XXII
todas as
manhãs, Leonardo percorre os campos, com a
vulnerabilidade de uma
criança, para recolher gotas de puro
orvalho. no aconchego da casa, Leonor observa-lhe a
silhueta ágil, leve como uma
pena, enquanto os primeiros raios de sol despertam a colorida
tapeçaria que cobre a terra. Leonardo é o
conselheiro da aldeia, o
exponente máximo de uma sabedoria ancestral, o único alquimista capaz de
afastar a sombra antecipada da
morte e de remover qualquer
obstrução ao fluir da vida. o amor de Leonor é o seu ingrediente secreto
.XXIII
Na última semana a chuva não parou de cair! Os rios rasgaram as margens, as lamas invadiram o pequeno povoado, pronuncio de
morte que há muito não se fazia sentir naquele lugar de gente humilde...
A obstrução dos caminhos era total...Assim anoiteceu!
Horas agitadas pela incerteza, entre o ribombar dos trovões e as bátegas de água que continuavam a fazer-se sentir, aos poucos tomei o sono por conselheiro e ao acordar tinha tomado a difícil resolução de deixar aquele lugar que me viu nascer, rumar a outras paragens, partir para sempre!!!
A manhã chegou a medo, cinzenta, com a vegetação coberta de orvalho.
Por entre as nuvens, vislumbravam-se de quando em vez alguns raios de sol que ajudaram a afastar a nostalgia dos dias
em que o mau tempo trouxe á flor da pele a nossa vulnerabilidade!
Na inconstância do tempo, enquanto tentava avaliar os estragos, deparei-me com um campo de papoilas que mais se assemelhava a tela ou tapeçaria, ai virei criança, corpo de menina feito mulher, silhueta frenética numa dança, exponente máximo da minha alegria, e que me propicia momentos únicos e cujos seria uma pena não eternizar!
Mãos á obra, mudei o rumo da decisão, tomei as rédeas da reconstrução que sendo lenta e espinhosa, logo logo, daquele amontoado de destroços renasceria o meu mundo, lugar sagrado que me viu nascer, e onde queria continuar...
XXIV
De todos os canais, este Talvez seja este o mais belo. Depende apenas do meu olhar.
E eu vejo, porque quero ver, na manhã em começo lento, a silhueta de um barco rompendo silenciosamente as águas, trazendo até mim a vulnerabilidade de uma figura masculina franzina e alta, que o vento, bom conselheiro, obrigou a embrulhar num agasalho quente e que, antes de se afastar da minha visão, me ofereceu um sorriso primaveril e puro.
Vejo ainda sobre o canal um dossel de árvores, renda de ramos vestidos de folhas apenas nascidas, que se entrelaçam numa leve e ineficaz obstrução ao reflexo do sol na superfície das águas. E que aí se redesenham, numa tapeçaria insegura e subtil.
E vejo por fim, encostada à margem, uma ave-criança inexperiente e desconhecedora, que a morte aprisionou ao tentar rever-se no espelho das águas. Viva parece ter ficado apenas uma pena, coberta de pequenos diamantes de orvalho cintilantes ao sol, sinal único de que a ave ainda há pouco voava.
De todos os canais, este: montra exponente do discreto jardim das minhas emoções.
XXV
Aqueles olhos enrugados não mais possuíam o brilho da juventude. Falava de si, como falava de uma planta morta, que o tempo levou. Naquela
manhã tudo era intenso demais para
afastar a dor. Havia um temor e um desejo, lutando ambos, pelo
orvalho da vida. Seu maior
conselheiro era o óculos, que a fazia companhia quando sua visão lhe faltava. Mas, até mesmo ele, estava jogado em cima da escrivaninha, fechado, triste. Aquela menina, com olhos de
criança, não tinha esperança de vê-la mais. Sabia que, ao cruzar a
tapeçaria principal do quarto decorado para uma idosa doente, selaria o último contato daqueles corpos.
Pena brotava de seu coração, porém sabia que a
morte chegava por ter sido chamada com insistência. Ela perdera o jogo quando desistiu de viver.
Chegava o médico para os recursos finais. Lutara na sua profissão para reanimar pessoas. Mas, e no casa dela? O que haveria de fazer? A
obstrução de sua morte era passar por cima do direito de vida e morte, que todos temos quando nascemos. E ela era a
exponente de quem mais do que queria mor "Aqueles olhos enrugados não mais possuíam o brilho da juventude. Falava de si, como falava de uma planta morta, que o tempo levou. Naquela
manhã tudo era intenso demais para
afastar a dor. Havia um temor e um desejo, lutando ambos, pelo
orvalho da vida. Seu maior
conselheiro era o óculos*, que a fazia companhia quando sua visão lhe faltava. Mas, até mesmo ele, estava jogado em cima da escrivaninha, fechado, triste. Aquela menina, com olhos de
criança, não tinha esperança de vê-la mais. Sabia que, ao cruzar a
tapeçaria principal do quarto decorado para uma idosa doente, selaria o último contato daqueles corpos.
Pena brotava de seu coração, porém sabia que a
morte chegava por ter sido chamada com insistência. Ela perdera o jogo quando desistiu de viver.
Chegava o médico para os recursos finais. Lutara na sua profissão para reanimar pessoas. Mas, e no casa dela? O que haveria de fazer? A
obstrução de sua morte era passar por cima do direito de vida e morte, que todos temos quando nascemos. E ela era a
exponente de quem mais do que queria morrer - precisava. Temia adiar esse encontro com Deus, temia por saber que desistiu de sua missão há alguns anos e sua depressão era o suicídio da alma. O médico, ali, na sua
vulnerabilidade profissional não pôde fazê-la resistir. Compreendendo seu pedido desesperado, lançou o último olhar a sua
silhueta, colocou a mão no coração e, em silêncio, partiu, deixando aquele óbito, e um desejo realizado.
*No Brasil pode usar-se quer o singular quer o plural
XXVI
O orvalho da manhã prolongava-se até ao meio-dia como se quisesse entranhar o frio pelos sentidos adentro, teimando em lembrar a morte que tanto queria esquecer. A morte do maior amor. O dela. O deles. A vulnerabilidade agora marcada para sempre era o seu maior ponto fraco, imiscuído no meio da suposta aparência altiva e forte que teimava orgulhosamente em manter como exponente máximo enquanto esperava pacientemente que o tempo se encarregasse de fazer o seu papel. Sim, o tempo seria o seu maior conselheiro, ela sabia-o mais do que ninguém. Entretanto, a lembrança representava apenas uma obstrução à felicidade que sempre tentara conquistar. Sabia que tinha de tomar a decisão final. Sabia que tinha de se afastar do mundo por um tempo mesmo que não a compreendessem. Sabia que tinha de sofrer, de rastejar até ao âmago da humildade e reencontrar as coisas com o espírito de uma criança. E decidiu. Seria qualquer coisa menos sentir pena dela própria. Marcou a viagem sem data de regresso e partiu em direcção ao oriente na esperança de encontrar paz interior no meio de um povo espiritual. Nunca mais voltou. Desaparecera sem deixar rasto, em breve seria esquecida, como era o seu desejo.
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Algures no Tibete, a bela SILHUETA de uma mulher em trajes típicos caminhava alegre e sorridente pelo mercado, no meio dos tibetanos que a acarinhavam solenemente. Aparecera um dia do nada, instalara-se solitária na cabana junto ao sopé da montanha e conquistou o coração dos que a rodeavam, sobretudo das crianças. De cesta no braço, saltitava entre as bancadas dos feirantes deixando-se rodear pelos pequenos que a desafiavam para pequenas corridas, sob o olhar sorridente de uma artesã que no chão bordavas tapeçarias, o seu sustento e dos seus sete filhos.
XXVII
Uma manhã para ti …
Eu queria nascer
manhã, só para ti, meu amor,
Roubada às entranhas mais quentes da Terra,
Com a suavidade de uma
pena, solta nos ventos de uma serra.
Queria inventar, só para ti,
Uma manhã de cintilante brilho e cor,
E acordar-te com beijos e afectos, molhando no
orvalhoDa minha noite de maresia, o teu corpo quente
Contra a
silhueta fria da minha nostalgia, por te ter ausente.
Queria nascer manhã para ti, mas sem coração,
Sair da condição de
vulnerabilidadeEm que carrego todas as faces da saudade,
Por os meus dedos não se cruzarem entre a tua mão.
Queria
afastar a noite na sua
exponente solidão,
E nascer
criança numa manhã de esperança,
Inventada num mundo de magia, bordado a
tapeçariaDe linho, lua, luz, brilho e muita fantasia.
Porém na
obstrução que o meu amor alcança
Morro cada dia uma
morte dolorosamente mansa.
Como inventar uma manhã para ti, nascida de um amor tão verdadeiro?
Pergunto à Lua,
Ao Sol,
Mas, nem mesmo o mar que sempre amei,
Quer ser meu
conselheiro…
MariaXXVIII
Fiz tudo o que era humanamente possível para
afastar a tua presença nos meus pensamentos.
Refiz tudo o que era poeticamente impossível para exumar a palavra
morte no combate do silêncio.
Por um triz escapei aos teus desejos que são as minhas
vulnerabilidades no espelho reflectidas.
Não quis ser este ser em mim quase gravemente de saúde em greve de ser
criança.
Fiz tudo o que era violentamente fraternal para superar a docilidade com que me espancas os lábios.
Fiz e faço um pouco de mim e um tudo de ti.
Fiz e faço um refogado de palavras bem temperadas prontas a ferir os olhares desprevenidos e floreados.
Não vim para te entregar flores nem palavras bonitinhas. Vim e fiz tudo para te entregar o meu coração!!
Não tenho pena. Sim, Não tenho
pena. Mas escrevo ainda assim, corajosamente contra a maré.
Contra mim e contra as paredes desfeitas em
tapeçaria. Escrevo nas paredes do meu quarto. Eles não sabem ler mas ouvem os murmúrios que te recusas a amparar. Fiz nada do que quis.
Exponente querer solitário de ser uma multidão incontente.
Silhueta dos teus poemas vitoriosos sobre a atmosfera subterrânea de verbos não feridos. Sim!! Fiz amor com as palavras, confesso!! Fiz amor com as palavras!!
Confesso que expulsei o
conselheiro sonâmbulo do teu dia-a-dia e me fiz Homem.
Cheguei ao término descalço, é noite, o
orvalho me despe as sílabas que se querem doces e meigas, dentro de mim, é
manhã, o sol vai despertar a luz ao fundo de ti e rebuscar-te novamente acesa num festival de doçura.
Fiz tudo o que era poeticamente possível para te resgatar e blindar a
obstrução dos poemas que te dedico com o coração aberto, em leveza e brandura. Confesso, fiz amor com as palavras, confesso, fiz amor!!
EduXXIX
O filhoOlhou a
criança e sorriu.
Era ousada, confiante, sem vulnerabilidades.
Não admitia qualquer obstrução, desconhecia o sentido, melhor, a existência do medo, mas não de forma inconsciente.
Inquiria e ponderava, elaborando um plano para a acção, como se escutando a voz de um conselheiro que lhe indicasse o caminho. A melhor forma de agir.
Aquela criança era, para ele, suave orvalho sobre sequiosa terra, bálsamo de seus dias após a morte da mulher e da filha e com um simples balbuciar conseguia afastar toda a tristeza e dor.
Recordou o dia em que se decidiu pela adopção e se apresentou nos respectivos serviços como exponente aguerrido, determinado e seguro do seu direito, enquanto homem só, viúvo, a adoptar uma criança
Qualquer criança. Sem imposição de critérios ou exigências.
Lembrou o dia em que foi ao sótão buscar a tapeçaria que Isabel fizera para o quarto da filha.
Nela incorporara todos os seres, mitológicos e virtuais, os de contos, filmes e desenhos da própria e da predilecção de Maria Teresa.
Usara materiais vários que ambas recolhiam nos passeios pelos jardins e praias, desde folhas, vidros coloridos, penas…Tudo o que de belo encontravam e as fascinava…
No estilo naiff, a tapeçaria era belíssima e cheia de magia.
Há muito saíra da parede da cabeceira de Maria Teresa e fora arrumada no sótão.
Enquanto olha João brincando, afoito no mar, recorda a manhã em que a foi buscar para redecorar o quarto da sua ou seu futuro filho. Lembra-se de na altura haver pensado que seria um óptimo elemento decorativo porque fora tecida com amor.
Estava impregnada de amor e irradiava-o.
Seria um bom acolhimento para a criança que aí vinha.
Saltando entre a rebentação João chamou-o.
- Pai…anda cá paiiii….
Levantou-se sorrindo e foi ao seu encontro. João, com a sua voz de criança, mas com uma segurança invulgar para a idade, disse:
- Pára! Pára aí pai!
Parou, curioso.
João veio ter com ele. Andou em círculos, ao seu redor, calado e muito atento. Depois agarrou-lhe as mãos, ordenando-lhe que rodasse num determinado sentido e, súbito disse, com voz de comando:
- Está bom pai. Fica quietinho.
Viu-o baixar-se e, com um seixo que trouxera da rebentação, começar a desenhar o contorno da sombra, um pouco alongada pela luz do sol ao encontrar o obstáculo de matéria que o constituía, deixando no areal uma silhueta distendida.
Sorriu.
Perguntou-lhe:
- João, como queres que coloque os braços?
Amla
XXX
Sem dedicatória
Carlos Sobreda deambulava pelo Chiado abstraindo-se da modernidade que o rodeava. Mas a Brasileira, onde parou para um café, não perdera a dignidade característica dos outros tempos. Porém, sentado cá fora, estava um Pessoa que não podia desmultiplicar-se a não ser nas fotografias dos turistas e que lhe lembrava um homem estátua que vira em Paris. Olhou de soslaio para aquele Pessoa, esperando no seu íntimo, que este se levantasse e partisse.
A manhã nascera de uma neblina invernosa mas tornara-se soalheira, e a sua silhueta desenhava-se na calçada com perfeição matemática, acompanhando-o sem a delicadeza de um pedido. Para Carlos Sobreda aquela duplicidade imposta zombava do domínio quase perfeito que tinha sobre tudo que lhe dizia respeito.
Ao passar pela Bertrand deteve-se a contemplar a montra e os livros que estavam expostos. Tinha esse hábito desde criança. Não conseguia passar por uma livraria sem ficar hipnotizado por ela.
No entanto, os acontecimentos do dia anterior não o abandonavam. Desta vez voltara a Lisboa para um último adeus. Tinha ido ao enterro de um velho e grande amigo, Luís Antunes. Desempenhara o papel de "conselheiro particular" de Luís ao longo dos anos, mesmo de longe, porque afinal era advogado e o outro, mais dado às artes, saltitava entre a pintura e a escrita conforme os humores - ainda que nunca tivesse chegado a exponente máximo nem numa coisa nem noutra. Ingénuo, quase acabara a experimentar alguns amargos de boca quando resolvera enfiar-se de cabeça num negócio de tapeçarias sem sequer pedir opinião a Carlos. Não que este, como advogado percebesse de tapeçarias, mas tinha olho para afastar os incautos dos caminhos inseguros em matérias de ordem prática.
Carlos Sobreda entrou na Bertrand a reflectir sobre a vulnerabilidade do ser humano, sabendo que não havia obstrução jurídica nem pena máxima a aplicar a quem administrava o destino de forma tão invisível. Ali estava ele a escolher um livro enquanto as coroas de flores que enfeitavam a morte de Luís certamente se haviam enchido de gotas de orvalho que disputavam pétalas que também acabariam por fenecer.
Concentrou-se nas estantes da livraria. Percorreu-as devagar e desta vez não lhe foi difícil encontrar o que queria. "Conversas entre Lisboa e Paris" de Luís Antunes. O único livro que o amigo nunca chegaria a entregar-lhe em mão.
Raquel
XXXI
Mais um fim-de-semana a caminho e já só pensava na viagem que faria na
manhã seguinte. Desde que tinha comprado aquela casinha no Norte de Africa sentia a vida ganhar um novo sentido.
Agradava-lhe a ideia de ter casa noutro continente e agradava-lhe ainda mais, o ser possível sair daquele cantinho lusitano sentindo a frescura do
orvalho matinal e chegar a tempo de ver o astro rei descer sobre as areias escaldantes do deserto.
Tinham sido tempos turbulentos aqueles últimos. A
morte da
criança que tanto amava, tinha exposto toda a sua
vulnerabilidade. O sofrimento tornara-a numa
silhueta de si mesma.
Um dia, acordou com uma sensação estranha dentro do peito, era como se um sol radioso e quente a impelisse para fora daquela inércia.
Não, basta, de uma vez por todas queria
afastar o sentimento de
pena que via no olhar das pessoas à sua volta.
Foi como se a força interior que inexplicavelmente sentia, atingisse o seu
exponente máximo estilhaçando aquela
obstrução na sua vida.
Agora era a hora de recuperar o tempo perdido. Amanhã quando chegar, terá a certeza de encontrar, por entre
tapeçarias coloridas e aromas a chá de menta, o anjo que perdeu.
E estará lá. No sorriso daquelas crianças que a esperam a quem decidiu dar uma oportunidade de vida.
Afinal o recolhimento por que passara tinha sido um bom
conselheiro...
Micas XXXII
Afastar
A
manhã passou em vão. Há pouco senti um
orvalho que me trouxe até mim. Sinto-me estranha, sou eu e, ao mesmo tempo, é uma parte de mim que tomou conta do meu corpo e da minha alma. Talvez seja uma
vulnerabilidade, ou várias ao mesmo tempo, mas não sinto fraqueza, nem o contrário. Gostaria de explicar por letras, sensações assim. Sou capaz de me afastar de tudo, ou então apenas de mim. Acontecem-me situações em que não observo apenas, mas participo. Há uma
obstrução na linha do desconhecido para o sorridente que não conheci, mas com quem contactei. A vida é como uma
tapeçaria que vamos fazendo com retalhos de vivências. Algumas são elaboradas com tecidos diversos, outras são sempre da mesma cor. Gosto de espreitar pela janela do comboio e ver como tudo parece um filme à medida que ele avança. Diante dos meus olhos, reflecte-se uma
silhueta no vidro e sonho um pouco com aquilo que sinto por alguém... Lembro-me do meu lado
conselheiro e do meu lado
criança. Tenho
pena de tornar
exponente um sentimento especial sem uma luta maior, mas a sua
morte será inevitável.
Eli
XXXIII
CEM PALAVRAS Há cerca de dez anos e até um pouco antes, o jornal DN, publicado de manhã, tinha um passatempo denominado Cem Palavras. Dado o tema, teríamos que escrever o texto em exactamente cem palavras. Tenho pena que nunca mais repetissem. Hoje, quase no fim do prazo para compor doze palavras, quero afastar o receio de perder o norte e nada escrever. (Voltei aqui pois a palavra morte e não norte...) Não, não é brincadeira de criança (se é, trata-se da meninice de um velho). O sono é bom conselheiro e ditou-me que, face à obstrução de ideias, só havia uma coisa a fazer: não desistir. Feita a tapeçariasde letras, que numa silhueta singela, se vão acomodando, resta-me dizer-vos que as palavras em falta, e são três, dão pelo nome de exponente, orvalho e vulnerabilidade. Batota na redação (ou redacção?)? Acreditem que não.
Zé Viajante
XXXIV
É na
vulnerabilidade da tua pele
Que afago tapeçarias suaves
E traço a silhueta da luxúria
Com uma pena de sonho permanente.
É no orvalho do desejo derramado,
Sem a obstrução de juízos adormecidos,
Que da morte nos acordamos acesos
Quando a inflamada manhã nos sorri.
És o exponente da minha fraqueza,
És criança e mulher de raiz no teu sol,
Onde me aqueço e me entronco mais forte.
O teu ar é o conselheiro que me atrai
Para te afastar de memórias a gritar
Nas brumas que te matam em silêncio.
Nilson Barcelli
E com 32 participantes e 34 - trinta e quatro belíssimos e ricos -textos, por si e na diversidade de olhares e de estrutura, completamos a 3ª edição do nosso Jogo das 12 PalavrasBoa leitura.