sexta-feira, outubro 31, 2008

As 12 Palavras do 8º Jogo


e são estas as 12 Palavras para o 8º Jogo das 12 Palavras: Aleivosia/
Comiseração/Eremitério /Infinitude/Mãos/Misticismo/Pão/Preciosidade/Silêncio/ Sincelo/Unguento/Urdir.
Os textos deverão chegar até ao dia 21 de Novembro.

domingo, outubro 26, 2008

7º Jogo das12 Palavras - 1ª Parte

Eis-nos chegados a um número místico: o 7.

O 7º Jogo, com 42 - quarenta e dois - textos está no ar, embora algumas almas atrevidas, entre as quais me conto, hajam decidido bisar ou...trisar, respondendo à minha sugestão.
Por outro lado dá-me muita alegria informar que continuam a chegar aderentes ao nosso Jogo das 12 Palavras.
Assim temos connosco, pela primeira vez, a Claras Manhãs; a Cristina Miranda e o VFS.
Bem vindos sejam.

Amigas e amigos da primeira hora continuam ausentes e deixam saudade.
Esperemos que as vidas lhes permitam o regresso,a breve trecho, ao nosso convívio.




VIDA

Vidas, encontros, desencontros, uns e outros, cruzamentos, linhas perpendiculares,
Linhas paralelas, felicidades, tédios, aconchegos, desassossegos, luz, harmonia, para no fim a capitulação encher de escuridão os que eternos se desejaram amantes.
Amante é quem exprime o maravilhoso acto de liberdade, como um bailarino rodopiando num “pas de deux” feito acto de amor com a sua bailarina. Amantes, são, quem souber ser, além de um sentimento, um irradiar de cor, em não perfeita, mas cúmplice sintonia, onde cada gesto, por mais ínfimo que possa parecer, não sem esforço, tenha sempre um superior valor, a qualquer galanteio, puramente plástico e falaz.
Jorge Santos

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O galanteio

o galanteio deve ser gesto de liberdade mútua. visa expressar um sentimento pelo que deve ser natural. fluir sem esforço. em harmonia com a luz do ser, tal como um bailarino sem capitulação combate a escuridão da apatia em sintonia com a emoção. embora falaz vale sempre a pena. se genuíno.
Eremita

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memória

cruzaram-se na faculdade e ele dirigiu-lhe silencioso, mas intenso galanteio. os olhos irradiando luz.
ela aprendera já quão falaz eram esses gestos.
sem capitulação nem esforço continuou a sua vida, alheia ao assédio dos muitos rapazes que se rendiam à luz de seus olhos - que afastava a escuridão - ao seu corpo esbelto e seu caminhar de gazela.
era harmonia em movimento. tudo estava em sintonia. até o alheamento ao efeito causado nos homens lhe acrescentava fascínio, atracção.
era de convívio fácil e aberto, mas havia nela algo que os intimidava.
rondavam-na, bebiam-lhe os gestos, os movimentos…todos lhe invejavam a liberdade mas era esta que os coibia. era tão natural e espontânea, tão fraterna e igual entre pares que nenhum se atrevia a um gesto ou palavra mais ousada.

de vez em quando cruzava-se com aquele colega que não conhecia e sempre via em seus olhos aquela doce e terna luz do silenciado galanteio.

quarenta anos volvidos Maria Lúcia lembra o primeiro encontro com o marido e sorri ternamente lembrando a bailarina luz em seus olhos, plena de sentimento, que ainda hoje os anima sempre que a fita

TMara

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no lusco-fusco

é na hora da capitulação da luz à escuridão, naquele falaz momento de transição em que tudo no mundo parece estar em sintonia e harmonia que, sem esforço, num gesto de liberdade e auto-galanteio, me ergo. orgulhoso bailarino no lusco-fusco onde tudo parece perfeito sentimento.
Amla

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Até…

“Gosto de te ver ir, porque gosto de te ver voltar”…
Um dia ouviu estas palavras. Pronunciadas com tanta harmonia, tanto sentimento, quase um grito de quem pretende mesmo expressar a forma da liberdade. Saíam de sua boca várias vezes, sem esforço. Saíam até, acompanhadas de um gesto galanteio.
E a frase era como uma bailarina na sua mente… tão doce… tão suave. Parecia penetrar na sua luz em plena sintonia com a sua escuridão, do seu tão recôndito Eu.
Mas o tempo… os olhos e os ouvidos, pertença daquela boca que tão suave e doce frase disse, deixaram de ver e ouvir. Provando assim dolorosamente que, era uma frase simplesmente falaz.
Doeu-lhe bem fundo… revoltou-se… insurgiu-se … e por fim…perdeu a força e deixou tomar posse de seu coração a capitulação. Até ao dia em que… Até ao dia… Quem sabe… Até.
Lis Varela

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Fragilidade

a luz jorrava à sua passagem afastando a escuridão que, ao mínimo gesto, se vergava em capitulação. caminhava sem esforço em total liberdade e perfeita harmonia ensaiando passos de bailarina atenta ao mínimo galanteio que, embora falaz, estava em sintonia com o seu estado de espírito. o sentimento de insegurança que a atacara pela manhã. fugaz e breve momento de vaidade permitido.
Sereia

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Voo
Sem capitulação, na escuridão da noite, mergulhada na luz do sonho, sem qualquer esforço, mente, corpo e espírito, em perfeita sintonia, com um só gesto, Lúcia ergueu-se em belos e coreografados movimentos. Sentimento em voo e liberdade a etérea bailarina rompeu todas as leis da gravidade. Pura harmonia. Galanteio do ser à vida embora falaz(es) ambos.
Dark

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Aquela rapariga que nos servia de modelo na Escola de Belas Artes tinha um rosto
quase igual ao de Haudrey Hepburn mas um corpo belíssimo, de gesto em permanente harmonia, exprimindo lberdade e luz, uma delicada sintonia com a natureza do contexto e da função. Esta figurinha elegante, carregando as suas frutas, livros, uma blusa de linho para os intervalos, tinha por nós um grande sentimento de solidariedade, fugia da escuridão, do esforço falaz, todos os seus movimentos exprimiam uma espécie de galanteio. Nos intervalos vestia um corpete de linho, comia maçãs e lia Paul Éluard. Embora parecesse respirar saúde, o seu corpo de bailarina teve de aceitar a capitulação por ter lesionado a coluna ao procurar aceder à perfeição.
Rocha de Sousa

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pas de deux




em sintonia
com o sentimento
os bailarinos
sem esforço nem capitulação
saem da escuridão para a luz
num gesto
de falaz galanteio
de pura harmonia e liberdade




ana eugénio

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Angústia

Já não dispenso a voz que cresce na escuridão
A harmonia do gesto, a doçura do galanteio
A sintonia na esperança do que nada é

Quando a minha alma se esvai na liberdade do voo
Bailarino falaz na procura do sonho, do veio
Que me conduz à luz
Que me enleva o sentimento
Que me cura a dor
Da solidão

Num esforço derradeiro, numa ânsia
De arquitectar distância
De querer cortar os ventos
Soltar as amarras, meu canto
Meu fraco lamento,
Antes da capitulação
Miruii



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O sentimento falaz
é um gesto bailarino
um não galanteio de liberdade
é capitulação
e esforço
e não é luz nem harmonia
e da escuridão
não é sintonia.
Paula R



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O relógio


O relógio balarino que marcava mesmo na escuridão, todas as fracções da minha existência a decorrer em completa harmonia, parou.
Em sintonia com ele e, por isso, em capitulação com o sentimento que por ti eu sentia, foi-se a luz, também.
Agora, faço um esforço, talvez falaz, é certo, para voltar à liberdade de novamente sentir um outro amar, mas, qualquer gesto de ternura, qualquer galanteio, que me sejam dirigidos, mais não servem, senão para me lembrar-te e sofrer em silencio por esta paixão que apagaste.
Benó

7º Jogo das 12 Palavras - 2ª parte





Coração bailarino
Para me sentir em sintonia com a paz decorrente da harmonia que quero impor na minha vida, preciso de liberdade e luz, além de um simples galanteio e, até de um gesto teu de carinho e simpatia.
Só assim, conseguirei que este meu coração bailarino, sem esforço, abandone a escuridão em que mergulhou quando tu, com a tua falaz conversa obrigaste-me à capitulação daquele sentimento tão puro e forte que eu nutria por esse alguém, nosso amigo comum.
Benó

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BAILARINA
Estava-se em quarto crescente e nesse crepúsculo a lua, um delgado e fino sorriso de uma boca feliz, descia direita ao mar. Quanto mais próximo estava de o tocar, mais alaranjada ia ficando, até por fim parecer que o tinha tocado, ou seria o mar que apaixonado subia para a agarrar. Ela estava sentada na areia, os braços rodeando os joelhos, já o crepúsculo ficara para trás, enquanto admirava o pôr-da-lua. Foi ficando. O encanto no coração, em sintonia com a noite, deixou a escuridão escorrer por ela isolando-a nas suas memórias.

Trabalhava oito horas por dia agarrada à barra, forçando a mente para conseguir dominar o corpo, num esforço continuadamente suado, exigindo-lhe o desenho correcto do gesto no espaço, a sensação de leveza dada pela tensão de todo o corpo que vibra, para partilhar com quem a via aquela sensação de facilidade que só dá quem chega à perfeição.
Estava no centro do palco, treinando, treinando, insatisfeita consigo por nesse dia não conseguir obrigar a mente a concentrar-se, prejudicando assim o seu trabalho quando o bailado estreava dali a 15 dias e ainda tinha tanto a exigir ao seu corpo, para conseguir fazer com a arte habitual o seu papel de primeira bailarina. Tão depressa ali estava, como o seu pensamento voava em perfeita liberdade para aquele pedido que a fazia sonhar. Repreendia-se de imediato, mas dali a um pouco lá estava ela embrenhada no abraço, daquele outro corpo que admirava a harmonia do seu.
Com o primeiro galanteio que lhe fizera, na corrida dos agradecimentos, voltara a cabeça para saber a quem pertencia essa voz que a arrepiara. O primeiro beijo fora dado há uns meses atrás. Era forte o sentimento que os unia. Agora aquele pedido!
Tinha de se concentrar, tinha de se concentrar no movimento de todo o corpo entre o acabar da pirueta e o salto que ia dar para os braços do seu par. Era difícil esse salto, teria de contrariar o movimento em plena pirueta e aproveitar a energia dela para se lançar no salto, que ainda lhe não saíra perfeito. O seu par resmungava, por já tantas vezes terem ensaiado sem resultado aparente. O Esforço enorme que fez valeu a pena, como sempre e a estreia foi um sucesso. O bailado ia ficar em palco durante oito dias e tinham combinado casar-se logo de seguida, por ela partir em tournée. Acesas as luzes, para os agradecimentos, só reparava na luz daqueles olhos que não se despregavam dela.
Ao acordar nessa manhã em casa dele, na véspera do casamento, espreguiçou-se feliz pensando no dia seguinte. Ele abraçou-a com amor e avisou-a de que tinham de ter uma conversa séria, já que no dia seguinte casavam.
Falaz conversa! Ou seria o pedido de casamento que tinha sido falacioso? Sentia-se traída.
As alternativas que lhe dava, três, não poderiam nunca estar em questão. Era a sua profissão! ou deixava de dançar, ou trocava de par, ou deixava de dançar bailados românticos, dizia, acrescentando que não a conseguia ver entre os braços de outro homem, principalmente os do seu par de sempre. Parva que tinha sido! Sempre o soubera ciumento e achava-lhe graça….Mas a sua profissão?
Então, sem lhe responder, com um desgosto imenso, coração desfeito, olhos marejados de lágrimas, dera-se a sua própria capitulação. Vestiu-se e foi-se embora, fechando a porta de mansinho.
Ah! A vida trocara-lhe as voltas. Sorria quando assim pensava, porque bem sabia que tinha sido a falta de concentração a trocar-lhe as voltas e não a vida. Em plena tournée e em pleno desgosto, desconcentrara-se num salto e fizera uma má recepção ao solo, partindo o tornozelo. Valera ter sido num ensaio. Sabia que seriam meses, e que nunca mais poderia dançar, ou pelo menos ter como profissão ser bailarina.
Chorara de dor, chorara de revolta por não poder continuar a dançar, chorara por ter ficado sem nada
A lua tinha desaparecido há umas duas horas e ela ali estava sentada na areia, o tornozelo ainda a dar sinais, um ano já passado, a reviver esses dois momentos dolorosos da sua vida, mas as lágrimas tinham já ficado para trás e sabia o que ia fazer num futuro próximo.
Claras Manhãs
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Noite

Perante mim nada mais que um mar de escuridão,
Perante o bem fiz um gesto de capitulação.
As trevas expandem-se, roubando toda a Luz,
As malhas da noite, um frio em mim produz...

Não consigo afastar este negro sentimento,
Não consigo afastar o amargo cálice deste momento.
Só com as criaturas nocturnas me sinto em harmonia,
Só com os demónios em sintonia.

Sinto-me agora, pela primeira vez, em plena liberdade,
Solta de quaisquer regras impostas pela sociedade.
Voo, corro, danço como uma bailarina,
Tendo como vestido apenas a nocturna neblina...

Com um galanteio, rouba-me a noite um beijo,
Ao qual respondo com um falaz pejo.
O meu esforço para fugir é em vão,
E em breve entrego-lhe o corpo e o coração...
Mac

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FALAZ

Vem espreitar o esforço que o burburinho faz para se manter em silêncio.
Um último galanteio daquele que o olha, esperando já a noite que os acolherá, enganando todos, logo mais, quando cerrar a cortina, quando todos se espalharem pelos bares da noite, iluminando a escuridão duma noite com a felicidade pelo do êxito da ante estreia.
Esconderão os beijos, os afagos, numa liberdade que capitulará, depois, quando chegar a manhã, com a roupa pelo chão, com cheiro do banho que não tomaram, para manterem o cheiro a sexo (amor, sim, porque não chamar-lhe amor?) que com todo o sentimento trocaram.
-Não abras as gelosias. Deixa-as ficar assim, entreabertas. Não quero ver o sol, já. Quero ver-te, mais uma vez, antes de sair.
Adoro quando estás nessa posição, e, a luz, a claridade te delineia o corpo.
-Tens que ir já? – Pergunta-lhe, enroscando-se nas mantas, confortavelmente, ainda quentes.
-Pois! Tens a A. À espera. Quando lhe vais dizer?

Que vontade de ficar! Que vontade de não ter que falar sobre ela, sobre o que se passa fora daquele espaço deles!
Não sabia. Talvez nem lhe dissesse. Se ele o completava, ela preenchia-lhe as horas em que não estavam juntos.
Dançavam juntos há três anos. Começaram os três mas ela não quisera seguir a carreira.
Não, não ia estragar o momento em que já o olhava dormindo.
Acontecera… Para quê tornar a vida dos três num inferno de Dante? O que ele não lhe dava, ele encontrava nela. O que ela não lhe dava, ele sabia-o na sua outra casa.
Quantos gestos mesclados pelos lençóis revoltos.
Se experimentaram a sintonia dos passos naquele palco, cederam à harmonia dum abraço, naquela residencial.
- Mas está escuro! Anda, mete-te aqui mais um pouco! Sabes que ela acorda mais tarde.
Exausto, tentando afastar pensamentos perfeitamente irrelevantes, veste-se devagar, tão devagar, à luz da lembrança dos gestos com que se amaram.
A palavra não existe, não necessitam de a inventar.
Depois, vai sair dali, não vai dizer nada, sequer o acordará.



- Então? Que tal a estreia? Que pena não poder ter ido ver-te, Amor! Estás cansado? Imagino que passaste a noite no bar, perto do teatro. Que pena. Mas hoje tinha que me levantar cedo, para fazer uns passos, ouvir uns trechos, antes de ir ter com aqueles miúdos. Há ali muito talento, muito futuro, sabias?
-Ouvia-a, sempre, com toda a atenção. Ela adorava partilhar com ele aquela relação que criara com os mais novos. Gostava tanto de a ver realizada!
-Não foi mau! Falta ainda encontrar a sintonia entre todos, mas, mais meia dúzia de espectáculos e tudo entra na normalidade.
Sabes como é, naquele meio, noite de ante estreia, é noite de limar as últimas arestas.
- …Sinto-te distante! Há algo que me deverias dizer?


Pensou no abraço dele, nos afagos.
Pensou naquelas águas furtadas, no quarto da velha pensão de quinta categoria, que conseguem esquecer ao olhar aquela vista para o mar quando estão juntos, tão juntos em encontros fugazes!
- Não! Porque haveria? Estou cansado, só isso. Pensar que vão ser semanas sempre com o mesmo espectáculo, sempre a ver as mesmas caras…
- Não reparaste que o M. te olha duma forma estranha? Como se te cobiçasse a presença. Quando eu me aproximo, ele muda completamente a forma de estar…
-Impressão tua. À noite, nestes meios, é assim. E, ao que sei, anda de olho naquela bailarina que veio do Norte. Promete, ela!
- Hum!... Não sei. A forma como ele te segue, a forma como sorri. Sou mulher, M.
- E daí? Sou homem, A.
Não queiras ver coisas onde não existem. Que mania essa de pensar que só porque se é bailarino clássico, há mais qualquer coisa!


Havia sido demasiado bom, era sempre demasiado bom, para se irritar com discussões comezinhas!
- Tens o pequeno-almoço na cozinha. Fiz-te café.
Agora vou!

Lindíssima!
Nunca perdera aquele andar, leve, de prima bailarina!
Tinha tido tudo nas mãos para ser a melhor, mas não quisera! Bastaria um pouco de exercício, umas horas com o mestre, e, ela conseguiria igualá-los, superá-los.
Ainda tentou, quando ela lhe disse que ia desistir, quando lhe falou na proposta que lhe haviam feito de tomar conta da Academia infantil…
- Nem penses nisso! Já sei o que vai nessa tua cabeça! Fiz a minha opção. Adoro dar aulas aos miúdos e ponto final. Ir ver-te é como se dançasse e isso basta-me!
E depois, que mais me faz falta? Tenho-te, não tenho?

- Não seria capaz de lhe dizer que era capaz de amar duas pessoas. Não seria capaz de dizer que não a amava. Enganá-la-ia, porque sim, ele amava-a à sua maneira, um pouco ortodoxa, sabia-o, mas, não lhe diria que não a amava, jamais!
Ouviu o som da sms a chegar.
“Estou cheio que a R. me persiga para lhe ensinar uns passos.
Vais demorar muito?
Estou aqui, naquele bar. Queria mostrar-te um cd que comprei.
Demoras?”
Até quando manteria aquela ligação?
Até quando?
Não sabia. Também, não queria preocupar-se com isso.
Estar com ele, partilhar músicas, livros, e aquela paisagem que o fazia esquecer tudo o mais, enquanto olhavam o mar, juntos, tão juntos…
Cristina Miranda
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O galanteio

um galanteio é coisa falaz. um sinal, um gesto de liberdade de quem o emite e com ele transmite um sentimento. tanto pode brilhar, em harmonia e sintonia com o ser a quem se destina e ofuscar a luz como entrançar-se, sem esforço, na escuridão. forte ou débil bailarino de palavras murmuradas. suspenso. no ar e do agrado ou desagrado que provoca. Em capitulação entrega-se a quem se dirige.
Eremita
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PALHAÇO

Eu sou Palhaço. Palhaço-bailarino. Rio dos outros, rio do mundo e rio de mim. Ah. Como rio de mim. Ah como choro de mim. Ah como rio e choro, choro e rio. Sou palhaço. Sou uma simples sintonia de vida. Corro, estatelo-me. Levanto-me. Dobro-me. Sou elástico. Sou elástico na luz e na escuridão da pista Cresço nas palmas e nos risos das crianças. Sou palhaço. Sou um pedaço de tecido colorido. Sou um nariz vermelho, uma cabeleira de palha, um laço azul. Sou o meu próprio motejo! Ninguém me percebe. Ninguém escuta a raiva de um palhaço. Oh não, um tal sentimento assim? Não! O palhaço é feliz. O palhaço ri. O palhaço rebola. O palhaço é alegria. É assim. Na harmonia das cores, no brilho dos risos., no calor falaz das palmas, a vida é um momento de liberdade. Sou palhaço homem que rebola, rebola na graça de uma pista Sou palhaço de sapatos grandes e pés dançantes. Sou Bailarino de risos e graças esvoaçantes. Esfusiante, rebolo que rebolo na gargalhada dobrada de um gesto de pilhéria. Zombo de mim porque rio dos outros. Choro de mim porque rio do mundo. Sou assim galante-palhaço em esforço. Esforço-me nos saltos, nos esgares, nas caretas, nos textos que decoro, nas falas que titubeio. Uma moedeira Sou palhaço e faço da momice galanteio que distribuo à gente. Gente triste. Gente que ri ao bilhete. Gente que ri de mim, o palhaço. Gente que chora da vida, como eu, o palhaço. Rolo e rebolo na pista. Tropeço nos pés. Caio, estatelo-me, e elástico levanto-me. Os meninos riem. Eu rio, choro e aceno. É a minha capitulação à verdade.
Mateso
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SALA DE ESPERA


(Não sabendo o significado da palavra falaz - escolhida para um passatempo feliz - foi preciso procurar. E cheguei à conclusão que o autor da escolha, se revelou ardiloso ao pregar-nos esta partida).

Sala de espera de um hospital. Mais um (logo há mais…). Consultas externas. Gesto tantas vezes repetido, tirei a senha para a inscrição. No esforço para não adormecer fui ajudado pelas conversas constantes dos outros doentes e pelo sinal acústico que vai chamando: senha C 01, senha C 02…
Saí de casa de madrugada, escuridão quase total. Toda a rua molhada, de chuva ou orvalho, não soube bem. Na cidade grande, Avenida da Liberdade acima, um sentimento de tristeza e revolta. Sob as arcadas de um centro comercial, junto a lojas de roupas de luxo, várias camas improvisadas. Cartões, cobertores, sacos velhos. E as vidas adormecidas de pessoas sem abrigo. A um canto, pormenor curioso, uma enorme caixa de cartão, cama desenhada com esmero, abrigava duas pessoas. Um casal? Amigos? Amantes? Quem sabe! A falta de luz e o recolhimento debaixo das roupas, não deixava perceber.

O número de utentes vai aumentando. O ruído também. O televisor ainda não foi ligado. Continuam as chamadas mas ainda não há consultas. Em sintonia com este ambiente, algumas crianças brincam no espaço infantil ao canto da sala. Reparo agora na harmonia das cores dos brinquedos e jogos didácticos que colocaram na mesa. Uma jovem lê atentamente um livro, alheia a todo o ambiente da sala. Pelo seu porte não parece pertencer a este conjunto de utentes. Sente-se que é diferente. E daqui, apetece-me dirigir-lhe um galanteio. Mudo, incógnito, porque de outra coisa não sou capaz.
No televisor, finalmente ligado, as notícias da capitulação do sistema financeiro são manchete.
O que me trouxe a este hospital, uma pequena cirurgia, está prestes a acontecer. Não há medo – tantas vezes repetida a cirurgia – mas lágrimas correm nos meus olhos. E as razões são muito diferentes do que se pode imaginar.

(Desta vez doeu. A capacidade de resistência é menor, talvez. Mas agora apenas uma lágrima, balarina como as outras, aflorou aos meus olhos. Enquanto um sorriso aberto agradecia à jovem doutora a sua intervenção.)
Zé-viajante
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Sobre os telhados das casas
O mundo dança
Em falaz sintonia
Qual bailarino-equilibrista
Lançando raios de escuridão

Do amor menor,
Galanteio em tempos idos,
Vivenciámos a capitulação
Num reino de fausta mentira

O amanhã, em harmonia
Será tecido nos alinhavos –
Esforço de longos dias –
Da liberdade, da luz da vida
Num unívoco sentimento
E sob os telhados das casas
Bailarão sorrisos amenos
No gesto leve da rama
Em marés dúcteis e calmas
Amita

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Um bailarino, uma bailarina, e o gesto partilhado de música dançada abrindo luz na escuridão de um palco de teatro.
Na sala, entre a assistência, flutua a liberdade que o prazer dos instantes oferece a cada um de modo diverso, mas quer-se arredado do lugar o galanteio falaz dito em surdina ao ouvido do sentimento vago. Desejamos mais do que o esforço inútil gasto em palavras frívolas, desejamos mais do que capitulação atrás de capitulação. Dos outros e de nós mesmos. É no silêncio do olhar puro que nos tocamos em sintonia apetecida. Talvez breve, sim, talvez breve o encontro, mas que importa a sua brevidade se a harmonia existe naquele momento de Arte, vivida assim a experiência humana da essência das coisas?
M

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liberdade e sentimento

Liberto da lei da gravidade,
Imutável mas falaz princípio, o
Bailarino eleva-se sem
Esforço. aparenta ave em voo,
Radioso corpo de luz,
Dardo atravessando o espaço
A recriar a harmonia do gesto
Do início do mundo
Em magia primordial e

Sintonia com a vida. rompe a
Escuridão sempre anunciada
Nos livros que falam do fim de
Tudo o que existe e do
Irado julgamento final onde
Mulheres e homens responderão,
Em opróbrio, por seus humanos actos,
Naturalmente em capitulação
Total sem que um galanteio
Ou piedoso gesto os liberte.

TMara

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ESCURIDÃO

Bailarina do sentimento.

Sintonia luz em mim.

Capitulação mesmo,
que o esforço é falaz
diante do galanteio, da harmonia.

Gesto e liberdade
acendem o fim do túnel.
Rubens da Cunha

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A chuva tarda e não ouço o galanteio do mar.
Faço-me à luz na harmonia do gesto, bailarina do vento falaz
que sopra e sussurra lucubrações de esperança
na escuidão donde mano.
E a tempestade ruge mas não avança
Nem nuvens, nem sombra de água.
Falta o arco-íris a que pertenço
A sintonia das cores, a curva doce, o sentimento
que me depõe no oceano.

Resisto à capitulação
num esforço de liberdade insana
Procuro ainda.
Jawaa

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galanteio


Galanteio é gesto de falaz sentimento sem esforço feito. mais do que a harmonia do bailarino elevando-se na luz, capitulação sem sintonia ou liberdade. esquecida ave em queda na escuridão.
Eremita

7º Jogo das Palavras - parte 3






liberdade

Luz que sem capitulação
Imobiliza o gesto em sintonia.
Bailarino que afasta a
Escuridão repondo a harmonia
Roubada. através do sentimento
D
o ser. num galanteio de
Amor não falaz tece a trama
Do olhar que a sustenta sem
Esforço.
TMara

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REUNIÃO

Começou a reunião antes da hora marcada. Com todos presentes, não havia necessidade de espera. Num gesto que era habitual nela, puxou para trás os longos cabelos. A luz do dia inundava já a sala. Na sua primeira apresentação aos colegas, fez um esforço para estar à vontade, apesar do grande nervosismo que a assaltava. Nomeada recentemente directora dos recursos humanos, Isabel sabia que muitas das decisões a tomar seriam polémicas. Tinha liberdade de actuação e a confiança do administrador. Mas sabia que um sentimento de inveja poderia instalar-se em alguns daqueles quadros, na sua maioria masculinos.

(Num repente recordou aquele momento em que, criança, dissera aos seus pais que ia ser bailarina. Afinal a dança era outra…)

No primeiro intervalo para o café pensou que até ali tudo correra bem. Tinha havido uma troca interessante de pontos de vista e a harmonia era quase total.
Poderia ser um “ apalpar de terreno “, é certo e até recebera um galanteio.
(Rui era o colega que o dissera. Ia estar atenta e tentar perceber o significado…)
Retomados os trabalhos foi-se apercebendo que a sintonia de opiniões tinha alastrado. E isso não lhe agradava. Preferia luta e uma discussão sã.

(Veio à memória a razão porque rompera o noivado há tão pouco tempo. Ela sabia que a capitulação do João em relação às suas ideias era o principal motivo.)

Terminada a reunião e esclarecida a sua posição na empresa, despediu-se dos restantes colegas. Lá fora a escuridão era total.
À saída do elevador, Rui, o galanteador, perguntou-lhe se queria ir beber um café e conversar um pouco…
(Isabel sabia o que isso significava. A partir desse momento, para si, o Rui seria considerado para sempre um perfeito falaz)
Zé-viajante
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A liberdade, pairava-o em breves momentos, tornando sublime o pormenor.
O momento sem tempo ou espaço, onde o filho o fita com amor um ultimo instante, antes de cerrar as janelas da alma e deixar-se levar por Morfeu, que o afasta da escuridão do quarto para prados de sonhos azuis.
Olha o filho a dormir, segurando a espada de luz jedi Skywalker, tão Luke quanto ele, deixando-se flutuar, na beira da cama, olhando aquele ser, seu filho, seu maior sentimento de amor. Nesse momento, pensa, pensa que não sente mais a harmonia das horas, um dia juradas eternas, felizes. O galanteio do puro gesto se ocultou algures no tempo, sempre o tempo, mas não se recorda mais do tempo. Com medo, sabe como batem as ondas de dor, a recusa, o esforço em manter uma sintonia, que se desvanece. Apenas o seu bailarino no justo sono cresce, e por ele vai resistindo, porque ainda a ama, à falaz capitulação.
Jorge Santos

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Bailarina em desequilíbrio

À luz preferes a escuridão que te esconde o esforço de parecer em sintonia com uma falaz ideia de liberdade. Rejeitas o gesto que não é baseado em sentimento e o galanteio sem propósito. De alguma forma sabes que a capitulação te afasta da harmonia. Bailarina em desequilíbrio, conseguirás evitar a queda?
Vida de Vidro
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A escuridão existe
mas na harmonia do gesto
a bailarina falaz
toma o galanteio
como caitulação
e em liberdade e luz
fica a sintonia
do esforço que une
o sentimento.
Paula Raposo
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Bailarina vogando na escuridão,
a desenhar um gesto largo mas sem esforço,
harmonia do ser,
sintonia do sentimento e da liberdade,
sorriso quase falaz
a par de um galanteio
com luz própria.

Braços de claridade
rodando no espaço cada vez mais aberto,
corpo solto, inteiro, de verdade,
e os violinos descendo o valor melódico
e logo a figura também nessa curva,
mãos pendentes,
seguras no seu ondular,
asas emergentes,
ainda seguras no simétrico batimento,
depois longe, breves,
e lentas e leves,
e como se tardassem, tardassem muito,
a chegar ao instante final e grave
da capitulação doce, docemente.
Rocha de Sousa
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A CAMISA

Ela ali estava, diziam que debotada, mas linda, talvez mais bonita ainda do que quando era nova. Era necessário, talvez apreciar-lhe o estilo. Dengosa, rosada mas tendo ainda e sempre o verde da esperança.
Galanteios foi o que mais ouviu quando era nova, agora….muitas vezes, falaz o que se entretinham a dizer sobre ela.
Era dele, homem elegante, bailarino que tantas vezes dançara com ela, apreciando a liberdade que lhe concedia no gesto sempre impecável, dançando com ela em completa sintonia.
Quando a tinha, parecia que dela irradiava luz, por o sentimento que nos outros causava ser de admiração e o seu ego enchia, olhava-a, revirava os olhos para melhor a mirar e não poucas vezes ao passar por um espelho espreitava o efeito que faziam, os dois juntos, na assistência.
Como lhe diziam que sempre com ela andava, resolveu fazer uma pausa e por uns largos tempos pusera-a de lado, pensando que quando de novo com ela aparecesse, o efeito seria devastador em quantos os olhassem, principalmente pela harmonia que existia entre os dois.
Quando a fora buscar e para ela olhara entrara repentinamente em túnel de escuridão. Fora com esforço que para ela olhara uma segunda vez, como para se certificar que era a mesma. Debotada!
Zangado, com ela na mão, fora confrontar a mulher. A capitulação fora rápida: sim, era verdade, por engano metera a camisa na lixívia.
Ela por já não estar tão bonita, no entendimento dele, sofreu com a rejeição e passou a ficar em casa, arrumada junto com os trastes.
Claras Manhãs
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bailarino professor

O tango que danço no palco da sala de aula faz-me bailarina desajeitada. O meu par, desprovido de carnes e olhar, é apenas sensação consciente, que me impele no requebro do vai e vem. O esforço repetido na perfeição da dança torna-me marioneta do gesto e da palavra que, talvez por deficiente condição acústica da sala, se perde nos galanteios ruidosos que não prazenteiros dos clientes-alunos. A minha sala de baile é real. Sentados nas cadeiras de pau, os alunos, perdão antes clientes, olham-me críticos porque detêm o poder, não da sabedoria, mas antes da força. E sob a harmonia intrínseca do contexto, lá vou eu esvoaçando no meu tango. Roda que roda, rodopia, flecte, cruza, baixa, levanta, compasso estimula-me. Deito a cabeça para trás, deixo que o corpo se plasme à sabedoria, sorrio, agito-me no voltear. Eis que os acordes finais estão prestes. Afogueada, depois de tamanho esforço, de olhos brilhantes encaro a minha plateia esperando que da sintonia de encanto, um breve galanteioO, sorriso ou assentimento se esboçasse. Pobre dançarina. Triste professora! Somente a escuridão de olhares me acolhe. Perpasso de novo a coreografia, mental e rapidamente. Não encontro falhas. Talvez, quem sabe, apenas um momento falaz quando me deixei envolver. Talvez o meu erro. Os rostos hirtos, ocos de sentimento olham de soslaio para a bailarina-professora. Uma chata quase pré-histórica. Devia estar em casa. Ridícula com tanto baile. Professores bailarinos só de hip-hop A música é outra. Sem compromissos. O ano está quase passado. E apenas começou. Eles sabem tudo. Conhecem a mentira vestida de andrajos de liberdade.
A música arranha o ar. O ruído tomou o corpo do palco. Pego nos meus sapatos de tango, rodeio a saia vermelha, ajeito o cabelo desfeito mais o trabalho inglório, e, olhando a luz que se vai filtrando na janela despida, sinto a revolta dos anos, a revolta do achincalhar, a revolta que preside à capitulação de todos os dias!
Mateso

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Cor matinal

Um som estridente ressoou pelo casarão adentro, fazendo rodopiar, num gesto de bailarina, o coração assustado de Miguel. Ainda de forças quebradas pela noite mal dormida, teve de ensaiar um grande esforço para se erguer.
Transpiravam-lhe as mãos quando rodou a chave na fechadura.
Do lado de lá, dois rostos femininos encaram-no com surpresa. Identificam-se.
– Quem é o senhor? – Pergunta uma das jovens.
Miguel fica sem saber que responder, mas consegue dominar a situação e ilude a pergunta.
– Que desejam?
– Vimos buscar os meninos. – Percebe uma resposta seca, talvez numa tentativa de cortar pela raiz uma eventual resistência.
Então, propõe-se travar aquele propósito sem qualquer capitulação. Estava ali para proteger os seus pequeninos.
– A mãe deixou-os sozinhos em casa…
– Não! – Cortou Miguel. – Deixou-os comigo!
Assim. Com total liberdade. Ninguém lhe arrancaria aquelas pérolas que acabara de encontrar. Por isso ensaia o acto falaz.
– São meus filhos. Nunca permitirei que os levem!
– Mas a mãe…
– Já não têm mãe. – Gemeu. – Não os podem deixar também sem pai…
Quase desfalecia de dor. Miguel começava, agora, a entregar-se a um sentimento de inquietação que o rondava, pela ideia de que poderiam querer interná-los num lar de acolhimento de crianças em risco, afinal eram órfãos, e ele, um intruso.

Mas não existem verdades absolutas. Os sustos e as surpresas surgem sempre repentinamente, revelando o quão ilusória é uma certeza e abstracta uma harmonia. Do mesmo modo, na ecuridão pode esplender inesperadamente uma luz, qual galanteio que converte uma amálgama de mágoas em sintonia perfeita de cores e tons.

Deste confronto com as Técnicas de Serviço Social vem a nascer nova alma em Miguel. Sofia vive. Acordou quando todos a julgavam morta. Era ela que as tinha mandado.
Fa menor
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evanescência

a bailarina desconhece os conceitos de esforço e capitulação. sabe, desde sempre, que a sua arte vive de sentimento, sintonia , luz e movimento em plena liberdade do ser. da harmonia criada e que para alcançar esta qualidade há que trabalhar exaustivamente o gesto rompendo todo e qualquer tipo de escuridão, mas que ela é breve e falaz desmoronando-se tão rápida como qualquer galanteio ao sair da boca que o produz ou da mão que o escreve, ou pior, iludindo quem o recebe se por ele ofuscado.
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falacidade
em sintonia com a música, sem capitulação nem esforço o bailarino, sentimento puro, elevou-se em voo.
no ar, rodeado pela intensa luz que irradiava, num gesto de liberdade em movimento, penetrou a escuridão da sala.
acolhia com agrado elogios e galanteios, mas não se iludia. destinavam-se ao bailarino, não ao homem em si. quando o corpo envelhecesse, a pujança e a harmonia dele migrassem evaporar-se-iam. sabia ser a fama coisa falaz.
Sereia
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O menino que queria ser pássaro

(tendo ainda na memória Billy Elliot, de Stephen Daldry)

O menino sentia-se diferente. Diferente dos outros meninos que, sem se questionarem, continuavam a repetir os hábitos familiares e tradicionais, mesmo que daí não resultasse alegria. Mesmo que isso representasse uma espécie de capitulação. A tradição queria-os a jogar boxe para se tornarem homens, e eles aprendiam boxe e contentavam-se com o prazer falaz de um elogio ou de um galanteio ao fim do treino. A tradição queria-os mineiros em adultos, e eles mineiros seriam, sem perguntas nem ambições.

Ele era diferente. Ele queria erguer os olhos da escuridão do quotidiano e alargá-los para horizontes de liberdade. Ele queria chegar ao mundo da harmonia e da audácia. O menino sentia-se com forças para, num gesto transgressor, criar asas e ser pássaro e não pedra, e viver em sintonia com o sonho que o preenchia. Ele queria dançar.

Foi duro enfrentar o preconceito e a intolerância. Por vezes o esforço parecia superior às suas frágeis forças, ou às forças que o seu frágil corpo fazia adivinhar. E no entanto permaneceu sempre, obstinada e corajosa, a vontade de ser pássaro. O sentimento seguro de que poderia voar em direcção a uma qualquer luz apenas pressentida, para além do abismo dos dias taciturnos.

Chegou a ser um grande bailarino.
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Jaz a sintonia
Do amor, da música, do envolvimento
Falaz a harmonia
Do esforço, do galanteio e do sentimento
Luz a liberdade
De galanteio, de gesto e de escuridão
Bailarina, a saudade
De morte, de sangue e capitulação
Afunda-se o desejo
De paixão, de calor e de solidão.
Eli Rodrigues

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Corpo franzino, cabelo de limpeza duvidosa, caído sobre uma t-shirt de marca a que o tempo se encarregara de levar a cor..
Entre os dedos da mão direita, como que colado à pele, segurava um cigarro tão gasto quanto ele próprio.
Diz quem o conhecia que por vezes levava o cigarro à boca (de dentes amarelecidos do tabaco e da falta de higiene) somente para o acender...
Discurso falaz, galanteio sempre pronto, ex – bailarino de profissão, proxeneta assumido, subia e descia a avenida vezes sem conta, num nervosismo e esforço que não passava despercebido a quantos com ele se cruzavam, e eram muitos!
Uns eram moradores no beco que dava para a avenida, outros, simples cidadãos anónimos e havia ainda os que por inerência de profissão eram chamados a intervir sempre que Osvaldo se envolvia em richas próprias de quem há muito se habituara a dominar o quadrante da avenida.
Era um homem sem sentimentos, passava cabisbaixo, num gesto rápido mal cumprimentava o senhor Apolinário, barbeiro estabelecido na rua havia mais de 50 anos e proprietário de umas águas furtadas, onde Osvaldo e Ricardina (sua protegida) dormiam e guardavam os míseros pertences.
Era também ai, segundo dizem, na escuridão da noite e da vida, que recebia os amigos com quem partilhava segredos, seringas e mulheres.
O alcoól fazia parte da sua vida desde sempre, era temido por Ricardina a quem, vezes sem conta maltratava na presença de amigos e desconhecidos....
Era uma vida como tantas outras onde faltava amor, paz e harmonia, a violência exercida sobre Ricardina, várias vezes a levou até ao hospital de onde regressava para mais uma cena de pancadaria sempre que voltava , ao final do dia, triste, ou quando algum cliente mais fervoroso a demorava mais algum tempo..
Naquele dia, Ricardina chegou tarde e segundo as suas palavras, sem dinheiro, começou ai uma das muitas brigas que todos já conheciam mas das quais falavam a boca pequena ...
A mesma conversa de sempre, as mesmas perguntas sem resposta. Ricardina que até ali fazia de conta que estava em sintonia com Osvaldo, pegou num saco e sem acender a luz preparava-se para descer a escada rumo à liberdade perdida.
Foi então que entre gritos se ouviu um enorme estrondo, era o corpo de Ricardina que Osvaldo empurrara pela escada, e caiu inanimado nos últimos degraus do pátio de entrada. Correu o senhor Apolinário e toda a vizinhança, levaram o corpo de Ricardina, já sem vida, a policia levou consigo Osvaldo, que incrédulo de repente se viu na prisão onde ficaria por muitos e muitos anos.Era a capitulação depois de tantos anos de vida chamada fácil e a maltratar a mulher que devia amar e proteger. Ricardina.
ELL
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Luminosidade outonal

Sento-me numa cadeira antiga e pequena em frente à janela. É uma janela de vidros largos que me deveria dar a sensação de liberdade. Mas o facto de a janela ser moderna, vidros cercados por aço inoxidável, deixa-me um leve sabor amargo. Gostava das janelas antigas dos meus avós, janelas de vidro enquadradas por caixilhos de madeira com a tinta a descascar e persianas frágeis mas com personalidade.
A cadeira onde estou sentada, quase imóvel, também era dos meus avós e eu aqui estou observando a outra faceta do meu mundo, o lado de fora da janela, como um peixinho cor-de-laranja num aquário.As folhas caem no chão, rodopiando com o vento, esse bailarino, em perfeita sintonia. O Outono deseja há muito ser aceite enquanto que o Verão, falaz, nos presenteia ainda com galanteios – se bem que esparsos – reivindicando a sua presença.
A chuva entra em cena. Primeiro miudinha. Depois, as bátegas abatem-se desenvoltas, sem esforço e escorrem pelos vidros da minha janela moderna.
Com um gesto de criança, desenho com o dedo indicador as estradas de água que se formam, e escorrem inexoravelmente até ao parapeito.
É desta vez, penso, que o Verão concedeu a sua capitulação.
Tudo acalma.
Olho para a luz que o Outono faz incidir sobre a paisagem teatral que tenho diante de mim. Mais algumas horas e a escuridão irá abraçar tudo em seu redor. Restará a luminosidade difusa dos candeeiros da cidade.
Deixo-me ficar mais algum tempo sentada na cadeira dos meus avós, fingindo que a janela é antiga e que existem persianas. Fingindo só mais um pouco que possuo o mesmo sentimento de harmonia que era quase palpável quando ainda menina, com doze anos, me encantava quando o Outono surgia…
Depois… Levantar-me-ei tentando reencontrar-me. Sem dúvida a menina de doze anos cresceu. Nunca mais me esquecerei dela, nem das janelas antigas dos meus avós.
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Águas Nocturnas

há coreografias na leveza da noite.
folhas soltas nas correntes livres,
amantes sem caitulação,
entregues ao abraço do vento morno.

sentimento rendido à luz. antigo.
como sonhos enamorados
ou voos entrelaçados
ao fulgor do bailarino transparente.

há danças na orla do sorriso.
espirais no caos em liberdade
que resgatam as amendoeiras em esforço
e velam pela virtude dos malmequeres

há pirilampos na aura nocturna.
pulsares que preenchem amenos afagos
em mãos que aquecem os gatos esquivos
na sintonia da breve ecuridão.

há orquestras reunidas em homenagem.
sussurros no silêncio do tempo
tecidos no som das cordas aliviadas,
no uníssono das memórias dos entes desamparados.
mas até a hrmonia do divino é falaz!

e depois há o orvalho das luas esverdeadas.
onde a essência se purifica.
perante o gesto do impulso desconhecido,

do homem, galanteio fugaz.
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des(sintonia)


Foi o gesto dele um galanteio?
Ou nem era a ela dirigido aquele raio de luz?
Ou foi apenas ela quem nele viu uma harmonia?

E nem era sentimento, mas acaso.
Como seria se ali passasse,
na serra arredondada de cabeços,
um par de marinheiros em passo bailarino,
Como se em pós capitulação,
fossem pela rua gritando liberdade.

Ela a crer, num esforço,
E o sol a encerrar-se numa nuvem:
Água e escuridão.
E ele a afastar-se pela rua…

Sintonia falaz de um mero acaso.
Mcorreia

terça-feira, outubro 14, 2008

meu blogue foi designado



pela Mateso pela Vida de Vidro e posteriormente pelas amigas Jawaa e pela MCorreia para receber o o Prémio Dardos.

Informações sobre o Prémio Dardos:
Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.
Ao recebermos e aceitarmos o “Prémio Dardos” devemos seguir algumas regras:

1. - Exibir a imagem do selo;

2. - Linkar o blog que lhe atribuiu o prémio;

3. - Entregar o Prémio Dardos a quinze (15) outros blogues .



Com amizade a todas e todos os blogers passo o testemunho a:




  1. a tradução da memória


  2. Blue Velvet


  3. CASA DE PARAGENS


  4. CITADEL


  5. Geometria do Abismo


  6. Linha de Cabotagem


  7. Lugar da Paz


  8. PAPEL DE FANTASIA


  9. Reflexões Caseiras


  10. Relógio de Pêndulo


  11. Sete Mares


  12. SIDADANIA


  13. TRANS-ATLÂNTICO


  14. Tudo no nada


  15. Venham mais Cinco

segunda-feira, outubro 13, 2008

vejo tuas mãos


vejo tuas mãos.
repousam em teu colo

observo os imperceptíveis
movimentos dos dedos

tu falas
escuto a música da tua
voz e a do intersticial silêncio

minha mão direita
descansa sobre a mesa

em voo, bailado de asas
nos ventos, tua mão esquerda
eleva-se. suave pluma ao vento
acariciando a minha.

nos olhos a luz tece-te
encantamentos.
caleidoscópico cintilograma
de cor. fogo de artifício
sem artifício.

em meus olhos as águas
chegam à superfície
rasando a beleza
que em ti nasce e de ti
emana recriando o mundo.
Eremit@

sábado, outubro 04, 2008

e o 7º Jogo das 12 Palavras está no ar


São estas as 12 Palavras que constituem o desafio:
Bailarino(a)/Capitulação /Escuridão/ Esforço/Falaz/Galanteio/Gesto/
Harmonia/Liberdade/Luz/Sentimento/Sintonia
Os textos deverão chegar-me até dia 25 de Outubro o mais tardar. Vamos à escrita.