sábado, novembro 22, 2008

8º Jogo das 12 Palavras - 1ª parte

Hoje é um dia de festa.

Um dia de jardins floridos em 22 almas através dos seus múltiplos, vários e ricos OLHARES, por palavras expressos,agora ofertados a quem os quiser ler numa edição Edium, com capa e separadores da nossa Raquel Vasconcelos

Um jogo, algo que nunca se imaginou mais do que uma actividade lúdica na blogosfera, ganha a dimensão de livro e será hoje apresentado publicamente, 16H00, no Palacete Viscondes de Balsemão -Porto, à Praça Carlos Alberto.
A tarefa de dele fazer pública informação e dizer deste projecto, cabe ao amigo Jorge Castro , blogger e poeta ( a ordem é arbitária) .

O livro 22 OLHARES SOBRE 12 PALAVRAS é prefaciado por outro amigo, escritor e blogger, José António Barreiros e conta com citações, graciosamente cedidas pelo escritor António Rebordão Navarro a abrir cada conjunto de textos.
Venham até cá fazer a festa connosco, pois quantos mais os olhares mais floridos serão os jardins do mundo.

Por outro lado, a companheira de aventura, desde o 1º Jogo, a Elsa Nyny que andou ausente, embrenhada na execução do seu 1º livro individual, apesar de muito atarefada com o acompanhamento da finalização do mesmo, quis juntar-se à festa e, solidariamente escreveu
um belo texto para hoje.


Deixo aqui o convite que a todos endereçou: o livro Mares D’Alma de Elsa Sequeira será apresentado, Segunda-feira, 1 de Dezembro às 18H30, na Junta de Freguesia de Retaxo - Av. Dr. Augusto Beião - 6000-621 Retaxo. Para mais informações clica aqui.
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Mas as novidades não terminam aqui. Depois de anos e anos a Sónia Pessoa, também companheira destas aventuras com 12 palavras, acaba por ver os textos que desejava em livro e que com tantas recusas transformou em blogue serem editados.
Estamos convidados.
Apresentações:
- 6 de Dezembro (15h) - Fnac Alfragide/Lisboa -a cargo da jornalista Ana Leal
- 13 de Dezembro (16h) - Fnac Gaiashopping/VN Gaia

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E agora a voz aos autores dos textos deste 8º Jogo das 12 Palavras, hoje postado, em festa com o nosso livro, 22 OLHARES SOBRE 12 PALAVRAS.
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NOTA - na 3ª parte há um texto novo da Raquel Vasconcelos. Entrou fora de tempo, mas considerando as circunstâncias está lá e vale a pena lê-lo.

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No eremitério, antigo lugar que abrigava velhos eremitas dedicados, no silêncio, a uma espécie de infinitude do ser, havia musgos meio escondidos nos recantos da fortaleza conventual, sincelo orlando beirais e abrigos, mãos em prece matinal e a preparar, com misticismo, o trabalho do dia. Num estado de comiseração perante os povos abandonados em redor, os representantes da solidariedade, apesar de duramente esquecidos, levavam pão aos camponeses e recebiam pequenas ofertas de unguento para urdir os fios e a teia dos teares. Lutando contra a aleivosia dos senhores que feudalizavam o comércio, o trânsito das tapeçarias e outras coisas mais, os operários da tecelagem elaboravam longamente essa preciosidade e negociavam com a população a entrega de cada peça a outros senhores dedicados às artes e à beleza dos ornatos.
ROCHA DESENHAMENTO

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humanos e divinos atributos

os deuses detém atributos que nós humanos nem sonhamos. a infinitude é talvez o mais difícil de apreender mesmo que o misticismo faça parte de nós. segunda pele. pão, preciosidade. filosofia de vida. a comiseração é, no entanto, algo que está ao nosso alcance embora nunca com a dimensão divina, pois a aleivosia em nós encontra amplo campo de desenvolvimento para no silêncio urdir a destruição e não há unguento nem mágicas mãos que a consigam erradicar. nem o isolamento meditativo no mais recôndito eremitério no pico da montanha recoberto de gelado e belo sincelo a pode extirpar completamente.
Eremita

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mea culpa

César admira o sincelo que a geada urdiu nos ramos das árvores. uma pequena aleivosia do clima, numa invernosa manhã de Primavera, na infinitude do seu eremitério. uma preciosidade da Natureza na comiseração do silêncio. com as mãos aquecidas pelo pão acabado de cozer (unguento de calor) César sorri do misticismo e dá graças.
ana Eugénio

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Como era de costume o poeta avisou:
- Hoje visitarei minhas doze palavras-odaliscas, preparem-se.

O poeta chegou no quarto e começou a acariciar os baixos de suas palavras:

Comiseração
Eremitério
Mãos

Misticismo
Pão

Preciosidade
Sincelo
Unguento

Urdir

Todas tremeram, gozosas.

O poeta percebeu a falta de suas mais preciosas palavras-odaliscas.

Silêncio
Infinitude

Fugiram - revelaram as outras palavras – Saíram dizendo que a mão do poeta não é digna para lhes tocar os baixos, para quebrar-lhes a virgindade.

Desde então, o poeta barulha lágrimas, grita misérias nas janelas do palácio.
Até onde se sabe, silêncio e infinitude jamais retornaram para as mãos cada vez menos dignas do poeta.
Rubens da Cunha

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a batalha maior

havia algum tempo que estranhos pensamentos se infiltravam. primeiro no sono. os sonhos fugindo ao seu controlo. trazendo despojos de pensamentos que sempre rejeitara. mais tarde, ao longo do dia. com aleivosia. apanhando-o desprevenido. inquinando-o.

hoje acordara no silêncio da madrugada com uma sensação incomum. uma intensa comiseração tomara-o de assalto. vinham-lhe ao pensamento os sem-abrigo - com que sempre se cruzava no regresso ao confortável andar num condomínio de luxo. fechado castelo de senhor feudal – os trabalhadores por conta de outrem endividados. no banco expondo razões – tantas tão válidas afinal - pedindo-lhe possíveis renegociações comportáveis com os seus parcos rendimentos face ao desequilíbrio provocado pelo agravamento do custo de vida – e, contra o usual, um sentimento de dor tomava-o.

sempre detestara emoções que a mãe denominava de “humanas”. O rosto da nossa humanidade dizia ela: caridade; empatia; solidariedade; compaixão….sim, pensava de si para si. tudo isso é muito bonito desde que daí me advenham benefícios. lucros. vantagens sob alguma forma….

o misticismo da mãe bulia-lhe com o sistema nervoso. considerava-o fragilidade de espírito. nada mais. chamasse-lhe ela o que quisesse.

as longas histórias que, em criança, lhe contava de quando partira para a Índia em busca de desenvolvimento espiritual – a maior preciosidade de qualquer ser humano. de como encontrara um guru e como passado alguns meses partira para as montanhas - com a roupa do corpo, uma velha manta, um púcaro, um tacho e uns bocados de pão - e se isolara durante mais de um ano num eremitério que nada mais era do que uma pequena caverna em que nem de pé cabia…
falava-lhe da importância das mãos – instrumentos de trabalho e sobrevivência – de como elas urdiam roupa com plantas que colhia na montanha e assim se protegia de morrer congelada, de como ganhavam vida própria e com ervas e flores que colhiam amassavam unguentos com que massajavam o dorido corpo. de como, com suavidade e gratidão, arrancavam pedaços de gelo ao sincelo que durante mais de meio ano emoldurava a entrada da caverna, quase a fechando por vezes, e assim sempre tinha a vital e pura água - de oração e prece, de agradecimento, e ainda universais símbolos de paz e fraternidade.

e as histórias e conselhos da mãe, que antes ouvia como fantasias ou delírios de um espírito frágil, dominavam-no com uma realidade que nada do que sempre fora importante para ele detinha agora.

reuniu a direcção do banco e passou a presidência alegando razões pessoais - de vida ou morte.
pensaram-no atacado por doença mortal, mas ninguém ousou inquirir. sabia que assim seria. nunca lhes dera espaço para qualquer intimidade. por mais banal.

a ânsia de ver, de viver na infinitude branca e silenciosa de que a mãe lhe falara e de
se encontrar, ganhara finalmente a batalha.
TMara

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secreto refúgio

no profundo misticismo do ser e da infinitude que nos escapa, cada um empenha-se em urdir seu secreto refúgio. Eremitério. espaço de silêncio. preciosidadepão para a alma. suave unguento que com amor e comiseração sara as feridas de toda a aleivosia que pérfidas mãos atiram como dardos ou setas de gelo roubada a beleza ao sincelo caindo dos beirais.
Dark

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das tramas e aleivosas urdições

é no silêncio e nas trevas que, sem comiseração, os seres imaginam e praticam uma infinitude de aleivosias contra terceiros.

com uma espécie de misticismo dedicam-se a urdir, tramas, intrigas, falsos testemunhos, traições… um sem número de malfeitos de onde, por norma, saem de mãos limpas. "preciosidades" sociais intocáveis, como santos homens num eremitério ungidos por divino unguento criadores de trabalho, dizem… Pão que alimenta muitas bocas…

mas sobre eles sopram gélidos ventos das fornalhas do mal que os cobrem de agressivas e rubras chamas destruidoras. nunca do suave e belo sincelo que tantas vezes cobre o mundo com um branco manto de paz.
Amla

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Eremitério

Não me fales tu de aleivosia
comiseração ou misticismo
unguento
,
porque as minhas mãos
na infinitude de urdir
são pão, preciosidade
e o sincelo silêncio
do teu eremitério!
Paula Raposo


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MAIS LOGO

Olha para trás, mais uma vez, para ver o eremitério, lindo naquele dia em que o sol batendo no sincelo o fazia brilhar qual diamante, decompondo a luz em arco-íris que a maravilhava, lindo naquele silêncio tão puro quanto um manto de neve, lindo naquela infinitude paisagística onde o olhar se alargara e se habituara a ver sempre mais longe, lindo no misticismo que o envolvia e que se projectava agora nela. Quando o sentiu, sacudiu-se instintivamente enquanto pensava, que não já, que não agora, porque ainda tinha algo para fazer, antes de o poder assumir por completo.
Fora para ali que a tinha levado, cheio de comiseração, quando a encontrou meia-morta, tão maltratada. Fora ali que tinha cuidado dela, com um unguento feito de ervas apanhadas por mãos sábias, com gestos mil vezes repetidos, que as juntara, moera, misturara com óleos essenciais transformando-o, qual alquimista, naquela preciosidade de cura. Fora ali que lhe dera o primeiro pão quando já conseguia mastigar.
Estava agora de partida para um mundo de aleivosia, onde alguém tinha querido urdir a armadilha que lhe fora quase fatal. Tremia ainda de medo quando se lembrava do que lhe tinham feito, mas sabia, apesar do que o ermitão tantas vezes lhe dissera, que partia para se vingar.
Mais logo resolveria a sua vida.
Claras Manhãs


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À GUISA DE CARTA


Prezado Eremita,

Confesso que, ao receber a lista de palavras para o 8º Jogo das 12 Palavras, dado o pouco uso de algumas na linguagem corrente dos nossos dias, pensei se estaria a viver noutra época. Vieram-me então à cabeça vários livros de escritores de séculos idos, e de tal maneira a ideia se impôs que cheguei ao ponto de me imaginar vestida com a indumentária desses tempos. Pelo sim pelo não, procurei um espelho que me mostrasse de alto a baixo e constatei que o meu aspecto era o de uma mulher do ano 2008 da era cristã. Afinal aquela fantasia nada mais tinha sido do que uma reacção primária relacionada com a minha preocupação em responder de forma adequada a este desafio de escrever textos com doze palavras obrigatórias sugeridas por outros. Tarefa difícil, pelo menos para mim. Como resolver o problema? Tomei por isso a ousadia de o pôr ao corrente do meu embaraço perante o repto que nos é feito esta semana.
Numa época em que até se comunica através de palavras mutiladas pelos dedos de mãos apressadas em manejar mensagens por telemóveis, e em que vocábulos antigos foram completamente esquecidos, suponho que o meu amigo compreenderá a minha dificuldade em escrever um texto ajustado à proposta. Que não nego poderá vir a ser muito enriquecedor para quem nos ler e assim, consoante a idade, recordará tempos de linguagem requintada, ou, no caso dos mais jovens, os levará, pelo menos e se curiosos, a manusear o dicionário. Confesso, contudo, que tenho algumas dúvidas, e imagino certos obstáculos, quanto à aplicação dessas palavras na vida actual e trivial de todos nós. Dir-me-á que uma língua se constrói na sua utilização. Claro que sim, mas também por isso mesmo, dou-lhe um exemplo que me parece elucidativo. Imagine o que seria encontrar-me eu num autocarro e, já farta de ouvir uma daquelas discussões alimentadas por inflamadas difamações que por vezes animam essas viagens, tentar apaziguar os contendores e dizer‑lhes: Deixem-se dessa aleivosia, meus senhores! De certo olhariam para mim estupefactos e diriam: Olha esta! O que é que você está a insinuar? Penso que, no aceso da disputa verbal, e do gesto esboçado, não seria avisado da minha parte explicar-lhes que é de mau tom urdir calúnias e o melhor seria remeter-me à minha insignificância, não resistindo, no entanto, a aconselhar-lhes: Não percam tempo com ninharias, que ele é uma preciosidade a resguardar nas nossas vidas. (Julgo que, pelo menos, ninharias lhes seria familiar, pois que delas temos o mundo cheio…) Depois sairia do autocarro, deixando atrás de mim, estampado nos rostos dos passageiros, o silêncio da comiseração (não sei se por mim se pelos outros) e do cansaço dos dias em busca do pão que alimenta os estômagos famintos.
Bem, mas prosseguindo na explanação das minhas dificuldades em corresponder ao seu pedido, e porque me parece a propósito, lembro-lhe que esta vida urbana é completamente diferente da que goza no seu eremitério. Aqui, a efervescência devora-nos e poucas horas sobram para o misticismo e para a reflexão filosófica sobre o que quer que seja, como por exemplo o conceito de infinitude. Aqui desejam-se soluções imediatas, aplicadas ao dia-a-dia, como uma espécie de unguento eficaz que se procura para a travessia das rotinas e das dores do corpo que transbordam para a pele ou se embebem na alma. O senhor é que tem o privilégio de poder sentar-se pela manhã à beira do seu pensamento e enriquecer os seus dias com o olhar demorado no sincelo dos beirais dos telhados. Na cidade nem de beirais damos conta, que raramente os há. Temos elevadores em prédios altos e, quando viramos a cabeça para cima à procura de qualquer coisa que nos afaste da realidade que nos consome, vemos o céu à distância. O que apesar de tudo não é mau, porque o céu pode ser um telhado.
Espero, prezado amigo, que não interprete mal a minha carta e que a tome apenas como um desabafo. Sendo o senhor um eremita habituado à reflexão, presumo saberá avaliar melhor do que ninguém as apreensões de uma citadina do século 21.
M


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A Fuga

Pousei na balaustrada do eremitério,
olhei o sincelo chorando de comiseração
pelas mulheres, pelos homens, pelas crianças,
pelas mãos sem labor, sem unguento de fé,
correndo sem tino, as bocas sem pão;
raízes sem chão na infinitude da terra,
espoliados pela aleivosia dos homens.

Nem há misticismo a urdir a esperança,
quebrada a preciosidade do silêncio
na Terra-Mãe.
Miruíi


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Soam no eremitério as vozes do silêncio que mana
das mãos erguidas tocando o peito e o rosto
em prece à infinitude do amor.

Nem só o pão, unguento do corpo,
nem só o misticismo, refúgio da alma,
tão pouco o sincelo derramado pelos beirais,
disfarçam a aleivosia duma sociedade
a urdir o percurso do Homem.

Nela, a comiseração não chega,
só a razão se mantém preciosidade.
Jawaa

8º Jogo das 12 Palavras - 2ª parte



As tuas mãos

E sempre as tuas mãos. Sacrário de silêncio onde celebrava o misticismo do amor. unguento sobre a pele. Pelo toque me davas o pão do teu corpo. A água que o sincelo da minha alma gerava, matava-me a sede. Naquele eremitério feito de horas isoladas procurávamos a infinitude improvável. Precisávamos urdir uma rede fina, preciosidade de protecção contra a auto comiseração e a aleivosia dos outros. Talvez a malha fosse larga demais. Por ela fugiu tudo o que ritualizava o amor e, por fim, até as tuas mãos.
Vida de Vidro

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Místico

A infinitude do silêncio colava-se-lhe ao corpo. Caminhava lento, passando as mãos nas formas que o sincelo conseguia urdir nas árvores. A casa era mais um eremitério onde a única preciosidade vinha da luz que entrava a qualquer hora. Havia nele uma aura de misticismo que, no princípio, os outros veneravam. Tocavam-lhe como se lhes pudesse dar o pão da vida. Ou como se dele jorrasse unguento para as dores da alma. Comprovado que não fazia milagres, passaram a olhá-lo com comiseração. Por fim, devia ofendê-los pela diferença, tal a aleivosia com que, em cada dia, o humilhavam. Quando partiu, as árvores choraram, em cada jóia de gelo derretida.
Vida de Vidro

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Maldita droga!

Os pássaros grandes, quando intentam urdir um ninheiro, não têm comiseração de qualquer espécie.
Maldita droga!

Tenho tanta pena de não te conseguir dar a mão!
Tenho tanta pena de que a droga seja o teu pão!
Tenho tanta pena de que, quando te ia conseguindo a recuperação, a tua mãe não tenha permitido, dizendo que não ia deixar o filho recluso num eremitério, sem poder ter a família por perto. No entanto, agora que a começaste a odiar, lavou de ti as mãos!
Essa aleivosia empurrou-te para as ruínas da cidade, onde te perdes numa infinitude de delinquência e miséria.

Lembras-te Tó, quando eras ainda um miúdo no último ano da catequese, e no grupo te indagámos se era verdade que fumavas charros?
Nem sequer te remeteste ao silêncio. Negaste. E soubeste tão bem negar, com um tão grande misticismo que todos fingimos acreditar. Mas fiquei de olho em ti.
O teu pai chegou a falar-me da tua inteligência como uma enorme preciosidade. E eu sei que assim era. Mas começaste a fumar cada vez mais e foste enredado totalmente nas malhas dessa teia impiedosa.

Quando ainda estarias a tempo, sabes bem como demos os passos necessários a que mudasses de ares, para te libertares desse vício assassino… mas à última hora, foste levado a não sair de casa. Mais tarde, outros te tentaram ajudar e te conseguiram internar. Mas, esse sincelo que se despenhou e se espetou em ti, já estava por demais enterrado que nunca mais te abandonou.

Tenho tanta pena de não conseguir encontrar o unguento eficaz que te cure as feridas, para que ganhes o ânimo necessário a te libertares desse reino dos mortos vivos!
Maldita droga!
Fa menor
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PALAVRAS DIFICEIS

Na minha instrução primária havia um Caderno Alfabetado que servia para anotarmos “Palavras Difíceis”. Se ainda o tivesse entre mãos iria, certamente, escrever a preciosidade deste vocábulo “infinitude”; pois procurei no meu velho dicionário de Francisco Torrinha e não encontrei, assim como, na 8ª edição revista e actualizada do Dicionário de Português da Porto Editora.

Como não pretendo sujeitar-me à comiseração dos meus companheiros deste jogo, vou fazer o meu melhor e tentar urdir qualquer coisa que me agrade escrever e que satisfaça minimamente qualquer amável leitor destas aventuras.

Assim, retirar-me-ei para o meu eremitério habitual acompanhada apenas por lápis e papel, um copo de água e um simples naco de pão com que alimentarei os neurónios e mergulharei, então, no silêncio necessário para levar a bom termo este desafio.

Mesmo sem o misticismo habitual a que me entrego, quando é necessário redigir obras importantes, penso não ser alvo das aleivosias de alguns comentadores e, certamente, atingirei o objectivo pretendido, antes de ver os sincelos nas casas da minha rua que, normalmente, se formam nesta altura do ano.

Apenas e só a música servirá de unguento para o desânimo que a alma vai sentir quando acabar o texto e, relendo-o, me invadir a vontade de o inutilizar.
Atelier da Benó
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ENTRE AMIGAS

O silêncio que o misticismo de Clara impusera no eremitério era tão necessário como o pão para a boca.
A aleivosia de que fora alvo, sem qualquer comiseração, pela Joana, sua amiga de infância, trouxera-lhe uma tristeza profunda e, de mãos postas, pedira que a deixassem isolada pois, só assim iria conseguir o unguento necessário para aliviar tão grande dôr.
Nesse retiro, entregue à meditação, iria urdir a melhor maneira de perdoar e na infinitude do tempo, constatar que a preciosidade da vida é composta de coisas boas e menos boas, amores e desamores, sorrisos e lágrimas, muitos prós e alguns contras, e que a amizade entre ela e a Joana, ao contrário dos frágeis sincelos que no Inverno ornavam os telhados da sua aldeia, era suficientemente forte para vencer aquela pequena tempestade que abalara o sentimento que as unia.
 Jardim d'abrolhos
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ADEUS

Chovem amanheceres sobre a planície da tua aleivosia


Vejo-te
Através das minhas lágrimas
Tornadas sincelos,
Antes neblina envolvente
Do bosque cálido,
Quando éramos tudo,
E a alba rosada nos matizava.

Dói todo o silêncio.
Tudo o que suscito em ti
É comieração
A ponto de exilar as mãos,
Aprisionando-as no eremitério da minha face.
Rolam soluços impiedosos,
Aprimorando a arte de pintar sombras.
Atiçam labaredas,
Queimando a infinitude dos sonhos.

Grácil o misticismo que nos circundava,
Quando éramos tanto.
Éramos beijo,
Éramos abraço,
Éramos dar de mãos,
As que agora jazem abandonadas,
Famintas do pão
Feito daquele urdir de pétalas de flor de estrela
Que das estrelas chovia,
Dourado,
Que davam às divindades da nossa floresta,
Para que nos celebrássemos.

Olho-te ainda uma vez,
Vejo-te através das lágrimas,
Outrora rio onde nos refrescávamos,
Unguento que nos protegia,
Que tão delicadamente,
Espalhávamos na pele daquele desejo bom
De nos vermos continuar,
Após breve paragem,
Pelas margens dum tão bem nos querermos…

Tudo vai ruindo...

Vou deixando cair
Povoados de tristeza,
Sobre a preciosidade que houvéramos,
Sobre um coração.
Vejo ainda arder as mágoas
Com os meus olhos
Cristais estilhaçados,
Antes caleidoscópios
Quando te olhava,
Te via,
Multicolor de gestos,
E a noite vinha,
Prenhe de oferendas,
De leitos cálidos
Onde repousávamos instantes,
Quando nos pensávamos…

Fica a vida,
E…
Parto eu…
Cris
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Quando olho para o lado e o tempo pára por segundos, observo a janela e imagino aquele frio saudoso que me prende a cada sincelo, em cada ramo como se de silêncio se tratasse. Na mesa, há pão quente, escondido da fome denominada aleivosia. A minha imaginação alimenta aquele sonho por uns segundos e quase sinto um toque no momento em que ergo as mãos para descrever o momento. A comiseração não fará parte de testemunhos reais, mas antes a obra. O misticismo eleva-se entre a preciosidade do que não se pode possuir e a infinitude do unguento. Urdir não faz parte do meu vocabulário, nem tampouco saberei identificar com clareza o misticismo dos demónios que roubaram as almas poéticas. Vou até ao Eremitério sentar-me um pouco para que não me calem com espadas e sangue. Assim, poderei travar batalhar e erradicar sofrimentos… pequenos, mas existenciais.
Eli
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FEITICEIRITA

Feiticeirita chamava-lhe ele com ternura, sempre que a via correr de braços abertos ao seu encontro, admirando a cada dia que passava a sua beleza.
Cresceu a ouvir aquela voz meiga que ondulava em mar de amor, para dizer a palavra "feiticeirita" e ela habituou-se a pensar que o mundo era como ele, apesar de encontrar outros que assim não eram, julgando que seriam uma excepção.
A sua morte apanhou-a no fim da adolescência, muito perto dos dezoito anos. Viveu o desgosto em silêncio, como é próprio da dor profunda, mãos nuas, vazias de afectos, esperou pelos 18 anos para partir a correr mundo.
Ia trabalhando aqui e ali, qualquer coisa lhe servia, para conseguir comer o pão de todos os dias, mas assim que juntava algum dinheiro, partia mais uma vez, não criando raízes em lado nenhum.
Perdeu-se na Índia, tão carregada de misticismo
perdeu-se na infinitude de caminhos que encontrou e na dificuldade de fazer opções, perdeu-se pelo homem que foi o seu primeiro amor.
Viveu esse amor, como tinha vivido a dor da perda, intensamente, como se finalmente tivesse entre as mãos a maior preciosidade, sem olhar em redor, sem querer saber de mais nada. Ele sentiu-se o rei daquela ingenuidade, de completa entrega, começando a urdir um esquema em que pudesse tirar proveito da sua beleza. Quando percebeu o que queria que fizesse, a aleivosia que urdira, partiu desfeita, em direcção às montanhas, passando a acreditar que todos eram iguais, que jamais acreditaria em alguém.
Comia o que lhe davam pelos caminhos por onde andava mendigando, magra, cabelos desgrenhados, era olhada com comiseração por todos que se apercebiam, pelas vestes esfarrapadas e sujas, ser uma estrangeira que não estava associada a nenhum templo.
Feiticeirita andou durante quase dois anos, sem saber o que procurava, só tentando esquecer aquele amor que lhe levara toda a alegria de viver. O caminho traz muitas vezes o esquecimento, ou pelo menos o adormecimento da dor, é um unguento eficaz para a alma.
Naquela manhã quando acordou o sol ia alto e quando olhou para o cimo da montanha viu o que lhe pareceu um sonho, um pequeno templo cujo sincelo brilhava à luz do sol e à ideia veio-lhe a noção que tinha de eremitério. Subiu esperando que pudessem admitir mulheres, era ali que queria ficar, era ali que precisava de ficar.
Ficou durante alguns anos, aprendendo a esquecer, aprendendo a abrir o coração e a alma, aprendendo a respirar o silêncio, para mais tarde já resplandecente, descer a montanha e continuar o seu caminho de Feiticeira.
Claras Manhãs

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A breve visita do meu amigo irlandês

O meu amigo irlandês veio visitar-me. Não só por saudade, disse ele, mas quase por uma questão de sobrevivência. Cansado do seu eremitério, onde vivia num misticismo de silêncio e comunhão com a natureza, precisava com urgência de um pouco da luz e da suavidade do sul para poder enfrentar um Inverno que se adivinhava feroz, pois mal começara já enfeitava todas as noites os beirais com longos sincelos, que pela manhã brilhavam como brincos de cristal. O sol e a luz do sul, sublinhava, seriam um unguento apaziguador para as suas mãos doridas, para o corpo envelhecido e para a alma cheia de nódoas negras.
E (continuando a esclarecer-me com gravidade e graça) para que a terapêutica fosse completa, precisava também dos cheiros que no norte lhe faltavam: o cheiro do pão quente, o odor da lenha a queimar devagar, a precosidade perfumada de um campo de urze e alfazema coberto por nevoeiros leves.
“There is an infinitude of reasons for one to be happy in your country…”.
Teria sido aleivosia minha não lhe aceitar a infinidade de razões. Embora, conhecendo bem a sua fina ironia, eu vacilasse entre a comiseração pela sua possível fragilidade física e a quase certeza de que se tratava de efabulação sua por motivos indecifráveis. Na dúvida, e sorrindo, limitei-me a urdir à sua volta um casulo de ternura e amizade, e a recebê-lo de braços abertos.
Por cá ficou vários anos…
Justine

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Com a aleivosia que lhe é característica e sem comiseração pelo leitor, mete mãos á obra e começa a urdir o texto no silêncio...
Olha demoradamente o sincelo rendilhado que rebrilha ao sol, dependurado nos beirais e nas árvores do quintal.
Atira aos pássaros as últimas migalhas de pão como se de uma preciosidade se tratasse e bebe mais um gole de chá fumegante..
Embrenha-se no misticismo da escrita, unguento para a solidão que por vezes se faz sentir no eremitério numa infinitude só possível naquele lugar mágico..
Acerca-se da lareira e delicia-se com o crepitar do fogo.. Dali não sairá..Porque ali, tem tudo o que o faz feliz...
Ell

8º Jogo das 12 Palavras - 3ª parte

E, para terminamos em beleza, com os textos e o livro dos 22 OLHARES SOBRE 12 PALAVRAS, aqui fica o convite para a apresentação do mesmo, em Lisboa, 5 de Dezembro, 19H30, Livraria Barata, (Av Roma).


O sincelo

Marília olha. Um olhar de comiseração é o olhar dela. A fronte descaída sobre o peito, ela chora o amigo morto.
É já a madrugada entrando.

Pureza e graça, se diria deste amanhecer.
Não o dirá assim Marília, que uma névoa cerrada matou na serra o seu amigo.
Ela chorando, e a aldeia a recobrir-se de rendilhados, a fazer-se donzela decorada com preciosidade.
A brisa húmida a urdir-se em rendas numa infinitude.

-Uma aleivosia – pensará Marília, exorcizando.

Marília muito triste apesar da urdidura bela, apesar do fino cortinado alvo que se vai tecendo.
E o céu a alvorecer. Um céu que nem se deu em nuvens. Um céu cerrado em névoa a empardecer a alva.
E arrefecera. Esfriara muito.
Dir-se-ia que nevava e, no entanto, Marília sabe que é tão só o mistério do sincelo.

- Oferta dos deuses! - dizia a mãe quando ele se dava; e colocava as mãos em jeito de oração num misticismo e num receio.

O mistério das coisas de Deus, pela madrugada

E o silêncio recobrindo tudo como se fora unguento.
m silêncio de eremitério. Um silêncio de pão levedando.

O silêncio triste que é Marília a chorar o seu amigo.
Mcorreia


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No silêncio do meu eremitério...


No silêncio de mim
vagueando no meu eremitério
em passos lentos e silenciados
sinto a infinitude do tempo
feita pedaços de quietude
de misticismo,
meus...apenas meus...

E pela janela
olho o sincelo
que vai caindo
na noite gélida...

Mas...
estremeço... no meu silêncio...
e sinto a comiseração
nas mãos de uma criança
que pede pão
de olhar triste
fitando a solidão...
semblante carregado
a quem roubaram
a alegria de ser criança,
+reciosidade singular
que a aleivosia dos homens
insiste em apagar...

Abro as portas do meu eremitério
vou urdir um plano
e dar o pão
saciar a fome
daquela criança
serei o bálsamo, o unguento
que aliviará a sua dor,
e num novo amanhacer
olharei o sorriso
e sorrirei com ela
no silêncio do meu eremitério...
Elsa Sequeira


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Quatro Patas

(Reflexões)

A Gatinha não queria mostrar comiseração mas percebia que o silêncio dele não era um bom sinal. Não era a falta de pão, no sentido mais simples da palavra, o que mais o apoquentava. Era algo mais. Ele não vivia num eremitério e as muitas pessoas que o rodeavam causavam-lhe algum desconforto. Nenhuma aleivosia o tinha atingido mas uma infinitude de questões andava no ar. Seria o misticismo o seu ideal de vida ? Que preciosidade queria ele atingir ?

As mãos dele, velhas e enrugadas, faziam-lhe festas. A Gatinha sentia esse carinho do dono (que cuidadoso ele fora na altura da doença. O unguento que ele lhe colocara nas feridas era mais do que um simples remédio.) Agora, deitada ao seu colo, a urdir os pensamentos e a forma de o ajudar, sentia-se calma. Ao olhar pela janela, depois de uma noite muito fria e algo chuvosa, ficou encantada com o sincelo que se tinha formado no plátano grande, defronte de sua casa.

Havia de voltar ao assunto mas agora preferiu entregar-se a um sono profundo e
reparador.
Zé-viajante



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despojamento


no silêncio do eremitério, tendo o misticismo como mágico unguento protector contra qualquer aleivosia, com minhas mãos amassei o pão que me alimentou durante uma infinitude de anos.
o cérebro e as mãos a maior preciosidade que possuía. com elas colhi os secos arbustos e as fibrosas ervas que resistiam ao frio e com elas urdi tramas protectoras para forrar o chão da caverna e me manter quente e vivo.

sem auto-comiseração entreguei-me ao despojamento dos bens que até aí tinham constituído um dos objectivos de vida e a própria vida entreguei ao ser supremo. em confiança. em suas mãos me depositando.

alimentei-me de meditação. de despojamento. ao corpo que me alberga alimentei-o com raízes e matei-lhe a sede sorvendo os belos pináculos do sincelo que, como renda, bordejava a entrada do meu pequeno habitáculo.
TMara

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Bemvinda

Olhos remelosos, boca desdentada de gengivas mirradas, corpo esquálido semi-coberto por um farrapo descaído, unhas cor de viuvez, cabelos hirsutos e pardos. Pele cor de cera. Rosto sulcado de ódio e desprezo. Mãos ávidas de tudo e vazias de nada. Na infinitude de um instante brilha o desprezo da vida, no crispar das mãos o esvair da raiva alojada no côncavo do destino. É velha. Velha de anos, mas, mais ainda, velha de vida. Chamam-lhe Bemvinda. Como se o nome fosse maldição de uma vida. Bemvinda em quê e onde? Bemvinda das Dores. Ei-lo todo, todinho como se o epitáfio tivesse sido feito aos dias de nascer. Bemvinda mendiga o pão de cada dia, de mão estendida, e lábios retesados. Há raiva no seu pedir, há desleixo no seu sorriso. Desleixo não, antes simples esgar de impotência, de descrédito. Bemvinda figura das nossas ruas e vielas, escondidas à luz do dia em subterrâneos de desdém. No vai e vem dos transeuntes, a figura esbate-se por entre o colorido da multidão, ou simplesmente na chuva de cada dia. Um olhar, um pestanejar e logo o esquecimento. Nem sequer uma dor na alma, qual unguento da razão. E o mundo salta por entre as bermas da pobreza. Bemvinda senta-se no degrau da escada, aquele que lhe serve de majestoso sofá já vai para quinze anos. Espraia a saía desbotada de cores mas viva de roda. Pousa as mãos vestidas de luvas rotas no regaço descarnado. Estende o rosto pálido ao sol da tarde e respira. De olhos fechados e ouvido alerta, bebe o som da tarde de domingo, que se entorna por entre passos das gentes. Vozes, conversas aqui e ali. A orquestra da vida. Respira Bemvinda. Não estende a mão ao esmolar. Hoje não. Hoje é domingo. Hoje precisa do SILÊNCIO da sua voz. No mutismo reside a preciosidade do seu sentir. Enrola-se em golfadas de água salgada e terra negra calcada. É como o areal de onde partiu. Vazio, seco e inóspito. Um eremitério de tristeza. Um soprar de almas perdidas uivando as sílabas da pobreza. Fugiu. Fugiu. Chegou à grande cidade. Pediu, suplicou por trabalho. Não achou. Então rolou o corpo, abriu o mundo da carne, e, ei-la de rua em rua. Esquina fétida de desejo, quarto esconso de prazer, bolso minguado de algumas notas. A aleivosia do seu ser. O urdir sem teias do seu destino. E foi assim que de quarto em quarto, de cama em cama, sexo e sangue, chegou às escadas que lhe servem de sofá. A doença apanhou-a. Não tem cura. Está tomada. Mirra no dia-a-dia. As manchas malditas envolvem-na. A comiseração visita-a nos olhares de rostos efémeros. Não sente piedade, não. Isso é poesia. Sente asco, apenas, não de si, mas do mundo. Bemvinda das Dores olha para o azul em cima tão maculado de branco. Semi-cerra os olhos. E sente-se ir. Deixa que o fluir a arrecade. Partiu. Do outro lado, por entre as brumas o vale vestiu-se de sincelo em fantasmagóricas figuras de gelo, miríades flores vítreas. O irreal povoa o lugar. O frio corta a pele. O vento assobia a canção de embalar. Deixa-se envolver na melodia, no misticismo que o vale emana. Há paz no murmúrio do mundo. Chegou finalmente ao seu destino.


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INVERNO

Saio do trabalho, está inverno lá fora. Enfio o gorro na cabeça e as luvas nas mãos, pronta para enfrentar o frio cortante que se faz sentir. Percorro a infinitude das ruas, desertas e mergulhadas no silêncio da noite. Passo ao longo das arcadas que albergam os vários ministérios, e olho com comiseração para alguns sem-abrigo que ali procuram o seu refúgio...Tão perto do poder, e eles ali, tão pobres, tão despidos, sugados pela aleivosia do mundo...
Continuo o meu caminho, abanando a cabeça, procurando esquecer aquela visão de despojamento. Desvio o olhar para os beirais dos telhados e observo os sincelos...Tão belos...Parecem lágrimas deixadas pelos anjos...Sorrio...O misticismo associado a esta época dá-me para estas coisas...Só é pena o Pai Natal, ou o Menino Jesus, não se lembrar dos sem abrigo que ficaram lá atrás...Enfim...
.
Estugo o passo, mal posso esperar para chegar a casa, o meu refúgio, o meu eremitéio...Só penso no meu serão: leitinho quentinho, uma torrada feita em pão caseiro, e depois enrolar-me naquela manta quentinha urdida pela minha mãe...Ah! É mesmo um unguento para a alma...É uma preciosidade nos dias de hoje: o tempo, estes mimos para a alma, ou mesmo uma casa ou até uma mantinha...
M.M


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Eremitério


O misticismo das tuas mãos
Unguento de infinitude
poder de comiseração
E a preciosidade de urdir
silêncio e pão
Deixam a aleivosia
Ao cobrir-se de sincelo
O eremitério
Paula Raposo


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perfídia



vivera tanto tempo com aquela família que ainda lhe custava acreditar em toda a perfídia e aleivosia que acabara por revelar.
sem qualquer réstia de amor, ou até comiseração, no silêncio de afecto não correspondido, para a prejudicar, urdiram uma infinitude de mentiras traições e perfídias roubando-lhe, mais do que os bens que a família lhe deixara, o seu bem mais importante. a preciosidade interior de cada ser. a auto-confiança e a confiança nos outros. armadura, unguento das dores que a vida sempre arrasta. manancial do misticismo do ser. pão do espírito que invisíveis e benéficas mãos sobre nós espalham criando um espaço de equilíbrio e serenidade, eremitério interior que cada um traz consigo e onde vai beber a água da serenidade que, gota a gota se derrama do suave sincelo que em nós transportamos desde o começo dos tempos constituído pela mais pura água da vida.
Amla/TMara



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Uma rocha; num prado a Aurora,
verdejante planura em cristal.
Leves, tilintam cincelos
doces cânticos de Natal

Contemplo o misticismo das mãos
que pelo rosto de tantos espalham
a preciosidade da via do pão,
sem urdir aleivosia
nem falsa comiseração

Nesta rocha onde me sento –
eremitério de silêncio – secos,
meus olhos jorram unguento
para que a alegria alcance
a face de cada criança
que pelo mundo se estende
e que o fluxo do cristal brilhe,
em infinitude, nas mentes,
para que cada dia seja Natal.
Amita

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Crença


No eremitério dos cirros flamejantes,
onde somos levados à infinitude do tempo,
sente-se o silêncio em esplendor.

apenas nesse encanto
se vislumbra o misticismo
das chamas azuis do fogo intemporal.
mas há esquinas de aleivosia.
sem comiseração visível
ou qualquer unguento desimpedido.

e sentimos, nos braços da vida, o romper de sincelo.

no entanto, continua-se a urdir pão!
quanta preciosidade há nas mãos que o fazem?
VFS

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Papel químico

Era um dia gélido ainda que não se formasse sincelo em parte alguma da cidade, como sucedia noutras, mais afeitas a que o orvalho coalhasse nos beirais.
Mas quase não sentia as mãos.
O que foi que te escrevi nesse dia?
Não me recordo…
Todas as minhas cartas deviam ser escritas com papel químico, para que quando recebesse as tuas, soubesse porque me escreves a falar de gatos e flores, de regatos, de salpicos de água, de mim e de ti.

Sem papel químico… A única certeza que tenho, é sobre o livro que me dizias que um dia escreverias. Os sonhos dos outros acompanham-nos a vida inteira, não é? De tal forma que sem nos apercebermos os vamos tornando nossos.

Quando começaram as nossas trocas de cartas sem papel químico?
Acho que foi quando te refugiaste no silêncio que chamas de “teu” eremitério. Começaste por me escrever a contar que finalmente encontraras uma serenidade, um misticismo, que nunca sentirias na “nossa” cidade.
Era a “tua” cidade, até um dia nos conhecermos e ser a “nossa” cidade. Recordas-te? Conhecemo-nos quando ainda não abdicavas da “tua” cidade. O brilho nos teus olhos surgia assim que se incendiavam os candeeiros da “nossa” cidade.
Quando começaste a mudar? A mudar de cidade, de sonhos, de nasceres do sol?
Talvez quando a tua família se dispersou. Se transformou em migalhas de pão varridas pelo vento do destino…
A minha família foi sempre tão pequena, tão pequena… Pequena demais para se dispersar. E fiquei aqui, naquela que fora um dia a “nossa” cidade.
O pensamento consegue urdir uma infinitude de conjecturas. Quais as reais? Nunca saberei.

Quando decidiste ir para o “teu” eremitério concluí que tiveras a aleivosia de me abandonar. Soçobrei num oceano de comiseração e unguento algum acalmava a mágoa que abraçava a minha alma até a esmagar.

Um dia, um dia perdido no dicionário dos dias, fui até à outra margem do Tejo em busca de algo – sim, algo que se encontra numa dessas cartas sem papel químico – e a noite caiu e fiquei a olhar para esta margem do Tejo. Lisboa cintilava como se a tivessem enfeitado, como se fosse uma preciosidade colocada delicadamente num colar e ostentada numa montra para nos enfeitiçar.
Lembro-me de pensar se seria a distância que nos amolecia, nos emocionava. E fiquei ali, a olhar para Lisboa e a escrever-te uma carta sem papel químico.
Respondeste que sim – disso lembro-me, pois tenho todas as tuas cartas – que as distâncias enfeitam os lugares, o palco da nossa vida. E foi na tua resposta que encontrei a minha paz. E compreendi que nunca deixaria de ter saudades tuas mas que passaria a aceitar o “teu” eremitério… o lugar onde escreverias o “nosso” livro.
Raquel Vasconcelos

terça-feira, novembro 18, 2008

divulgação de "22 Olhares Sobre 12 Palavras" na rádio

o nosso livro está a ser publicitado na rádio da Universidade do Porto pelos estudantes de Comunicação.

Devemos esta divulgação à amiga e co-autora, Mateso.

Em Lisboa a apresentação será: na Livraria Barata, a 5 de Dezembro, pelas 19H30.

sábado, novembro 08, 2008

quinta-feira, novembro 06, 2008

Parabéns TMara

Uma fada passou e soprou-me esta notícia que não podia deixar passar em brancas nuvens...
Como tu dizes: que a vida te sorria, pois sempre te vejo a sorrir-lhe bem como a todos nós.

Para todas as amigas e amigos

lembra-te

a amizade floresce em nossos corações.
Eu, não esqueço :))

segunda-feira, novembro 03, 2008

a amiga Elsa lança o seu 1º Livro


nas palavras da própria autora:

«O "parto" está agendado para o próximo dia 1 de Dezembro, em Retaxo, fará parte do programa do 27º Aniversário da Associação Cultural e Social R.F. de Retaxo (financiadora do projecto), desde já, estão todos convidados!!»
Elsa é, desde a 1ª hora, uma das nossas entusiásticas participantes do Jogo das 12 Palavras e só interromeu, temporariamente, pelas exigências de tempo para por de pé este projecto também no colectivo - basta irem ao blog do livro e percebem como.

Quem não puder ir ao lançamento da obra pode, desde já, fazer reserva da obra para: maresdalma@gmail.com
e a palavra de ordem que vos deixo é: "em força, solidariamente com Elsa"