Arte(lharia)
- Isto mais parece um salsifré, saído de uma qualquer fábula escaganifobética!
Assim disparou dona Prazeres, toda finesse, de braço dado ao seu NOVO namorado, enquanto percorriam a galeria.
- Não gostas, minha querida? – Pergunta-lhe o namorado, com o sorriso a esmorecer-lhe nos lábios.
- Não! E não vais querer que eu diga que gosto, só para te fazer o jeito!
Luizinho sentiu-se à deriva, a ficar sem pinga de sangue. Tinha preparado a exposição com tanta paixão, com tanto amor e dedicação… e agora… agora o resultado era esta insatisfação!
- Estás a mangar… não vês que isto é arte, minha querida! – Refere ainda com alguma exaltação.
- Isto mais parece um salsifré, saído de uma qualquer fábula escaganifobética!
Assim disparou dona Prazeres, toda finesse, de braço dado ao seu NOVO namorado, enquanto percorriam a galeria.
- Não gostas, minha querida? – Pergunta-lhe o namorado, com o sorriso a esmorecer-lhe nos lábios.
- Não! E não vais querer que eu diga que gosto, só para te fazer o jeito!
Luizinho sentiu-se à deriva, a ficar sem pinga de sangue. Tinha preparado a exposição com tanta paixão, com tanto amor e dedicação… e agora… agora o resultado era esta insatisfação!
- Estás a mangar… não vês que isto é arte, minha querida! – Refere ainda com alguma exaltação.
– Um estilo de arte muito singular!
- Arte? Chamas arte a estas esborratadelas, a estas bacias cheias de mazelas, a estes cacos espalhados pelo chão?
O namorado, coitado, a sentir-se mal-amado, não queria acreditar neste autêntico descalabro. Ele que pensara fazer-lhe uma surpresa, daquilo que, para si, constituía uma proeza, e ficava agora mudo e quedo, debatendo-se entre o argumentar e o encolher-se num canto a chorar.
Ele bem sabia como a dona Prazeres era difícil de contentar… mas ainda pensara em fazê-la Renascer com a sua arte… talvez que nisso ela pusesse um límpido olhar. Mas, qual quê? O seu supremo mau feitio tinha que dar o seu sinal! E foi isso que fez com que a coisa azedasse e tivesse corrido mal.
Mas então, o Luizinho, longe de estar resignado à sua sorte, replica-lhe num rasgo audaz:
- Pois olhe, minha querida, não é assim que se conquista o coração cá do rapaz!
Fa Menor
- Arte? Chamas arte a estas esborratadelas, a estas bacias cheias de mazelas, a estes cacos espalhados pelo chão?
O namorado, coitado, a sentir-se mal-amado, não queria acreditar neste autêntico descalabro. Ele que pensara fazer-lhe uma surpresa, daquilo que, para si, constituía uma proeza, e ficava agora mudo e quedo, debatendo-se entre o argumentar e o encolher-se num canto a chorar.
Ele bem sabia como a dona Prazeres era difícil de contentar… mas ainda pensara em fazê-la Renascer com a sua arte… talvez que nisso ela pusesse um límpido olhar. Mas, qual quê? O seu supremo mau feitio tinha que dar o seu sinal! E foi isso que fez com que a coisa azedasse e tivesse corrido mal.
Mas então, o Luizinho, longe de estar resignado à sua sorte, replica-lhe num rasgo audaz:
- Pois olhe, minha querida, não é assim que se conquista o coração cá do rapaz!
Fa Menor
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fizeram escaganifobético salsifré em torno de singular fábula. derivada da mais autêntica, límpida e suprema paixão. Novo sentimento de querer renascer que lhe orientava o ser.
deu por ele enfiado num colete de forças. jogado para uma cela neutra. inócua. uma cela irreal onde nada existia fora a brancura deslavada da luz filtrada por uma clarabóia no tecto. tudo tão nada recriando o vazio do espaço que alastrou pela mente e tudo eliminou.
TMara
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Um autêntico e novo renascer
vai à deriva perturbar
o límpido querer
da paixão
e torna-se um singular
salsifré de ontem,
uma escaganifobética
fábula,
um soluço supremo!
Paula Raposo
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Os sonhos hão-de ser sempre o renascer da nossa paixão.
Uma fábula autêntica em que acreditas sem querer.
Um límpido olhar para lado nenhum.
Atitude singular de quem nega de novo.
Pensamento escaganifobético que deriva de algo que desconheço.
Salsifré que mais não passa de loucura controlada.
É pois meu destino igualar o supremo.
José Rios
(não tem blog)
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A VIAGEM
Deu por si a pensar se alguma vez teria existido amor, se não teria sido só paixão o que os unira.
Olhou o horizonte que naquele dia estava particularmente límpido, enquanto sentia o barco, o seu barco, a deslizar sobre a água tão azul quanto o céu estava. Olhando a esteira notou, como esperava que acontecesse, que a deriva era nula. Rejubilou! o seu barco, construído com o seu desenho, que todos achavam escaganifobético e que ele sentia singular!
A paixão já tinha passado e o dia-a-dia corria rotineiro, cada um para seu lado, crescendo e tendo diferentes interesses. Sim, talvez só tivesse existido paixão e com ela passada, a capacidade de se esforçarem para haver entendimento e compreensão, tivesse passado também.
Um dia, explicou-lhe que tinha chegado a altura de cumprir o sonho, que ela sabia, que acalentava. Estava na hora de partir no seu barco, para uma viagem sem tempo nem rumo.
O 'salsifré' que ela lhe fez, acabou com o que já nada restava e ele passou a ser a fábula da família dela.
Partiu nos primeiros dias do Novo Ano. O importante era querer ser autêntico, encontrar-se, renascer.
Ele, o barco e a vastidão do Universo.
Estava Feliz, em Harmonia e o supremo olhava por ele.
Claras manhãs
Deu por si a pensar se alguma vez teria existido amor, se não teria sido só paixão o que os unira.
Olhou o horizonte que naquele dia estava particularmente límpido, enquanto sentia o barco, o seu barco, a deslizar sobre a água tão azul quanto o céu estava. Olhando a esteira notou, como esperava que acontecesse, que a deriva era nula. Rejubilou! o seu barco, construído com o seu desenho, que todos achavam escaganifobético e que ele sentia singular!
A paixão já tinha passado e o dia-a-dia corria rotineiro, cada um para seu lado, crescendo e tendo diferentes interesses. Sim, talvez só tivesse existido paixão e com ela passada, a capacidade de se esforçarem para haver entendimento e compreensão, tivesse passado também.
Um dia, explicou-lhe que tinha chegado a altura de cumprir o sonho, que ela sabia, que acalentava. Estava na hora de partir no seu barco, para uma viagem sem tempo nem rumo.
O 'salsifré' que ela lhe fez, acabou com o que já nada restava e ele passou a ser a fábula da família dela.
Partiu nos primeiros dias do Novo Ano. O importante era querer ser autêntico, encontrar-se, renascer.
Ele, o barco e a vastidão do Universo.
Estava Feliz, em Harmonia e o supremo olhava por ele.
Claras manhãs
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Ano Novo
Deolinda sentia-se à deriva desde que as Festas tinham acabado. À sua volta, as pessoas pareciam renascer para a vida, desejando que o novo ano lhes realizasse todo e qualquer desejo, por mais singular que fosse. Talvez a maioria não acreditasse nessa fábula mas alguns tinham um autêntico brilho no olhar, de tanto querer que fosse verdade.
Para Deolinda a simples ideia de que uma artificial “interrupção” no tempo pudesse trazer paixão, saúde, dinheiro e todas esses lugares comuns que lhe desejavam era mais que inaceitável, era…”escaganifobética”. O seu riso soou límpido por se ter lembrado daquela palavra que usava quando adolescente. E voltou a ouvir a voz da mãe:” oh menina, não te ensinam a falar como deve ser, lá na escola?” Sendo que já não ria assim há algum tempo, pensou que, afinal, talvez o novo ano lhe trouxesse algo de bom. E nem teve que fazer nenhum supremo esforço para se juntar aos colegas que, naquele primeiro dia de trabalho, tinham aberto uma garrafa de espumante. Nos risos de todos e no salsifré que se seguiu, Deolinda encontrou o seu espírito de ano novo, sabendo, de certeza, que seria aquilo que ela dele fizesse.
Vida de Vidro
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Toque
As tuas mãos seguem à deriva pela minha pele,
Seguem num salsifré singular e descoordenado, fazendo estremecer os meus poros...
A minha mente descobre um novo mundo, voa livre,
Os pensamentos seguem confusos e seguem um rumo escaganifobético.
Apresentaste-me o prazer supremo,
Apresentaste-me o sabor autêntico da paixão,
Com o teu toque fazes renascer a cada momento a cascata límpida que jorra de mim,
Reacendes o fogo que me consome, qual fábula da fénix
Fazes-me querer repetir uma e outra e outra vez...
Mac
As tuas mãos seguem à deriva pela minha pele,
Seguem num salsifré singular e descoordenado, fazendo estremecer os meus poros...
A minha mente descobre um novo mundo, voa livre,
Os pensamentos seguem confusos e seguem um rumo escaganifobético.
Apresentaste-me o prazer supremo,
Apresentaste-me o sabor autêntico da paixão,
Com o teu toque fazes renascer a cada momento a cascata límpida que jorra de mim,
Reacendes o fogo que me consome, qual fábula da fénix
Fazes-me querer repetir uma e outra e outra vez...
Mac
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Da força da turba
da fábula escorrente
uma paixão
desliza em novo e límpido querer
qual peça que se quer
talhada à mão
e a deriva escaganifobética a dizer
que o salsifré singular
que a turba grita
é um autêntico e supremo renascer
assumido
ainda que fique aflita…
Jorge Castro
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O VESTIDO AZUL
Como num renascer da sua própria infância, a mãe tinha-lhe comprado um vestido novo. Era azul da cor dos seus olhos, com saia pregueada e mangas de balão.
A menina sentiu aquela oferta maternal como uma dádiva do céu. Apesar de ainda pequena na idade era crescida no entender e sabia que havia dificuldades em casa e aquela despesa de luxo, certamente, tinha exigido muito sacrifício dos seus pais.
Apesar disso, também era feminina e sentia-se muito feliz e contente por estrear um vestido. E tão lindo que ele era!
No seu pequenino coração, estes sentimentos obrigavam-na a andar num salsifré inquieto até chegar a hora de o vestir e poder mostrá-lo à avó que morava na rua de trás.
O céu estava límpido e ela iria, numa corrida, ouvir aquela fábula da raposa e do corvo escrita no livro grande, guardado com paixão no armário da sala onde ela, na sua pequenez, ainda não alcançava.
A mãe recomendara-lhe, de dedo no ar e com singular veemência, para não se demorar no caminho e nem pensar em sujar o vestido.
O trajecto era curto, é verdade, mas um supremo desejo de correr e saltar por cima daquele escaganifobético monte de terra colocado estrategicamente no seu percurso, fê-la esquecer o seu querer de obedecer ao pedido da mãe.
Como um autêntico barco à deriva, sem rei nem roque, salta aqui, pula acolá, ei-la que tropeça e fica estatelada mesmo em cima do monte de terra vermelha.
A saia do vestido azul como a cor dos seus olhos tornou-se castanha
como os olhos de sua mãe.
Meu Deus, e agora??
Ia ouvir sermão e missa cantada, pela certa e o seu coração pequenino começou a bater mais rápido.
Chegada a casa da avó mostrou, chorosa, o resultado do seu acidente e como certamente a mãe lhe iria ralhar.
Que se poderia fazer para remediar o infortúnio e o vestido voltar a ser azul?
E a avó, no seu saber feito de experiências de muitos anos com acidentes iguais, tratou do vestido da menina e deu-lhe a sua primitiva cor evitando que houvesse ralhetes e, talvez, umas boas palmadas pela desobidiência.
Benó
Como num renascer da sua própria infância, a mãe tinha-lhe comprado um vestido novo. Era azul da cor dos seus olhos, com saia pregueada e mangas de balão.
A menina sentiu aquela oferta maternal como uma dádiva do céu. Apesar de ainda pequena na idade era crescida no entender e sabia que havia dificuldades em casa e aquela despesa de luxo, certamente, tinha exigido muito sacrifício dos seus pais.
Apesar disso, também era feminina e sentia-se muito feliz e contente por estrear um vestido. E tão lindo que ele era!
No seu pequenino coração, estes sentimentos obrigavam-na a andar num salsifré inquieto até chegar a hora de o vestir e poder mostrá-lo à avó que morava na rua de trás.
O céu estava límpido e ela iria, numa corrida, ouvir aquela fábula da raposa e do corvo escrita no livro grande, guardado com paixão no armário da sala onde ela, na sua pequenez, ainda não alcançava.
A mãe recomendara-lhe, de dedo no ar e com singular veemência, para não se demorar no caminho e nem pensar em sujar o vestido.
O trajecto era curto, é verdade, mas um supremo desejo de correr e saltar por cima daquele escaganifobético monte de terra colocado estrategicamente no seu percurso, fê-la esquecer o seu querer de obedecer ao pedido da mãe.
Como um autêntico barco à deriva, sem rei nem roque, salta aqui, pula acolá, ei-la que tropeça e fica estatelada mesmo em cima do monte de terra vermelha.
A saia do vestido azul como a cor dos seus olhos tornou-se castanha
como os olhos de sua mãe.
Meu Deus, e agora??
Ia ouvir sermão e missa cantada, pela certa e o seu coração pequenino começou a bater mais rápido.
Chegada a casa da avó mostrou, chorosa, o resultado do seu acidente e como certamente a mãe lhe iria ralhar.
Que se poderia fazer para remediar o infortúnio e o vestido voltar a ser azul?
E a avó, no seu saber feito de experiências de muitos anos com acidentes iguais, tratou do vestido da menina e deu-lhe a sua primitiva cor evitando que houvesse ralhetes e, talvez, umas boas palmadas pela desobidiência.
Benó
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estorinha suburbana
Nada, meus senhores, de mais autêntico: André e Marisa, pela enésima vez, tentavam confluir para a sua paixão, perdida de si mesma na deriva dos acasos.
Da última revoada dos seus afectos ficara um amargor no ar após André, em momento mais inspirado, ainda que de indefiníveis contornos diplomáticos, no aconchego do leito, ter subtilmente beliscado a, de novo, sua Marisa naquela parte anatómica onde três conspícuos e alinhados sinais formavam aquilo a que ele achara por bem chamar de «Escaganifobética Constelação do meu bijou».
Mal se sabe se pelo bijou de duvidoso e algo passado gosto, mas mais se admitindo pelo vetusto termo a que a entoação carinhosa não teve o condão de apagar um deslocado tom, misto de galhofa e brejeirice, que nada bem lhe assentara, Marisa destemperou num salsifré medonho e singular que atirara com André para as vascas da agonia dos afectos.
Nessa tentativa inepta de querer fazer renascer um límpido romance, mas que tendia a embrulhar-se sempre que ensaiavam as chamadas vias de facto, André e Marisa incorporavam a desmesura da fábula urbana do século XXI: no contacto à distância, recorrendo às tecnologias de informação e comunicação mais recentes, vogando no manto diáfano da fantasia, evoluíam num supremo e doce enredo, todo ele feito de etéreos beijos e outros carinhos virtuais.
Mal chegados à nudez forte da verdade, da permuta mal processada de fluidos, até às idiossincrasias mais ou menos abstrusas a que hábitos e culturas, muito apanhados pela rama, não lobrigavam veredas de cordial entendimento, tudo se desmoronava.
Então, optaram por cantar seus tristes fados, o que sempre deu para arrecadarem farto pecúlio, por entre a multidão de almas gémeas e perdidas. E assim viverão felizes, até que…
Jorge Castro
Nada, meus senhores, de mais autêntico: André e Marisa, pela enésima vez, tentavam confluir para a sua paixão, perdida de si mesma na deriva dos acasos.
Da última revoada dos seus afectos ficara um amargor no ar após André, em momento mais inspirado, ainda que de indefiníveis contornos diplomáticos, no aconchego do leito, ter subtilmente beliscado a, de novo, sua Marisa naquela parte anatómica onde três conspícuos e alinhados sinais formavam aquilo a que ele achara por bem chamar de «Escaganifobética Constelação do meu bijou».
Mal se sabe se pelo bijou de duvidoso e algo passado gosto, mas mais se admitindo pelo vetusto termo a que a entoação carinhosa não teve o condão de apagar um deslocado tom, misto de galhofa e brejeirice, que nada bem lhe assentara, Marisa destemperou num salsifré medonho e singular que atirara com André para as vascas da agonia dos afectos.
Nessa tentativa inepta de querer fazer renascer um límpido romance, mas que tendia a embrulhar-se sempre que ensaiavam as chamadas vias de facto, André e Marisa incorporavam a desmesura da fábula urbana do século XXI: no contacto à distância, recorrendo às tecnologias de informação e comunicação mais recentes, vogando no manto diáfano da fantasia, evoluíam num supremo e doce enredo, todo ele feito de etéreos beijos e outros carinhos virtuais.
Mal chegados à nudez forte da verdade, da permuta mal processada de fluidos, até às idiossincrasias mais ou menos abstrusas a que hábitos e culturas, muito apanhados pela rama, não lobrigavam veredas de cordial entendimento, tudo se desmoronava.
Então, optaram por cantar seus tristes fados, o que sempre deu para arrecadarem farto pecúlio, por entre a multidão de almas gémeas e perdidas. E assim viverão felizes, até que…
Jorge Castro
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Era uma vez…
Dom Quico Salafrário um cinzentão meio pelado de olho vivo que andava há já muito horas neste salsifré de mundo. Um sabido, que gostava de abanar a cabeça ao compasso das modas do tempo. Para a fotografia piscava os olhitos, arrebitava as orelhas já meio peladas, abanava a cauda e mostrava a dentuça amarela dos dias. Ah perdoem, faltava-lhe o adorno mais precioso, o chapéu de palha ornamentada por uma colossal rosa de papel vermelha, que por aqueles dias se encontrava fanada de cor e forma. O velho chapéu tingira-se de um amarelo velho, aquela mesmíssima cor de palha já afeita ao sol eirado de muitos anos. Eis, pois, o retrato único e autêntico deste cidadão singular.
D. Quico, o burro!
Naquela tarde límpida de azul e prenhe de calor, conversava D. Quico amenamente com os seus comparsas sobre as últimas do povoado, quando não se sabe vindo de onde, uma pega rasou-lhe a prazenteira cabeça, e, num ápice surripiou-lhe a fanada rosa vermelha do chapéu. Furioso, apanhado de surpresa, roubado na sua vaidade, Dom Quico, arreganhou os dentes e zurrou, zurrou com a paixão da sua nobre estirpe. Burro que assim zurra é burro fino, porque nestas coisas, burro calado é burro corriqueiro, burro zurrado é burro importante. Sem querer, D. Quico ao exibir a sua cólera desembuçou a sua importante linhagem. Francisco fora baptizado, porém, rapidamente passou a Quico, porque o vulgo é Chico, e Chico só para o burro comum o calado e sofrido. Os pais de D. Quico, D. Frederico mais conhecido por D. Rico, pois que o burro fora bem esperto e nupciara com D. Bábá, filha única já entradota mas com um património jeitoso. Diziam as más-línguas, que o sogro, na pressa de se ver livre da filha emperrada, duplicara o dote. Fosse como fosse, D. Bábá com mais ou menos dote gerou D. Quico e Dona Cereja.
Dois burrinhos.
Perdão, dois rebentos prodígio, vulgo, sobredotados, sobretudo D. Quico. Ninguém se apercebeu daquela inteligência intermitente, típica de um asno de linhagem e que o guindou à Zurral Assembleia. Aí colocou a sua prosápia ao serviço do Zé-burrinho. Dona Cereja, porque era fêmea e, porque aos animais as cotas ainda nunca aproaram, foi sempre tida como diligente, aplicada mas longe do brilho zurrante do seu irmão. Foi um prodígio quando casou bem, teve pequenos asnos e foi cautelosamente feliz
E D.Quico?
Andou à deriva e mariposeando de burra em burra até que inteligentemente se apercebeu que os anos já lhe pesavam e a agilidade acasaladora de outras primaveras começava a emperrar. E, porque como se já se disse, era um prodígio teve a suprema inteligência de arranjar companheira. Uma burra doce, bom parideira, jeitosa. Titá de seu nome. Porém quis o destino que a união fosse fugaz. Divergência de zurros. Alegaram nas instâncias da lei.
Porém D.Quico Pai foi extremoso.
A vida foi saracoteando de burricada em burricada, até ao crescer dos filhos, aos estudos e consequentes formaturas. Não pasmem pela vida académica dos burros. País que é país, na vanguarda de todas as tecnologias, esforça-se pelo futuro das suas gerações. Sejam asnos, prodígios ou simplesmente comuns. Por isso é que entre nós, os burros como o D. Quico falam, têm chapéu, família e até gozam de estatuto. Um renascer de almas num País-fábula.
Voltemos, então àquela tarde salobra de calor. D. Quico furibundo bate impiedosamente com os cascos na calçada, que dado o calor da hora, se encontrava deserta de almas, que não, as dos seus mais chegados compadres.
-D. Quico acalme-se, pede-lhe o tremelicado Chico Asno
-Acalmar-me? Então não querem lá ver! Fui roubado, roubado! E por uma pega! A minha rosa vermelha! Fica sabendo, Chico, que foi a Senhora Mãe-Burra que ma ofereceu no dia do meu casamento, o que eu gostava dela! Faz parte de mim. Era a minha imagem. A rosa.
-. Oh Quico vá lá, não te exaltes assim. Ainda te dá uma coisa. Aconselha-o Jericote Palhunça, seu compincha de muito trote.
- Pois, pois. Não estou em mim. Uma pega! A minha rosa! Fui roubado!
- Tem toda a razão. Para que quererá uma pega uma rosa? Prá cabeça não será, cogitou Chico Asno.
- Também não percebo, tartamudeava D. Quico Para quererá a pega uma rosa?
- Ó homem deixa-te de lamúrias, já pareces o Dom Acha. Uma rosa? Inda por cima fanada. Não interessa a ninguém, só às pegas. Sabes que elas roubam tudo, mesmo que não preste. Está-lhes na massa do sangue. Depois não és um burro elegante, não gostas de andar “au dernier cri”? A manhã antes de ires para a Zurral Assembleia passas na loja da DG e compras um chapéu novo. Certamente que a flor será mais estilizada, menos demodée, quiçá um pouco escaganifobética mas isso meu amigo é fruto dos tempos que correm. Rosas e cravos tal como os conhecemos desapareceram. Presentemente tudo tem mais design.
-Se tu o dizes Jericote. Vou acreditar em ti.
- Pronto amanhã vamos os dois ver um chapéu novo. E depois de o colocares, aí Quico é que te vais sentir o burro mais elegante de todos nós. Aliás, deixa que te diga, querido amigo, todo esse garbo ainda te vai guindar a altos cargos, sou eu que te digo. Sei do que falo.
-Faço figas, faço figas. Projectos não me faltam. Todos os compadres ficariam protegidos, asseguro-te eu. Sabes, eu acredito sempre no que digo. É a minha mais-valia, caro Jericote.
E foi assim, que um Asinus Europeus agora ornado de chapéu elegante, ágil, vivo, elegante e teimoso, distintivos perfeitos da raça, subiu a ladeira do poder. Conta-se, que subiu, subiu até que escorregou e caiu. Não foi culpa dele. Foi de um asinino qualquer que o rastejou. A calçada do poleiro estava já tão puída que ele não se aguentou e zás, estatelou-se dando cabo das apófises dorsais. Uma tragédia. Ficou inutilizado. Tornou-se amargo na sua solidão. E rapidamente o Zé-burrinho o esqueceu.
Foram os seus netos que me contaram esta fábula. E eu aqui a deixo.
Afinal, meus amigos até para se ser burro elegante, é preciso ter sorte.
Mateso
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Da Criação
no principio,
o espaço era deriva.
autêntico caos em querer,
onde o proto-tempo regia supremo.
mas a génese singular não é eterna!
tudo o que é novo,
queda-se em paixão.
para, no mais límpido gesto de amor,
sucumbir em fragmentação.
e a desigualdade não é fábula.
nem nada por ela revestida!
juntos,
num salsifré escaganifobético,
os elementos são a dádiva da vida.
onde somos existência em renascer!
V.F.S
no principio,
o espaço era deriva.
autêntico caos em querer,
onde o proto-tempo regia supremo.
mas a génese singular não é eterna!
tudo o que é novo,
queda-se em paixão.
para, no mais límpido gesto de amor,
sucumbir em fragmentação.
e a desigualdade não é fábula.
nem nada por ela revestida!
juntos,
num salsifré escaganifobético,
os elementos são a dádiva da vida.
onde somos existência em renascer!
V.F.S
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Era uma vez….
Temos novamente palavras difíceis e vou ter de andar à deriva até encontrar maneira de as aplicar.
Bem, cá vou eu com paixão, sim, porque isto de todos os meses escrever um texto com palavras obrigatórias é, além disso, um autêntico desafio à imaginação das pessoas.
Respiro fundo, sento-me à secretária e com um lápis na mão e uma folha de papel na minha frente, sinto-me com um novo e supremo querer e vou escrevendo e aplicando os verbos ou os substantivos ou os adjectivos que me foram indicados por um singular amigo.
Não é minha intenção escrever uma fábula nem histórias para crianças nem nada que seja escaganifobético mas, sim, algo que me faça renascer a vontade de criar um texto sem me obrigar a andar num salsifré doido a consultar dicionários e gramáticas.
Vou tentar escrever qualquer coisa cujo enredo seja claro, límpido e sem grandes enredos mas que todos fiquem suspensos da sua leitura.
Assim vou começar:
Era uma vez……
Benó
Temos novamente palavras difíceis e vou ter de andar à deriva até encontrar maneira de as aplicar.
Bem, cá vou eu com paixão, sim, porque isto de todos os meses escrever um texto com palavras obrigatórias é, além disso, um autêntico desafio à imaginação das pessoas.
Respiro fundo, sento-me à secretária e com um lápis na mão e uma folha de papel na minha frente, sinto-me com um novo e supremo querer e vou escrevendo e aplicando os verbos ou os substantivos ou os adjectivos que me foram indicados por um singular amigo.
Não é minha intenção escrever uma fábula nem histórias para crianças nem nada que seja escaganifobético mas, sim, algo que me faça renascer a vontade de criar um texto sem me obrigar a andar num salsifré doido a consultar dicionários e gramáticas.
Vou tentar escrever qualquer coisa cujo enredo seja claro, límpido e sem grandes enredos mas que todos fiquem suspensos da sua leitura.
Assim vou começar:
Era uma vez……
Benó
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Fábula
Tão escaganifobética que nem eu percebi a escrita do Simão. (Já a Gatinha, letra redonda, perfeita).
Temos andado à deriva, ambos. Há meses que um autêntico torpor nos vai assolando. Simão, de idade avançada como eu, comparativamente escrevendo, vai guardando os apontamentos. Mais tarde, tento tornar límpido o conjunto dessas lembranças. Muitas vezes com a ajuda da minha última “paixão”: um portátil, não novo, mas ressuscitado.
No mais recente caso que precisei de deslindar, uma singular situação. Num sonho incrível que Simão teve (ou fui eu?), um verdadeiro salsifré. Não ficou claro quando nem onde, mas isso é habitual nos sonhos. (Sem querer, andamos em Paris a visitar uma casa que na realidade existe no Montijo…).
Nesta fábula, veio à liça a Gatinha. Acusa-me de ter um supremo amor ao canídeo.
Ao ponto de me dizer que, a renascer, iria ao registo civil mudar de raça…
Zé Viajante
Tão escaganifobética que nem eu percebi a escrita do Simão. (Já a Gatinha, letra redonda, perfeita).
Temos andado à deriva, ambos. Há meses que um autêntico torpor nos vai assolando. Simão, de idade avançada como eu, comparativamente escrevendo, vai guardando os apontamentos. Mais tarde, tento tornar límpido o conjunto dessas lembranças. Muitas vezes com a ajuda da minha última “paixão”: um portátil, não novo, mas ressuscitado.
No mais recente caso que precisei de deslindar, uma singular situação. Num sonho incrível que Simão teve (ou fui eu?), um verdadeiro salsifré. Não ficou claro quando nem onde, mas isso é habitual nos sonhos. (Sem querer, andamos em Paris a visitar uma casa que na realidade existe no Montijo…).
Nesta fábula, veio à liça a Gatinha. Acusa-me de ter um supremo amor ao canídeo.
Ao ponto de me dizer que, a renascer, iria ao registo civil mudar de raça…
Zé Viajante
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Percursos
De malas na mão,
Procurei um homem autêntico
Encontrei um escaganifobético!
Que se dane a paixão!
Pé ante pé,
Planeio um salsifré
Onde possa dançar
Quase sem pensar
De manhã, com sono
Conto uma fábula,
Em modo mono
Represento uma rábula.
À deriva num límpido... lugar
Sorri-me alguém novo e singular
Sinto um supremo renascer
Será que basta querer?
Eli Rodrigues
De malas na mão,
Procurei um homem autêntico
Encontrei um escaganifobético!
Que se dane a paixão!
Pé ante pé,
Planeio um salsifré
Onde possa dançar
Quase sem pensar
De manhã, com sono
Conto uma fábula,
Em modo mono
Represento uma rábula.
À deriva num límpido... lugar
Sorri-me alguém novo e singular
Sinto um supremo renascer
Será que basta querer?
Eli Rodrigues
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"O 9º defeito genético"
Chamaram-lhe anormal,
Escaganifobético, demente.
Mal eles sabiam
de Friedreich, a ataxia,
fardo que se carrega e se sente
Foi num querer singular,
Supremo,
uma fábula à deriva,
um desejo profundo,
autêntico,
para aquele renascer dando vida,
fruto de paixão, um novo começo
límpido,
num salsifré em hora tardia
Nada nem ninguém previa
o nono cromossoma doente
e que, aquele fardo pesado, dolente,
transporte de alegria e sofrimento,
mais tarde seria,
num qualquer tempo diferente,
a solidariedade de tanta gente
sob ternos sorrisos,
carinho e amor intensos
Amita
Chamaram-lhe anormal,
Escaganifobético, demente.
Mal eles sabiam
de Friedreich, a ataxia,
fardo que se carrega e se sente
Foi num querer singular,
Supremo,
uma fábula à deriva,
um desejo profundo,
autêntico,
para aquele renascer dando vida,
fruto de paixão, um novo começo
límpido,
num salsifré em hora tardia
Nada nem ninguém previa
o nono cromossoma doente
e que, aquele fardo pesado, dolente,
transporte de alegria e sofrimento,
mais tarde seria,
num qualquer tempo diferente,
a solidariedade de tanta gente
sob ternos sorrisos,
carinho e amor intensos
Amita
3 comentários:
Acabei de ler esta 1ªparte. O resto fica para mais tarde que o tempo corre veloz.
È com um grande prazer que constato as novas participações e a todos quero d
ar os meus parabéns pois, todos os textos estão explêndidos.
Para ti, especialmente, o meu abraço sincero.
Parabéns a todos, Quando eu for grande quero escrever como o nosso amigo Jorge Castro.. Um abraço, Ell
Ah.. OS OUTROS TAMBÉM ME ESTÃO A ENCANTAR, A BENÓ ESMEROU-SE, É ÓPTIMO "BRINCAR"COM AS PALAVRAS.
Achei as palavras muito estranhas e escrevi algo que tivesse alguma "piada"... será que teve para quem leu?!
:)
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