trovões. Razão soberana do Deus supremo.
Eis que surge Hermes assinalando os caminhos com pequenos montículos de pedras, que os convivas seguiriam como orientação. A seu lado Hades vindo do mundo dos mortos.
Das profundezas do mar onde habita, aparece Posídon, traz ostras para a festa e pérolas para as Deusas. Sente-se o vento com a chegada de Hera a rainha dos céus. Atena chega logo a seguir, numa sacudidela de sabedoria e integridade.
A oscilação ao longe anunciava Hefestos, apesar de dominar o fogo e os vulcões a sua deficiência fisica não passava despercebida. Depois de mais uma vitória no seu curriculo Niké traz oferendas, uma cria de tigre e ambrósia, a alimentação divina.
Acompanhada por seus irmãos Hélios e Eos vem Selene, iluminada pelo luar de uma noite de lua cheia. Dentro de um tornado que à muito rondava o concílio aterra Cronos, já oirado da sua longa viagem.
Faltavam ainda duas personagens que eram esperadas impacientemente.
Batida pela brisa suave, uma beleza estonteante de seu nome Afrodite. Faz-se silêncio, todos anseiam um olhar seu, um sorriso, um lugar a seu lado.
Como sempre Dionisio chega em cima da hora, uma situação que todos perdoam. O vinho, o néctar que ele elegeu para a noite é justificação mais que suficiente para a sua falta de pontualidade.
Todo aquele ópio que as papoilas espalhadas por Hipnos emanavam, lhes toldava a visão. Ao longe o que diziam ser um navio,não era mais do que um delírio.
São místicos os designios dos Deuses.
José Rios

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Urgentes ventos alísios

Estamos, sem o querer, na situação dum tigre adormecido por Morfeu, vagueando a cada sacudidela do mar da vida

a oscilação do navio sobre as águas
diz do vento que chamou a tempestade
a batida da proa no oceano traz o eco
daqueles dias em que sabíamos da vasteza
soberana das águas que corriam calmas
dentro de nós.
nesta jangada sem norte convoco a chegada
de urgentes ventos alísios.
Vida de Vidro

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O

Dia de São Valentim

AVISO: O conteúdo do texto que se segue pode ferir a sensibilidade dos leitores.

Naquela época, e naquele local, a soberana era a girafa. Por muito que parecesse estranho. Tinha vindo num navio misterioso e cabia-lhe contar uma história.

A força do vento era tal que derrubou o tigre astuto que “se enrolara” com a pantera. E, quando a girafa, numa sacudidela elegante se desfez do abraço do leão, a situação complicou-se. Ali, na vasteza da selva, os amores desencontrados dos muitos animais, prenunciavam devassidão. A oscilação do macaco, nas manobras provocatórias de aproximação à iguana, era algo nunca visto naquele território.
A batida vigorosa do coração do gorila, levou a que este se declarasse, sem rodeios, à ursa maior, sua vizinha. E com que enlevo o fez...
Um oceano de amores, naquele maravilhoso dia em que tudo era permitido.
Dentro de cada um havia a satisfação das aventuras vividas, dos amores proibidos. De tal forma se cansaram (e o cansaço era divinal) que todos caíram, regaladamente, nos braços de Morfeu.
Zé-viajante

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SOLIDÃO

Na coberta do navio e apesar da forte oscilação que sa fazia sentir, Maria aproveitou a hora da sesta para, estirada numa das cadeiras que por ali se encontravam para uso e desfruto dos pasageiros, meditar um pouco sobre o seu novo estado civil e, talvez entregar/se um pouco a Morfeu.
Olhava o oceano na sua imensa vasteza onde, de quando em vez, alguns peixes voadores deixavam-se ver em vôos rasantes sobre a água.
Os afagos do vento no seu rosto recordavam-lhe beijos e carícias há tanto tempo sentidas.
A tarde ia, mansamente, perdendo a sua luz para dar lugar a um pôr de Sol, cor de fogo, só possível de observar, naquelas paragens.
Ergueu-se e, com uma leve sacudidela ao cabelo já cor de prata, pegou no seu saco onde um tigre bordado a seda, recordava-a os momentos passados na agradável mas tão remota viagem à India.
A sua situação era agora diferente.
Estava só e dentro do seu peito a batida do seu coração, onde o amor já não era soberano, marcava o ritmo lento, do pesar, duma vida solitária.
Benó

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Arrepio

Dentro de um navio vacilante, sinto a oscilação do oceano. O vento penetra-me a espinal medula. As cortinas fecham-se. O sonho desce da Lua e beija o negro com o seu reflexo. As aspirações mantêm-se. Uma sacudidela e sou levada por um reflexo. A lágrima soberana espera que a vasteza de Morfeu me leve para onde a realidade seja pura como o sonho. Olho aquele tigre esculpido pelas cordas amarradas à terra. A batida do meu coração revela-se forte. Acredito que a ansiedade das borboletas no estômago seja um presságio magnânimo na realização da felicidade. Sinto uma brisa no rosto. Uma situação aparentemente estranha.
Eli

11º Jogo das 12 Palavras - 3ª Parte


SELVA INTERIOR

Sonhava com o Tigre da Malásia, soberano da selva, por aqueles lados, dia e noite, noite e dia, preenchia-me a obsessão. Resolvi então percorrer o caminho. Dentro do navio, em pleno oceano vento forte, as vagas alterosas, faziam que parecesse uma casca de noz, eu pequenina, com tamanha oscilção.
A batida do mar no navio infernizava-me as datas, já para não falar da náusea companheira noite e do dia, dia e da noite.
Foi numa dessas sacudidelas depois de vários dias sobre a vasteza tempestuosa, caminho escolhido mas cruel, que olhei a situação percebendo que o tigre estava dentro de mim e que a luta tinha chegado ao fim.
Finalmente pude entregar-me nos braços acolhedores de Morfeu.
Claras Manhãs



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Enigma


dentro da caverna dos mundos,
um enorme ventrículo hexagonal,
tudo é um imenso oceano em flores.

no centro do âmbito,
sustentado por pulsares 0ndulantes,
existe uma flama de batida distinta.

ao fundo,
nos pés da cama de ébano,
desansa o tigre branco da desigualdade.

subitamente,
percebe-se uma sacudidela no olhar.
e solta-se a voz do soberano:

mortal,
na câmara das safiras bidimensionais,
haverá sempre oscilação.
tomarás sempre um navio.

mas para seres no reino de Morfeu,
só pela nau que faz o caminho da ilusão!

resolve o enigma da situação:
vasteza ou vento?
V.F.S



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canção de ninar

vem de dentro a batida
e o soberano ser –
tigre de papel –
levado pelo vento
perdido navio sem
mastros, nem leme.
eleva-se na oceânica
vasteza.

sem controlo
da situação
deriva entre cada
sacuidela
cada oscilação
enquanto
Morfeu canta a
Canção de Aquiles.
TMara/A Cor da Vida

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Lagash

Deitada no beliche do seu camarote, Lagash embala-se no som do vento, que lá fora cospe o estribilho do tempo. A oscilação do navio torna-a sonolenta. As águas do oceano cinzentas de tédio cospem a sua saliva no vidro da vigia. A agonia, que a veste por dentro, contrasta soberbamente com o seu aspecto. Para trás ficaram as ruínas do seu mundo imersas no soberano desdém dos interesses.
Pela retina dos seus olhos cansados passam, em câmara lenta, as imagens dos últimos dias, quando os ares cuspiam o fogo do ódio. Ódio feito em ambição de irmãos.
Lagash soergue-se, passa os dedos pela massa pendente de cabelos negros espalhados em seu redor, e, pestaneja à visão dilacerada, que teima em permanecer dentro de si. Aquele vulto abocanhando a terra de pernas retorcidas e mãos enclavinhadas no ar que lhe acabou, o outro de olhos vítreos e rosto retorcido, um outro encolhido pela dor da bala recolhida na sua carne, aqueloutro de boca escancarada, olhar perdido no amanhã que não veio. O vermelho do sangue empapando o cinzento do quadro. A cor que escorre da tela por excesso. As cores da sua terra, todas em excesso de vermelho, cinzento, negro e raiva.
O crivo das paredes, os esqueletos de ferro retorcidos, o pó, a cal, a argamassa esboroada, o cheiro de pólvora, o suor liquefeito em rancor, os olhares baixos, cravados na terra árida de vontade e amor. O vento quente que crepita nas ruas faz crer que a vida se esconde por ali, algures. Na esquina perdida de um pneu, no olhar ferido da criança, na burka negra que corre ziguezagueando na busca do alimento ou talvez, quem sabe do corpo caído no asfalto estilhaçado.
E a memória pulula, gira, envolve, amarga, fervilha.
As mãos que se enclavinham, as unhas que rasgam, a dor que mitiga a memória.
Lagash rebola o corpo no beliche, puxa da almofada e esconde o rosto. A memória recrudesce em tons mais ácidos. O marido e a filha mortos. Cá fora perto da palmeira do quintal. Um míssil. Uma explosão. Fumo e cheiro de carne queimada, sangue. Pedaços da sua carne espalhados aqui e além. O horror, a ânsia, a dor. Sentir que as suas entranhas foram rasgadas, sentir, que a sua alma foi roubada, sentir, o nojo, o vómito de estar viva, sentir, o quebrar da vontade, o uivar da mente. Tudo isso. Ajoelhada na terra, bebe o pó enxofrado da morte, grita o horror da insídia dos homens, daqueles que se alvitram seus irmãos. Um irmão não mata, não rouba, não rasga. Um irmão ampara.
Sacode-se. Toda.
Não sorri. Levanta-se e maquinalmente puxa pelo xaile e cobre os ombros magros. Encosta-se à vigia e contempla o mar. Na vasteza do horizonte os seus fantasmas diluem-se. O azul cinzento mergulhado lá ao longe por entre uns raios desmaiados de sol acordam-na para a sua situação real.
É uma refugiada. Política, assim definida.
Lagash.
O nome, a terra, o rio, o tigre, leito do mundo e cópula da humanidade. Aos milénios de vida sobrepõem-se, agora, os segundos de morte. A sua terra de onde lhe vem o nome. O seu destino parou aqui. O resto, o resto é a sombra de si, da sua alma partida.
………………………………………….
Londres
O ritmo alucinante do jornal torna-os quase histéricas de prazer. As notícias que povoam os teclados e monitores, os telefones que ressoam ininterruptos, conferem aquele ar desarrumado mas fervilhante. No seu gabinete envidraçado, James deita o olhar sobre a redacção. Conhece-os a todos. Os bons, os aspirantes e os trepadores. Cada um a seu género. Mas no final a equipa é soberba.
Aqui conta-se o mundo, jogam-se os destinos, constroem-se os mitos e arrasam-se os conceitos. Todavia, momentos há, em que também se edificam as boas vontades e se vendem as histórias de vida, mas pouco. O bom não é vendável, a miséria é ávida em pormenores, qual fiel de tempos e vidas em desequilíbrio.
Hoje, ele, James Previl, tem uma reportagem fabulosa. Uma sobrevivente, uma mulher. Lagash Mashhadani, a irmã de Tayseer al Mashhadani, a líder dos sunitas feita refém, e posteriormente libertada. Lagash é notícia. Tem a equipa de reportagem pronta para recebê-la em Heathrow, depois de amanhã.
Lagash será a protagonista de uma série de crónicas sobre a verdade do Iraque. James, pese os seus sessenta anos sente-se ligeiramente excitado pelo impacto que prevê ir alcançar, e, sobretudo pelo aumento previsível de vendas Uma mais -valia.
Não é implacável nem desumano. Não fora ele, outro, seria. O clima de luta pelos objectivos lucrativos torna as pessoas metodicamente especulativas. Ele não é diferente, tem um lugar cobiçado a defender.
Esfrega as mãos e levanta-se. Cá em baixo em Fleet street a vida move-se inexorável. O corrupio das horas, dos passos, dos olhares, esgares e sorrisos dão o tom à sua cidade. Londres merece o esforço, merece a notícia.
Dois dias. As folhas riscadas de negro serão manuseados por milhares. A vaidade fá-lo opado. O rosado da face balofa rebrilha a par do cinzento dos olhos. Um fulgor de vitória que trinca antecipadamente.
Senta-se na sua cadeira, gira embalando-se, um sorriso de beatitude cai-lhe do rosto. Fecha as pálpebras, cruza os braços unidos as pontas dos dedos. O sono doce alastra-o. E ela vem, o seu rosto, a sua mágoa, a sua história. A pessoa. Ela que lhe crava o dedo na carne, dilacerando-o. Aquele olhar de censura e ódio também. Acorda. Volve o olhar pelo cubículo. Ninguém, não podia ser. Mais uma comédia de enganos vestida de Morfeu . Puro engano!
James Previl predador de desgraças, gente do mundo encolhe os ombros e esfrega as mãos.
Somente dois dias. Uma pequena espera.
…………………………………….
Lagash.
Novo agitar, outra sacudidela, outro frémito expandido.
Abre a porta e sobe até ao deck. O vento fustiga-lhe o rosto e o corpo. O mar revolto ondula em vagas que a fazem baloiçar. Enfrenta-o. Crepita de fúria. As vagas criam berços cobertos de lençóis de espuma. A chuva batida, vinda sabe-se lá de onde ensopa-a. Agarra-se. Bebe a água, e o sal, e o vento, e o dia.
Bebe. Bebe fundo, bem fundo. Como se lhe purificasse as entranhas em chaga. Sente um ardume, uma dor fina que se alastra que a envolve. Está viva! A sua maldição.
Esperam-na do outro lado. Sabe que a esperam. Sabe as regras do jogo que vai jogar. Sabe que tem a vida por um fio. Sabe o risco. Valerá a pena? Não teme porque nada tem. É livre de razão e coração.
Fica ali, parada em silhueta ondulante ao sabor do mar. A noite cai. O negro cobre-a. Mais um véu, de tantos que a vida a macerou. Porém, este agiganta-se na sua vontade, envolve-a no precipício do tempo. Um gesto, só um. Ei-la. Ali, vogando entre o céu e o mar, no rasto da liberdade, no amanhã renascido.
Mateso

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O tigre na sua jaula
(recordando e aproveitando Der Panther, de Rilke)

O tigre, dentro da jaula, sentia ao longe a batida das vagas contra o casco do navio.

Não estava assustado. Apenas triste por a cada minuto se afastar do seu mundo, da sua família, dos seus cheiros.

Aturdido com a ocilação do oceano e uma ou outra sacudidela mais forte, fechava os olhos e tentava entregar-se a Morfeu e ao esquecimento, e só raro abria a “silenciosa cortina das pupilas”.

Sentia, e sofria, a irreversibilidade da situação: deixara para sempre de ser soberano na vasteza ilimitada da savana, nunca mais correria contra o vento, desafiando a natureza e os outros animais. O futuro deixara de ser seu desde que caíra na armadilha do caçador.

Cansado e impotente, fechou o coração e desistiu.
Justine


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RECORDAÇÕES”
Nas praias da minha infância, em África, passei momentos de grande felicidade.
Naquelas areias corri, brinquei. Sonhei. Saltava para dentro dos barcos, arrumados junto às árvores, à espera dos pescadores. Os solitários encontram-se na praia, jogam futebol de praia, estendem-se ao sol e vivem os seus amores. Um dia, um tremendo susto, pois um tigre que tinha fugido do zoológico, corria pelas dunas. Um perigo enorme para todos, mas Deus é soberano e tudo se resolveu da melhor maneira.
Ao fundo, um navio espreitava, saindo do oceano.
Junto à janela, miro a solidão pendurada nos galhos dos cajueiros. É noite de luar; o vento move os moinhos nos prazeres do destino. No silêncio da noite ouve-se o suspiro de uma sereia na beira do mar. Olhar o céu e se arriscar pela areia da praia, vendo a lua, como quem está de partida. De repente, uma batida forte interrompe os meus pensamentos.
Diante da vasteza do tempo e da imensidão do escuro, é um imenso prazer para mim saber que estás por perto. Conheces o sabor das minhas lágrimas. Procuro o teu regaço. A cabeça deitada em linho macio, o cabelo enfeitado da luz do luar… Vem pois, Morfeu de mansinho, acalmar o meu sono agitado.
Uma oscilação forte no meu peito agoniado. Sinto a boca seca. Mas que situação tão estranha!!! Para quando um pouco de Paz, dentro de mim?
Na rua, filas de carros aguardam a passagem do comboio, que desliza velozmente. Perante a sacudidela do vento, as minhas roupas levantam-se e, envergonhada, afasto-me.
Dormindo, sou livre para sonhar!
Então, finalmente sorrirei.
Ester Afonso


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NO PROMONTORIO


Ao olhar a vasteza do oceano que me rodeia e que, hoje, é cruzado por grandes navios, recordo o nome dum grande português que habitou por estas paragens onde eu, agora, vivo, passeio e sonho.Daqui, homens corajosos partiram em pequenas embarcações, autenticas cascas de noz (simbolicamente falando), desafiando deuses e monstros habitantes desses mares soberanos que tornavam cada viagem dessa gente audaz, marinheiros feitos à força, arrancados à sua terra, numa verdadeira aventura.Os fortes ventos que obrigavam a uma oscilação constante daquelas pequenas embarcações, tornavam a situação daquela gente, dentro do pequeno espaço em que eram obrigados a viver, um verdadeiro inferno. Por vezes, o desespero era tanto, pela falta de alimentos, água, higiene, etc. que havia verdadeiras lutas de tigres pela simples obtenção duma côdea de pão ou uma gota de água.Quando a brisa proporcionava descanso e a nau balouçava-se em leves sacudidelas, a marinhagem podia, enfim entregar-se, por algum tempo, nos braços do Morfeu e usufruír de algum descanso. No entanto, a batida do seu coração, onde já não cabiam tantas saudades, era forte demais para ele ser completo. Tudo isto, eu recordo, sentada no Promontório da minha terra. Daqui, eu vejo grandes navios equipados com o que há de mais moderno em tecnologia naútica, transportando marinheiros e passageiros para essas terras longinquas desbravadas com tanta dor e coragem pelos portugueses do Infante.


Benó