Debaixo deste carvalho passo muito do meu tempo de leituras.
Na rede, esticada entre árvores, protegidas por "lâminas” de pneu, para as cordas as não ferirem. Por razão da orientação solar é debaixo desta que minha cabeça fica pois dá uma sombra excelente.
Muitas vezes esqueço-me do livro e fico a olhá-la
e ao céu, que avisto entre folhas.
E foi num desses espaços de sonhar ou me perder (para melhor me encontrar), de olhos abertos que lembrei a ave que um dia se aninhou em minha mão.
Como pude olvidar coisa tão incomum e significativa?
Só encontrei uma explicação plausível: demasiado centrado em mim e nas exigências do trabalho.
Como se o trabalho e eu, fôssemos uma e a mesma coisa.
E deste pensamento um outro, inquietante se colou a mim e me tem atormentado porque lhe não encontro a resposta. E a resposta, neste caso, é só uma!
Só uma É a resposta certa.
Será que da mesma forma que esqueci a pequena ave que em sobressalto se aninhou em minhas mãos, como no ninho, sua morada, alimento e protecção, fazendo-me sentir parte integrante da vida e da criação, numa harmonia que lhe transmitiu que de mim nada tinha a recear, será, pergunto-o a mim mesmo e espero encontrar A resposta, que da mesma forma em que o auto-centramento me fez esquecer aquele momento de magia descurei a atenção e o carinho para com a M.M. e ela, sempre tão generosa o recobriu para que disso me não desse conta e continuasse minha caminhada em direcção a objectivos profissionais, reconhecimento, promoções, mais responsabilidades – consequentemente distanciamento do real, vejo-o agora?
Não são remorsos o que sinto caso tal tenha acontecido pois sei que ambos éramos, fomos, felizes.
Interrogo-me sim, qual a percentagem ou se quiserem a “taxa de esforço” de cada um de nós no percurso conjunto, para não voltar a cometer erros semelhantes e em todos os momentos e ocasiões saber dizer: basta!
Pela vida em si, pelos que amo e também por mim.
Não sou um “trabalhador”, não sou um “activo”…estas categorias são falsas.
Só encontrei uma explicação plausível: demasiado centrado em mim e nas exigências do trabalho.
Como se o trabalho e eu, fôssemos uma e a mesma coisa.
E deste pensamento um outro, inquietante se colou a mim e me tem atormentado porque lhe não encontro a resposta. E a resposta, neste caso, é só uma!
Só uma É a resposta certa.
Será que da mesma forma que esqueci a pequena ave que em sobressalto se aninhou em minhas mãos, como no ninho, sua morada, alimento e protecção, fazendo-me sentir parte integrante da vida e da criação, numa harmonia que lhe transmitiu que de mim nada tinha a recear, será, pergunto-o a mim mesmo e espero encontrar A resposta, que da mesma forma em que o auto-centramento me fez esquecer aquele momento de magia descurei a atenção e o carinho para com a M.M. e ela, sempre tão generosa o recobriu para que disso me não desse conta e continuasse minha caminhada em direcção a objectivos profissionais, reconhecimento, promoções, mais responsabilidades – consequentemente distanciamento do real, vejo-o agora?
Não são remorsos o que sinto caso tal tenha acontecido pois sei que ambos éramos, fomos, felizes.
Interrogo-me sim, qual a percentagem ou se quiserem a “taxa de esforço” de cada um de nós no percurso conjunto, para não voltar a cometer erros semelhantes e em todos os momentos e ocasiões saber dizer: basta!
Pela vida em si, pelos que amo e também por mim.
Não sou um “trabalhador”, não sou um “activo”…estas categorias são falsas.
Sou um ser humano e se o trabalho, com determinadas características, se tornou a pedra de toque, a mola da economia e nos convenceram e nos convencemos de que isso era tudo e fundamental, confundindo o eu que trabalha com a personna, há que reverter este processo e depressa.
Antes que a humanidade se perca em meandros que nada terão de humano.
O que acabei de escrever não é descoberta recente.
É consciência sempre presente.
Mas a questão está exactamente no “sempre”(?)
O que acabei de escrever não é descoberta recente.
É consciência sempre presente.
Mas a questão está exactamente no “sempre”(?)
Quantas vezes, no esforço para corresponder às expectativas (como se as minhas de exigência e rigor perfeccionista não fossem por si suficientes), para fazer bem, não terei esquecido este “sempre”?
A pressão social é muito forte sobre o indivíduo e nós boiamos nela desde o nascimento, como num caldo. Fazemos parte dela.
Diluímo-nos como o sal ou o açúcar na água. Passamos a ser também pressão.
E é a isto que devemos obstar. Não perder a identidade, não deixar que se dilua quando a julgamos cada vez mais forte, mas nada mais é do que uma ilusão criada pela aceitação e reforço social em que nos tornamos mais e mais homogéneos, uniformes.
A pressão social é muito forte sobre o indivíduo e nós boiamos nela desde o nascimento, como num caldo. Fazemos parte dela.
Diluímo-nos como o sal ou o açúcar na água. Passamos a ser também pressão.
E é a isto que devemos obstar. Não perder a identidade, não deixar que se dilua quando a julgamos cada vez mais forte, mas nada mais é do que uma ilusão criada pela aceitação e reforço social em que nos tornamos mais e mais homogéneos, uniformes.
Informes.
Fato, camisa, gravata, pasta, portáteis (telefone e computador) agendas cheias, almoços e jantares de trabalho, para não falar dos “brunchs”!
Digamos que estou numa licença sabática. Um destes dias voltarei à denominada “vida activa” – como se a que aqui levo, a tratar da casa, de mim, dos meus companheiros de quatro patas, fosse inactividade, nulidade, coisa nenhuma.
O meu cão (Batalha) pastor Serra da Estrela, dá-me um toque com a pata exigindo atenção.
Olho-o.
Fita-me atento com aqueles enormes e lúcidos olhos que me intrigam e dá um latido que só posso definir como muito assertivo, quase conclusivo de algo e cala-se inclinando ligeiramente a cabeça como que a confirmar se entendi.
Um destes dias talvez lhe responda.
Não hoje.
Não, ainda hoje!
Fato, camisa, gravata, pasta, portáteis (telefone e computador) agendas cheias, almoços e jantares de trabalho, para não falar dos “brunchs”!
Digamos que estou numa licença sabática. Um destes dias voltarei à denominada “vida activa” – como se a que aqui levo, a tratar da casa, de mim, dos meus companheiros de quatro patas, fosse inactividade, nulidade, coisa nenhuma.
O meu cão (Batalha) pastor Serra da Estrela, dá-me um toque com a pata exigindo atenção.
Olho-o.
Fita-me atento com aqueles enormes e lúcidos olhos que me intrigam e dá um latido que só posso definir como muito assertivo, quase conclusivo de algo e cala-se inclinando ligeiramente a cabeça como que a confirmar se entendi.
Um destes dias talvez lhe responda.
Não hoje.
Não, ainda hoje!
(flores do meu "jardim")
33 comentários:
Trata-se de um belissimo texto com uma sensibilidade que muitos homens não têm coragem de mostrar. Não é o seu caso, logo enalteço-o pela sua coragem. E vale sempre a pena responder a um cão. Geralmente são mais atentos ás nossas palavras do que muitos seres humanos que nos olham e vê-se nitidamente que não estão a escutar uma palavra do que dizemos!
Um abraço
TD
Um belíssimo momento de reflexão , pelo que me apercebo, perpassado pela sensibilidade de um ser humano extraordinário. É natural que agora, sozinho, penses na M.M. no que lhe poderias ter ou não feito,mas creio que nada lhe faltou. O teu carinho, a tua atenção, os teus cuidados sempre estiveram presentes. A tua escrita di-lo isso. só quem está muito atento ao que o rodeia, escreve e pensa desta maneira.
Deixo-te beijinhos, um abraço apertado e o desejo de que tenhas uma noite descansada.
Eremita...
E se não houver o amanhã?
Terá valido a pena?
Uma amiga do Brasil.
"Amiga do Brasil" - há sempre um amanhã.
Hoje, ontem, amanhã, presente, passado, futuro...Creio k nada mais são do que uma mesma linha temporal e não há que remediar o passado - não quando nada, nenhum erro ou lapso foi feito sem dele ter consciência, muito menos intenção. Para além de que creio que por muito que se ame e nos demos nuca damos em iguais proporções - há que aprender com os erros e melhorarmo-nos. Por isso, há sempre um amanhã. O da aprendizagem.
Obrigado pela reflexão e contributo.
Bom fim-de-semana e um fraterno abraço
Estou de volta!
Muito obrigada pelas visitas na minha ausência!
Beijinhos e bom fim de semana!
Foto LINDAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
Segunda feira volto para te ler com atenção!...
Um belíssimo texto, onde a qualidade da escrita impera!
Sinceramente... Cada frase que eu lía... Imagens iam- se formando e vivi tudo como se estivesse dentro da narrativa!
Obrigada pela visita... Agradeço, dando- me acesso a este maravilhoso " espaço"
Vou linkar.
Bom fim de semana
Abraço da
Maria Valadas
Cheguei ao amanhecer para pensar contigo. À beira do carvalho,vamos reflectir e ouvir a natureza.
Beijinhos
... a reflexão é tão necessária ao homem como a alimentação. E tu reflectes a preceito e até indicas caminhos, fruto de experiência de vida. Óptimo.
Tem um bom fim de semana! abraço.
Não tem nada a ver, mas obrigada pela sua história do gato no meu blog. Adorei pois gosto muito de animais:)
Boa tarde
Caro confrade,
Como eu te compreendo e te invejo!
Se houver um futuro desses para mim, abraça-lo-ei sem hesitar, com ousadia e muita coragem.
Ao ler os teus posts, também eu me senti a deambular por esses caminhos serenos que percorres sem pena do tempo e com enorme vontade de beber nas sábias nascentes de que te soubeste envolver.
Permanece.
Abraço
monge
é... às vezes respondo o mesmo ao meu pastor alemão...
Nunca estarás só. Nunca
trabalharás só para ti. Enquanto essa tua ligação à Terra-mãe se mantiver. Enquanto conversares com os que passam, bebendo-lhes a sabedoria. Resta pesar na balança o que mais te fizer falta: algum silêncio precisarás; porque há sentimentos que só o silêncio "desenvasa". A tua companheira vive contigo, em cada beleza que descobres. É um altar, onde lhe vais dando o que gostaria. Uma outra forma transcendente de Amor. Que te ajude a memória, diluindo a inquietação. Nunca somos perfeitos: aproximamo-nos da perfeição sempre que possível. E é tão belo ler-te assim frágil... ajudas-nos também, sabes?
Fica bem. Abraços
passei por cá!
Gostei...volatrei!
:)
passei para reler e desejar-te um bom domingo.
Beijinhos
Viria de bom grado falar contigo, reflectir e ouvir os sons da natureza à beira do Gerês.
Beijinho
Vim desejar um bom Domingo... E reler mais uma vez o mágnifico texto!
PS: Estou com problenas no acesso aos links... Mas assim que estiver resolvido vou linkar.
Beijos
Maria Valadas
o cão que escuta
que fala.
pois fala..:)
gostei...de tudo!!!
Obrigada pela visita.
Fantástica a tua reflexão!
Tens razão, a sociedade pressiona-nos e o esforço para manter a nossa identidade é cada vez maior...
Um beijinho!
Olá Eremita
Por vezes os ventos do entardecer, sopram-nos recordações.
E, num instante, a nossa mente vagueia flutuando pelo passado saudoso.
Surgem imagens e dúvidas e certezas, e coisas que ficaram pendentes. é a vida, diz o povo!
Gostei da escrita.
Grande abraço
Vim ao eremitério deixar-te beijinhos embrulhados em abraços e muitos sonhos.
Oi Emerita!!
Identifiquei-me com o teu texto. Eu sempre fui muito dos "porquês", a idéia de fazer isto porque é isto que se faz, é isto que os outros esperam de nós, e coisas do gênero fazem-me confusão... eu não quero ser diferente de ninguém, mas acho que as pessoas estão muito iguais... trabalham e trabalham, o dinheiro não é suficiente para nada, quanto mais "ganhamos" mais gastamos, já não há tempo para educar e cuidar dos filhos, já não há paciência pra nada... anda tudo tão "diluído" nesse emaranhado económico que esqueceram-se da vida espiritual, esqueceram-se de amar as pessoas verdadeiramente, de cuidar de coisas simples da vida... pelo menos é isto que tenho percebido..
Beijinhos e desculpe-me pela delonga...
Tem razão quando diz que a pressão social nos desgasta e nos disforma.
A mim sobretudo deixa-me vazia que nem um espantalho.
É preciso arranjar um enorme equilíbrio entre a mente e a alma para não nos deixaramos afundar nesta "selva".
O amor, o carinho, o cuidado que você demonstra pela natureza fica bem patente logo no início do seu bem escrito texto, ao ter o cuidado de não "ferir" a árvore com as cordas da rede. De fato, a vida na cidade (e não precisa nem ser uma megalópole), fica a cada dia mais difícil. Apesar disso, amigo, eu ainda prefiro viver na cidade. Mas se ausentar algum tempo num ambiente, como o que você ora está, é, sem dúvida, salutar. Um abraço e uma ótima semana.
Olá Eremita!! Fico contente que você tenha gostado.. plante-o em seu coração e alimente-o com todo carinho =)
Para oferecer este Trevinho não há regras, faça como achar melhor, ofereça para quem quiser.
Beijinhos e uma linda semana
Reflexão comovente.
Sem mais palavras.
Bem haja!
Olá!
Antes de mais, bem-vindo ao meu canrinho e obrigada pelas palavras!!!
Gostei do que por aqui vi e li!
O teu "jardim" tem umas flores fantásticas!!! :))))))))))))))
Bem haja*
Perdi-me nas ondas dos seus pensamentos eremitérios e voltei atrás para melhor olhar o Quercus debaixo dos qual esses pensamentos brotaram com uma intencionalidade que a mim me tocam e muito, agora.
Atravesso uma fase da minha vida, por excessos meus certamente, que me leva a dispersar o meu pensamento e a intrometê-lo com o facto de toda a vida ter sido um "trabalhador" preocupado com o sucesso do seu labor. Balanços após balanços, não consigo aquilatar dos resultados dessa opção de vida...
...
Ah, o Quercus...parece-me a mim que é um robur. Já com uma idade respeitável.
Um abraço
António
O que mais me seduziu no texto foi o despojo de falsos pudores e a honestidade intelectual do autor.
Mesmo diluídos na corrente da vida, há sempre uma parte de nós que teimosamente se mantém insolúvel, como se fosse uma ilhota em pleno mar. E é ela o porto de abrigo que nos aconchega.
Sem dúvida, um bonito texto de quem sabe escrever e, mais importante, sabe pensar.
Um abraço.
Deixei no blog o boneco das músicas é este: http://www.esnips.com/
Mas se vc clicar por cima do boneco abre o clip e vc pode colocar o cantor ou a sua música preferida,depois é só escolher o boneco,selecionar e colocar no blog é muito fácil.
Que blog encantador! Apenas li este ultimo post, mas voltarei certamente com mais tempo! Obrigada pelo comentário no meu.
Jinhos.
Tu já entendeste perfeitamente.O cão sabe disso muito bem.A resposta virá quando estiveres preparado para ela.Absolutamente encantador, e cheio de sensibilidade.Obrigada...
Prometi voltar e aqui estou a ler mais um post.
Gosto de referenciar os bons utilizadores da nossa língua(e alma), que sempre lembro no início de cada nova postagem.
O tempo não dá para mto, pq há outros quefazeres (os tais...), mas há por aqui histórias de vida, de vivências, de entregas, que nos ajudam a ser felizes, na verdadeira acepção da palavra.
Obrigada pela tua participação e sê bem-vindo a este espaço.
Estás no bom caminho, a vida assim é bonita.
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