aqui deixo os textos recebidos no âmbito do 10º Jogo das 12 Palavras.
É com tristeza que constato a ausência de vários participantes antes tão entusiastas. Desejo que tal não se deva a qualquer difícil circunstância de vida e, breve, retomem o nosso convívio pois sentimos a sua falta.
Por outro lado saúdo 7 novos jogadores.
Seis dos quais de todos desconhecidos (neste âmbito pelo menos), sendo três mulheres: Cátia A; Belisa e Ester Maria e , no masculino: Aníbal Raposo; António Rios e Jaime A.
O 7º, uma grata supresa e já um amigo de todos conhecido. Jorge Castro, o apresentador do nosso livro, que participa com dois textos.
Aos novos dou às boas-vindas.
A todos, grato pelas participações, deixo o meu fraterno abraço.
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A história de um cão
Numa distância difícil de avaliar, sulcada por veredas lamacentas, via-se um cão em deriva, escaganifobético, magricela. Farejava aqui a ali, fungando, como se procurasse um novo indício ou coisa de mastigar algum osso, capaz de atenuar esse supremo sono que toda a fome, em falso contentamento ou delírio de uma verdadeira fábula, afinal rasgaria as entranhas dos homens e dos bichos num terrível corte de urgência, dor de uma singular tontura, o autêntico festim do inominável. Em vez de ladrar, chamando alguma alma amiga dos animais, o bicho começou a uivar. Genuíno nesse protesto mais abrangente, esquálido, o cão esgaravatou o terreno ali mesmo, e gemeu, rosnou, como aparente intérprete do desespero, da paixãopela vida toda, e voltou a esgaravatar numa tontura de salsifré até conseguir fazer de facto uma concavidade sinuosa, um abrigo que lhe permitia esconder-se da própria chuva, espécie de útero ainda límpido, talvez fecundável e ponto de partida para novas buscas, um querer quase impossível, talvez diferente forma de esquadrinhar em volta da cova, chegando aos lixos que as águas salgadas empurravam até ali. Mas nada tinha a marca da salvação. Quase tudo chegava da praia próxima, ancorava perto da lama, juntava-se aos outros restos da uma esperança apodrecida, plásticos, fios desfeitos, roupas rasgadas, tudo coisas que pareciam vir anunciar a inexistência de um espaço próprio para renascer.
A certa altura, tarde na noite, o cão deixou de arranhar a lama. Aninhou-se, de forma bem compacta na cova que cavara. E quando acordou, manhã cedo, não havia areia nem mar à sua frente.
ROCHA DE SOUSA DESENHAMENTO
Numa distância difícil de avaliar, sulcada por veredas lamacentas, via-se um cão em deriva, escaganifobético, magricela. Farejava aqui a ali, fungando, como se procurasse um novo indício ou coisa de mastigar algum osso, capaz de atenuar esse supremo sono que toda a fome, em falso contentamento ou delírio de uma verdadeira fábula, afinal rasgaria as entranhas dos homens e dos bichos num terrível corte de urgência, dor de uma singular tontura, o autêntico festim do inominável. Em vez de ladrar, chamando alguma alma amiga dos animais, o bicho começou a uivar. Genuíno nesse protesto mais abrangente, esquálido, o cão esgaravatou o terreno ali mesmo, e gemeu, rosnou, como aparente intérprete do desespero, da paixãopela vida toda, e voltou a esgaravatar numa tontura de salsifré até conseguir fazer de facto uma concavidade sinuosa, um abrigo que lhe permitia esconder-se da própria chuva, espécie de útero ainda límpido, talvez fecundável e ponto de partida para novas buscas, um querer quase impossível, talvez diferente forma de esquadrinhar em volta da cova, chegando aos lixos que as águas salgadas empurravam até ali. Mas nada tinha a marca da salvação. Quase tudo chegava da praia próxima, ancorava perto da lama, juntava-se aos outros restos da uma esperança apodrecida, plásticos, fios desfeitos, roupas rasgadas, tudo coisas que pareciam vir anunciar a inexistência de um espaço próprio para renascer.
A certa altura, tarde na noite, o cão deixou de arranhar a lama. Aninhou-se, de forma bem compacta na cova que cavara. E quando acordou, manhã cedo, não havia areia nem mar à sua frente.
ROCHA DE SOUSA DESENHAMENTO
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deriva do ser
à deriva, mas sem qualquer salsifré, anda o ser. parcela do todo, mas singular. único e autêntico no seu querer. desligado do ser supremo sobre ele caem os anos. outonais folhas das árvores. folha de calendário que, mês a mês, por inútil, se arranca. o Novo Ano anuncia-se. milhares de trombetas de des-razão ecoam pelo mundo que, limpido mas glacial, se quebra de forma escaganifobética.
o ser deriva ________________________________________vazio corpo. vazia casca à deriva __________________________________________________________ . sem norte. nas malhas da paixão preparando o renascer. em vão buscando nas terrenas acções a moral que a fábula da vida deveria encerrar.
TMara
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Os queridos anos 50
-Olha, olha, que penteado mais escaganifobético!
-Escaganifobético? Escaganifobético? Ao menos usa a palavra certa – escanifobético! Nem parece que te fartas de ler. Mas estás a ser parva, e não percebes nada de moda!. Hoje fui atendida pelo novo cabeleireiro do Salão La Belle, um autentico artista. E uma brasa, também…
Estou o máximo!!
-Bah, pareces uma flausina, pirosa e de um supremo mau gosto. Até tenho vergonha de sair contigo à rua, nesses preparos.
-Estúpida, és uma bota-de-elástico! Andas para aí à deriva, sem teres um grupo, sem teres uma paixão.
-A minha paixão são os livros…
-Ah que foleirice! Eu cá sinto-me renascer sempre que vejo as fotografias do Elvis. Ai aquele olhar límpido e terno, ai aquela voz!
-Estás a fazer da tua vida uma fábula, e depois quando acordares vais sofrer, mana. Se ao menos conversasses de vez em quando com o nosso professor de português. Mas com esse penteado escaganifobético…
-Não é escaganifobético, teimosa! É a moda, é…singular, pronto! E não me chateies mais.
A mãe intervém por fim, firme e sem querer mostrar o quanto se divertiu com o diálogo das filhas:
-Vá meninas, vamos lá acabar com o salsifré e as escaganifobetices! Já embora para o vosso quarto. São quase 11 da noite, boas horas para as meninas decentes irem dormir. Amanhã o cabelo da tua irmã já estará menos escaganifobético…
Justine
-Olha, olha, que penteado mais escaganifobético!
-Escaganifobético? Escaganifobético? Ao menos usa a palavra certa – escanifobético! Nem parece que te fartas de ler. Mas estás a ser parva, e não percebes nada de moda!. Hoje fui atendida pelo novo cabeleireiro do Salão La Belle, um autentico artista. E uma brasa, também…
Estou o máximo!!
-Bah, pareces uma flausina, pirosa e de um supremo mau gosto. Até tenho vergonha de sair contigo à rua, nesses preparos.
-Estúpida, és uma bota-de-elástico! Andas para aí à deriva, sem teres um grupo, sem teres uma paixão.
-A minha paixão são os livros…
-Ah que foleirice! Eu cá sinto-me renascer sempre que vejo as fotografias do Elvis. Ai aquele olhar límpido e terno, ai aquela voz!
-Estás a fazer da tua vida uma fábula, e depois quando acordares vais sofrer, mana. Se ao menos conversasses de vez em quando com o nosso professor de português. Mas com esse penteado escaganifobético…
-Não é escaganifobético, teimosa! É a moda, é…singular, pronto! E não me chateies mais.
A mãe intervém por fim, firme e sem querer mostrar o quanto se divertiu com o diálogo das filhas:
-Vá meninas, vamos lá acabar com o salsifré e as escaganifobetices! Já embora para o vosso quarto. São quase 11 da noite, boas horas para as meninas decentes irem dormir. Amanhã o cabelo da tua irmã já estará menos escaganifobético…
Justine
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ideia escaganifobética
revela-se no renascer singular
do salsifré,
é um límpido querer supremo
ou a fábula que deriva
num novo e autêntico
poema de paixão.
Paula Raposo
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jogo interior
límpido. autêntico.
avassalador salsifré o
o interior jogo de sentimentos de
querer renascer
singula deriva
do novo e supremo ser
estado de pura paixão
não escaganifobético
e vão sentir ou convicção
não mito fábula ou
erodida razão.
Amla
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desconfianças
do ser que sem SALSIFRÉ se ergue do vício, qual ele seja, semelham, aos olhos de quem só
Tudo o que é novo pode, aos olhos de muitos, parecer escaganifobético. todo o querer e a mais singular autêntica e límpida paixão sem qualquer deriva, o supremo renascer por fora olha e só na superfície atenta, mera fábula ou ilusão se não engano.
Eremita
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o objctivo da vida
era um autêntico dom. ele não passava de um ser singular por muitos considerado escaganifobético. de forma límpida o novo ser vivia sem salsifré, deriva ou qualquer ruído. vivia não numa fábula antes orientado pela intensa paixão do querer renascer que sabia ao alcance de todos. sabia não ser delírio, nem sonho. loucura ou heresia mas objectivo supremo da vida.
Sereia
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É um salsifré escaganifobético
autêntico e singular
que deriva novo
ao renascer das trevas
e é a fábula paixão
que do querer supremo
não esgota o límpido
poema aqui...
Paula Raposo
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turbilhão de emoções
de novo o avassalador
salsifré da paixão.
singular e límpido
sentimento do querer.
supremo e autêntico
renascer à deriva
tornando-o escaganifobética
risível figura no turbilhão
das emoções. fábula da
qual nenhuma construtiva
ilação, lição ou regra moral
perdurará.
TMara
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emergir do ser
demasiado singular. escaganifobético até. diziam-no fábula à deriva.
mítica construção do novo querer renascer. autêntico. límpido sentimento.
paixão suprema emergindo no tempo sem ruído nem salsifré.
Dark
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O VELHO E A DANÇA
Havia um velhinho
Límpido cavalheiro
Muito bem formado
Mas muito lampeiro.
Num baile bispou
Donzela sem dolo
Deu-lhe por completo
A volta ao miolo.
Sentiu o idoso,
Como é bom de ver,
De novo a paixão
A querer renascer.
Com muito denodo
(Caso singular)
Dirigiu-se à moça
Resolveu dançar.
Convidou a dama
Para o salsifré.
Passos à deriva
De trôpego o pé.
Dançou, tanto, tanto
E com tanta gala
Caiu mais a moça
No meio da sala.
Muitos assistiram
À cena patética
Que coisa ridícula
Escaganifobética.
Não é uma fábula
O caso é autêntico
Aconteceu mesmo
Ao velhinho excêntrico.
Supremo ditado,
Verdades eternas:
Tu nunca dês passos
Se não tiveres pernas.
Aníbal Raposo
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Este límpido querer
Novo é o renascer
Autêntico do salsifré
num supremo
e escaganifobético
nome e à deriva
na fábula
se apresenta em singular
paixão.
Paula Raposo
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fábulas
Francisco anda à deriva num supremo salsifré de pensamentos. uma paixão mui singular, digna de uma fábula escaganifobética, longe do querer da razão, renasce autêntica e límpida de novo no seu coração.
1 comentário:
Estou estupefacta perante a capacidade dos nossos colegas de jogo.. Limpidez , arrojo, confesso que as palavras, pelo menos mim, me levaram a fazer tres textos mas ia dar sempre ao mesmo, uma enorme vontade de satirizar o poder que nos desgoverna, e por ai adiante. Amigos, em frente, que atrás vem gente.. Fica a pergunta: Que fazer com estes textos? E fica um abraço aos que já colaboravam, ao abraço junto um sejam bem vindos aos que ousaram juntar-se a nós..Beijinho, ell
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