terça-feira, junho 24, 2008

4º Jogo das 12 Palavras - 1ª Parte

Sáudo dois novos companheiros desta aventura com 12 palavras, a Sónia Pessoa e o Dark, que se estreiam no jogo de hoje, bem como o regresso do júlio Carvalho, "aventureiro" da 1ª hora que tem andado afastado.
Entretanto sinto, como vós sentireis, a falta de algumas companheiras que, por razões de trabalho e pessoais, informaram não puderem participar neste 4º Jogo, mas retomarão a seguir.
Bem-vindos à aventura com as palavras da nossa língua.

E hoje chegou novo contributo, nova participante.
A Paula Raposo, que poderão ler no fim.




1


excesso de zelo

num sobressalto, Diana apoia um cotovelo no lodo e estica o corpo para vasculhar a água barrenta. a sua face, habitualmente rosácea, está agora branca como a cal. num acto de loucura, segura-se às raízes descarnadas e mergulha, para conseguir emergir o seu compêndio sobre os métodos para manter a compostura.
Ana Eugénio


2

Senti-me estremecer. Cair. Um sobressalto dominou-me o corpo.
Inúteis minhas barbatanas e a força da poderosa cauda. Já sem raízes, arrancadas estas pela descontrolada loucura da água e do lodo a invadir a terra, a vasculhar todos os recantos, a criar novos espaços pela destruição do que antes o ocupava.

Arrastada pela força incontrolável dos elementos vi o que restava das casas, já sem pintura ou cal.
Os Homens corriam gritando antes de serem atingidos pela massiva e monumental massa de água e destruídas suas vidas.
As cidades, invadidas pelo enfurecido colosso sob a forma de água, viam todo o método e organização urbana e rotinas, aniquilados num fugaz piscar de olhos.

Senti movimento. Vi uma mulher e uma criança serem arrastadas, sem controlo, para a morte.
O braço da mulher, em ângulo, desaparecia já na profundeza das águas em fúria por mim nunca antes sentida ou vista.
Lancei um tentáculo. Agarrei-a pelo cotovelo. Senti o osso estalar. Puxei com toda a força até ver as cabeças de ambas emergir.
Olhos desorbitados, bocas escancaradas. Os rostos de uma palidez cerosa onde quatro rosáceas concentravam o sangue dos corpos. Os rostos, nada mais do que máscaras do mais intenso terror.
Alienada toda a humanidade que antes as revestia olhavam sem ver um mundo que súbito se lhes tornara desconhecido e hostil.
SEREIA

3

ALENTEJO


Água, bem precioso. Em vias de extinção. Seria (será) o nosso fim?
No meu Alentejo, adorava as pequenas albufeiras. Ainda existem, a par das grandes. E a água das fontes da quinta? Bebida pelo caneco de cortiça, que se calhar tem nome próprio que já esqueci…
(e que amigo meu veio recordar: cocharro).

No Alentejo sempre houve pouca água. Mas cal, branca, nunca faltou para que a minha vila fosse a mais linda e alva do mundo.

Corpo em descanso nas tardes alentejanas. Lugar aonde, diariamente, desejo voltar. Lugar que, parece, está cada vez mais longe.

Dor de cotovelo é sinónimo de inveja. Que os alentejanos – excepções à parte – não conhecem.

Olhando as águas profundas da albufeira sonhava. Sonhava com o dia em que, feliz, visse emergir das águas profundas, uma sereia que cantasse para ele canções de amor.

Naquela albufeira pequena e serena, perto da minha vila, também havia lodo. Que nós ignorávamos. Porque o prazer do banho, na tarde tórrida de verão, tudo compensava.

O sol, inclemente, apanhava-nos num rompante. Atormentava-nos. Mas era uma espécie de loucura o que sentíamos na estrada poeirenta, feita pista de corrida improvisada.

Havia um método certo para aquelas tardes. Com o calor sufocante que se fazia sentir, era debaixo dos arcos que descansava. A casa grande da quinta, que não era da sua família, tinha os pátios e arcadas em pedra fria a que se juntavam as várias fontes. E era lá, numa cadeira de vime, que passava as tardes antes de passear na vila. Lendo ou ouvindo música, num velho gravador. Eram férias de sonho, já lá vão cinquenta anos…

A mãe, alentejana, o pai natural de Sintra. Divididos na distância mas unidos em outros parentescos, tiveram que optar pelo local de fixação. Foi nessa altura que partiram. Mas as raízes profundas e o sentir alentejano ainda perduram, tantos anos decorridos.

Sentado à beira do tanque, que todos chamavam piscina, olhava em volta, na tentativa de gravar as imagens. Havia bancos feitos de pedra, de troncos cortados de árvores, havia grandes plátanos, castanheiros e outras árvores imponentes que não conhecia. Foi nessa altura que reparou, pela primeira vez em tanto tempo, naquela escultura feita de pedra mármore, talvez do mesmo mármore que ali perto era arrancado. Parecia uma flor que irradiava de um centro. Flor igual à rosa.
(Porque se lembrou de repente do nome rosácea?)
E viu de repente uma luz muito brilhante saindo de todo aquele conjunto.

Luz que ainda hoje o acompanha.

Nos tempos da tropa, que se aproximava, tentou dar um pulo a Espanha. Nunca havia saído de Portugal e naquele tempo os naturais das terras de fronteira apenas precisavam do bilhete de identidade.
Partiram cedo na camioneta de carreira. Com o coração em sobressalto e um medo escondido, pensava no que podia acontecer.
E foi na raia, ao apresentar os documentos, que o guarda, zeloso, lhe disse que aos vinte anos, não havia passeio para ele. Prestes a cumprir o serviço militar, precisava de uma licença especial para atravessar a fronteira.
Tio e sobrinho voltaram para casa. Nos seus rostos a desilusão e também muita revolta.

Andou a vasculhar na memória à procura da sua melhor referência, da imagem que o prendia à vila. E curiosamente é um cheiro que o prende. O cheiro do bucho – era assim que o conhecia – que havia em abundância no grande largo em frente à casa, está sempre presente. E que a muitos quilómetros de distância o agarra intensamente quando o volta a encontrar.
Zé Viajante

4

Bivalves

Em nome do pai, do filho e do espírito santo.

O incenso faz dois braços que se cruzam, no ar pesado de água sobre a cova coberta de cal.
O padre encomenda um corpo. É final da manhã e não há sol. O céu descai, sobre a sepultura, um cinzento pesado.
A dois passos dali, na ria, andam os homens a vasculhar na demanda do isco. Os pés descalços pisam o lodo com método. Além mais abaixo, o lingueirão assoma num emergir em rosácea. Uma, duas, muitas formas arredondadas como se fossem vitrais alumiando nave.
O funeral fez-se sem sobressalto o caixão levado por quatro pessoas. A amante chorosa e enlutada num branco coberto por um impermeável negro que mal lhe tapa a anca estreita. O filho que fez em duas horas os trezentos quilómetros, mal leu o telegrama: Morreu. Pai. Enterro. Amanhã. Dez. - a mãe, quando enviara, poupara os abraços e a palavra horas, cuidado que se percebia por ser uma loucura o preço de cada palavra. Nas outras pegas, seguravam dois conhecidos da apanha do bivalve. Os amigos, que eram a bem dizer, o Ilídio e o Timóteo, souberam do ocorrido depois de uma semana. Ninguém mais para que se pudesse dizer: olha, está passando um cortejo fúnebre.
A mulher, preferiu ficar sentada num cotovelo da mesa da cozinha limpando de raízes umas cebolas que semeara no quintalzito dos rés de chão em que moram. Lembra o que dizia o falecido:
- Quando morrer não quero que chores. Enquanto me enterram, fica em casa ou dá um passeio pela serra ou faz qualquer coisa que te distraia, mas não vás ao cemitério.
A mim, basta-me o coveiro.
Há um ano e meio ele deixou a ria e o bote. Uma distracção daquilo que fazia no escritório. Preguiçou-se.
Há coisa de uns meses, despediu-se e deu em sair pela noite.
Dizia-lhe:
- Venho cedo, não te preocupes. Dorme.
Mas veio sempre cada vez mais tarde e ela sem pregar olho.
Uma tarde, disse-lhe:
- Hoje não durmo que agora tenho uma amante.
Assim, sem rodeios, como quem diz: hoje apanhei um balde, queres ver?
Ela vinha-lhe percebendo um olhar perdido da realidade. Há largo tempo.
- Consulta o Dr. Raimundo, Fernando.
Mas ele que nada, que não estava doente; manias tuas, respondia.
Por isso, ela nem se adornou de ciúmes. Esperou uma fiada longa de muitas noites em que ele não veio, e não se espantou quando o filho da Elvira do segundo esquerdo veio correndo dizer-lhe:
- O vizinho Artur (e arfava, o moço) encontrou o seu marido (e ela, adivinhando, só não sabia o como) enforcado na ria, ao pé do bote.
MCorreia

5

Aninha vive naquele casebre desde sempre!
Ali nasceu, cresceu, ganhou raízes. Sente seu aquele lugar, está ali de pedra e cal.
Da porta, até onde a vista alcança, um pequeno riacho desce em cascatas de água límpida, saltitando em vertiginosa loucura por entre um leito pedregoso.
Um corpo de pele rosácea, iluminado pelo sol, emergia das águas pintalgado de lodo.
Mergulhou de novo demoradamente e quando saiu da água secou o corpo em movimentos suaves, envergou uma camisola confortável e que deixava adivinhar um belo corpo de mulher.
Caminhou lentamente em direcção à porta entreaberta, tropeçou e num desequilíbrio total bateu fortemente com o cotovelo num tronco seco que ladeava o caminho. Ficou assim imobilizada durante segundos que mais pareceram horas.
Aos poucos recompôs-se, entrou em casa, preparou uma infusão de ervas, recostou-se numa velha cadeira de baloiço herança de sua avó, bebeu um gole de chá, leu duas páginas do livro que comprara na tarde anterior e adormeceu!
Já a noite caía quando um barulho vindo do sótão a fez acordar em sobressalto.
Pegou numa lamparina, subiu a estreita escada de madeira em cujo corrimão gasto pelos anos se foi apoiando.
Chegada ao último degrau começou a vasculhar cada recanto e não tardou a deparar-se com uma prateleira que havia sucumbido aos anos e ao peso das coisas que sobre ela repousavam.
Pousou a lamparina sobre um velho baú, com jeito colocou a prateleira no lugar, e com método organizou as caixas de recordações que foi abrindo demoradamente.
Quando desceu sentia o peso do cansaço, o sol há muito havia desaparecido no horizonte.
Dirigiu-se para o quarto, não sem que antes tenha fechado a pequena janela ornamentada com uma branca cortina de linho bordado.
Aconchegou-se na cama, e enquanto organizava mentalmente as tarefas para o dia seguinte, não tardou a adormecer.
Cá fora soprava uma brisa, os ramos das árvores, num vai vem cadenciado, ensaiavam uma dança.
Os pássaros aninhavam-se, o mundo avançava...
Bicho-de-conta

6

Procuro-me...


Procuro-me no meio da loucura
Das paredes brancas de cal
No sobressalto incessante
De ser, estar e existir...

Sinto-me a vasculhar
A minha alma rosácea
E encontro as raízes
Do meu ser,
No grito ininterrupto
Do meu sentir
Sem método
Sinto-me emergir
De mim própria
E o corpo abandonado
Sai do lodo
Que se transforma
Em água
E ao longe o mar
Entre cortado pela montanha
Em forma de cotovelo
Que deixa passar
Os últimos raios de sol...
E de novo me procuro
E me encontro...
Dair

7

O corpo mergulha sensual na água fresca e aprazível para emergir minutos depois em sobressalto. Ofegante, aspirando o ar que faltava no rosto agora de cal, volta a mergulhar, para vasculhar no lodo o símbolo das suas raízes perdidas.
É uma loucura, mas ele viu, entreviu a rosácea metálica no cotovelo do rio, onde a água rodopia e desvia a corrente rumo a juzante.
Seu pai tinha razão, o método não falha.Guarda segredos, o rio da sua infância.

Jawaa

8

o homem sem método
é um corpo de cal

lodo branco
inapto às raízes

O homem sem método
vitima-se
na loucura
rosácea
do sonho

Dobra-se
joelho e culpa

Possui
os cotovelos esfolados
no sobressalto
crespo da angústia

O homem sem método
se põe a vasculhar poços
ausentes de água


e por lá fica
incapaz de emergir

sedento sempre

Rubens da Cunha

9



Recordo!


O sol que entra por entre as janelas entreabertas
E faz brilhar as paredes pintadas a cal
Naquela casa
Memorial da minha vida,
Ao fundo o barulho da água
Que brota...

Apetece-me vasculhar
Os baús de outros tempos
E encontro as raízes da minha vida
Quando a loucura era passaporte
Para ser feliz!

Tantos anos passados
E tudo ficou ali
Intacto, guardado...

Olho os vestidos de Domingo
De um corpo que já não existe,
A manga comprida
Agora dá pelo cotovelo,
E sorrio para eles!

E o sol vai descendo
Pintando o firmamento
Na cor rosácea
E junto á cascata
Vejo o lodo emergir
Por entre as pedras
E fico quieta, parada
Sem sobressalto
A escutar a música
Das cascatas que se alinha
Num compasso binário
Sem método,
Mas onde repousa a minha alma!
Elsa Sequeira

10

A Queda no Charco

Como eu adoro andar de bicicleta!
Normalmente, faço percursos por caminhos não muito habituais aos ciclistas mas, como conheço bem a zona, não me é difícil orientar-me e agora, desde que tenho o meu “GPS”, nunca me perco e passeio-me sem o sobressalto de quem anda a caminhar no desconhecido
Não posso dizer que a minha bicicleta seja do modelo mais recente mas, em cima dela, com o meu capacete, joelheiras, protecção para os braços, luvas, mochila às costas e garrafa de água, eis-me pronta para a loucura que consistia em percorrer 10kms em 10 minutos.
Em vez de me dirigir para norte, como habitualmente, iria para noroeste, por onde os trilhos não eram tão pedregosos, mas desta vez não podia parar para me deitar um pouco e descansar junto às raízes daquele velho carvalho e ver o sol através dos sua folhas recordando-me a rosácea da igreja da minha aldeia O melhor método seria pedalar, pedalar sempre, mesmo nas descidas mais acentuadas, embora isso exigisse do meu corpo um certo sacrifício.
Pedala, pedala, faço curva e contra-curva e, de repente, fico branca como a cal da parede: ao efectuar uma curva em forma de cotovelo, que não me permitiu ver o que estava a seguir, deparo com uma enorme poça de lama e zás, catrapás, eis-me estatelada naquele lodode águas paradas, esverdeadas e, de onde, logo começaram a emergir dezenas de vermes que me provocavam uma coceira irritante.
E... azar dos azares! Como iria agora regressar a casa, toda suja e mal cheirosa? Por mais que me pusesse a vasculhar na minha imaginação não encontrei outra solução, senão tirar a roupa de cima e vir para casa em roupa interior que pelo menos ainda conseguia manter um pouco do cheirinho do gel do duche matinal.
Claro que não consegui levar a bom termo a aventura dos 10kms. em 10m., mas, na próxima semana, tentarei novamente a ousadia e, irei prevenida com o suplemento de uma muda de roupa lavada, não vá o diabo tecê-las.
Benó

11

Era apenas um desconhecido
(ou recordando Robert Walser)

Presumivelmente teria sido um crime. Mas ninguém o pudera provar.

Naqueles dias tudo girou à volta do corpo desconhecido, que um grupo de crianças, num sobressalto imediatamente transmitido a toda a aldeia, descobrira na margem da lagoa parada e carregada de silêncios, não longe da capela em ruínas, cuja rosácea gótica, onde apenas restavam alguns vitrais partidos, ainda acenava gestos antigos de fulgor colorido.

Era ali que as crianças iam brincar, diariamente ao cair da tarde, à volta da quietude da lagoa. Utilizavam também a velha capela como palco onde recriavam, em fértil imaginação, festas e cerimónias de antigamente, e muitas vezes atreviam-se até ao hospício, em cujos muros esmaecidos de humidade e de anos mal se notavam vestígios da cal que outrora os embranqueciam. Nas janelas desse mítico edifício reverberavam os raios do sol ao crepúsculo, devolvendo-os plenos de vida e recriando um ambiente intemporal e mágico. De Inverno nevava, tornando o local propício a jogos infantis e a algumas tragédias.

Era um corpo de homem velho, e isso podia afirmar-se, disseram as crianças mais tarde, pelo rosto enrugado mas sereno; o resto, coberto pela água da lagoa de onde apenas começara a emergir um cotovelo nu, adivinhava-se preso à margem pela teia das inúmeras raízes das árvores que povoavam o rebordo das águas.

As autoridades sentiram obrigação de fazer uma desinteressada e ligeira investigação no local, tentando vasculhar por umas horas aqui e ali na escuridão instalada, utilizando um método algo desarticulado que não conduziu a qualquer conclusão, salvo às hipóteses remotas de se tratar de uma inesperada errância pela loucura, um apelo de caminhos insondáveis ou um acto de solidão inominável da parte do desconhecido, e que o teria levado a arriscar tudo. Nada ficou provado.
Porque ao voltarem ao local do macabro achado, à chegada dos primeiros sinais da manhã, o corpo tinha desaparecido. Arrastado pelos limos - ou por inesperadas forças subterrâneas - para o fundo, para o lodo, para a solidão absoluta. O assunto foi, pouco a pouco, sendo esquecido. Afinal, era apenas um desconhecido.
Justine

12

da loucura

Não há método na loucura. Move-se em planos pantanosos dominados por invasivos lodos.
Não analisa. Não processa, mas insistente, em sobressalto, vasculha. Lança raízes e gavinhas para tudo abarcar. Do corpo à alma. Água e cal. Efervescente e abrasivo caldeirão de emoções de onde só as mãos logram emergir, mas não acenam despedidas ou chegadas. O cotovelo, ângulo do adeus, em contraste com uma rosácea de pedra de calcário ergue-se. Num aceno digno de um quadro de Dali
Dark

13


criador ou criatura?

em sobressalto misturou cal e água. a inesperada efervescência causou-lhe medo. em pânico recuou pensando ser ousadia, total loucura querer criar – pensar que o poderia fazer já o era – mas passar ao acto de criar um ser, um corpo à sua imagem… um intenso pavor congelou-lhe o pensamento. a mistura fervia, enchendo o ar de asfixiantes vapores e desconhecidos e cáusticos odores. agora que ousara começar tinha que fazer alguma coisa…
avançou para o espaço exterior. ao redor começou a vasculhar a terra procurando algo com que pudesse enriquecer o caldo. arrancou raízes. pegou um punhado de terra
e, receoso mas determinado, regressou à fervente mistura.

acalmou-o ver que a ebulição quase desaparecera dando lugar a uma pulsante papa, quase espessa pasta. aproximou-se e, alternando, deitou a terra e as raízes que trouxera.

a ebulição aumentou. enormes bolhas emergiam da massa. mas agora, apesar do medo, não recuou. estava determinado.
com uma raiz mais comprida arriscou mexer a papa. convenceu-se de que afinal ia conseguir. o método que congeminara ia resultar…mas havia que dar tempo.
sentiu o calor irradiando da mistura.
as bolhas, embora mais espaçadas, eram cada vez maiores e rebentavam desenhando uma rosácea que alastrava em ondas pela superfície da mistura.

ficou a observar a evolução do preparado e a pensar se não seria bom acrescentar-lhe um pouco de lodo para o tornar mais moldável…
afastou o pensamento.
o lodo roubaria a beleza da cor que agora via. para além de lhe dar um pestilento odor.

de vez em quando, já mais afoito, mexia de novo a mistura que acalmava e se homogeneizava. sentia a temperatura descer aos poucos.
por fim, ao mexê-la mais uma vez, achou boa a consistência. a medo arriscou tocar-lhe com a ponta de um dedo. nada de mau sucedeu. Decidido enfiou o braço, até ao cotovelo, para ir bem ao fundo, e trouxe uma bola da massa e pôs-se a moldá-la cantarolando feliz.
repetiu o processo as vezes necessárias até fazer/moldar, uma imagem à sua semelhança.

olhou a obra e sentiu contentamento.

ergueu-se e disse: “abre os olhos, caminha e fala.”

mas o homem ainda não era um criador e, á sua semelhança, esquecido, abandonado, ficou inerte boneco de cal terra e raízes onde o sopro da vida não entrara.
Amla

13 comentários:

Conceição Paulino disse...

não foi a leitura cuidada k gosto de fazer, mas foi uma leitura. Não uma corrida ou enviesado ler.
supreende-e a riqueza de perspectivas e a qualidade dos textos.
Vou continuar.
Bjs luz e paz

Conceição Paulino disse...

Gralha. SURPREENDE-ME...

Justine disse...

Continuo a gostar muito deste nosso jogo, enriquece quem escreve e quem lê!

mena maya disse...

Podes crer Justine.Textos fantásticos!
Parabéns a todos!

Rubens da Cunha disse...

muito bom participar e ler, como sempre

Benó disse...

Todas as palavras foram sàbiamente utilisadas para as diversas composições com que nos brindas.
Mais uma vez, estás de parabéns, pois conseguiste uma óptima colaboração de todos que souberam pôr a inspiração em pequenos e originais trechos.
Vou continuar a ler.
Um abraço.

Fá menor disse...

Parabéns a tosos pelos textos cada vez mais aprimorados!

Parabéns, amigo Eremita!
E bem vindos os novos companheiros.

Beijinhos a todos

Fá menor disse...

Ops... *todos
e não "tosos" :))

-=amadorjp=- disse...

Não sei se será o melhor sitio, mas como "escritor" também gostava de entrar nos próximo textos!
Jogar com as palavras na nossa língua é sempre tão belo e tão bom que quando se começa, não mais se pára!
Bela iniciativa!

Bichodeconta disse...

Pobre de mim ao lado de pessoas que escrevem maravilhosamente.. A qualidade aumenta na medida em que o tempo avança e a exigencia das palavras faz-nos rebuscar no mais fundo da nossa imaginação.. Parabéns a todos. um beijinho, ell

M. disse...

Parabéns a todos! Nota-se uma notável melhoria nos textos a cada semana que passa. E então estas palavras que me pareceram tão difíceis de encaixar! Deves estar contente, Eremita. Valeu a pena o teu trabalho.

Heduardo Kiesse disse...

Continuamos a BOMBAR!!
:-)

beijinhos e beijinhas pra todos!

Anónimo disse...

Olá,

vai ao meu cantinho... tenho GRANDES NOVIDADES!

Sónia