Como puderam ver o meu “couval” - foto abaixo - parece uma mata.
Talvez valha a pena passar a ter alguns animais de criação para escoarem estes produtos.
Não sou muito carnívoro. Gosto mais de comer à base de legumes, incluo o leite e eventualmente ovos.
Não dispenso um bom queijo.
Em casa alheia sou capaz de comer carne ou peixe, mas por norma dispenso-os.
Portanto o fazer criação de algum animal – se gostasse de leite de cabra seria uma boa opção – teria como única função comer o excedente de legumes e ervas que proliferam. Talvez galinhas pois põem ovos que como….
Veremos.
O meu Kanguru funciona meio perneta ou perna de pau (?) e a opção por este foi feita já em função do conhecimento e orientações dos amigos que por cá têm habitações como sendo a rede que melhor funcionava na zona.
Assim tenho passado o tempo disponível dedicado à leitura frente à lareira.
Desculpem esta preguiça de cão ou gato. Ou de ambos. Ambos partilham comigo o gosto pela lareira. E ali ficamos os três. Eu leio, de vez em quando tomo uns apontamentos.
O cão Batalha dormita e observa-me; o “Gato”, que agora no Inverno acabei por deixar entrar, que isto não é tempo para nenhuma “
alma” andar lá fora desabrigada e exposta à inclemência do tempo, como todos os gatos dorme em estado de permanente e atenta vigília e se me observa como por vezes parece, mais fortemente parece que filosofa. Sensações estranhas que estes amigos me passam, direi e digo.
Entretanto fiquei de vos falar da Laidínha.
Há que falar do início de vida dela para se compreender a pessoa que hoje é e a relação com nhora Ninhinha.
Irei assim dividir esta prosa para não ser excessiva em extensão.
1ª parte resumida da v
ida de Laidinha, de seu nome de baptismo Adelaide Maria Maia Salgueiro, com 38 anos de idade, frequentou a escola mas não passou do 2º ano do 1º ciclo (antiga 2ª classe)
Em bebé foi-lhe diagnosticado um
“atraso”. Tal foi identificado quando na fase de desenvolvimento da fala o atraso se tornou notório, tanto mais que sendo a mais nova de sete filhos a mãe já tinha larga experiência empírica da fase de aquisição de linguagem pelas crianças, sua apropriação e uso adequado.
A partir daqui lá marcharam, na carreira, ao médico da vila que depois de exames preliminares os enviou para o antigo Maria Pia no Porto, onde Adelaide ficou internada largos meses e de onde saiu com a etiqueta de atraso mental ou, como diz o povo: “
é mental”.Frequentou a escola por pressão e acompanhamento vigilante da segurança social local, através de contactos de colegas do hospital onde tinha regulares
Consultas de acompanhamento, até que a passaram para um outro serviço adequado a casos como os dela, dos “
retardados” dizem-me a mãe e nhora Nininha.
A família sempre recusou o internamento da filha em instituição adequada, no Porto e assim lá andou na escola mais perto – maneirismo – de tão longe. Mas isso já foi. É passado.
Os irmãos, como os filhos de nhora Nininha, emigraram.
Uma irmã imigrou para Lisboa onde estudou, de noite, na “
escola dos adultos”, até fazer o 12º ano, já mãe de 3 filhos. Os restantes irmãos estão espalhados por essa Europa a que dizem que hoje pertencemos, mas da qual estamos, afinal, cada vez mais distantes do que logo após a total ausência, claro.
A família nunca soube lidar com a doença de Adelaide e os ralhos constantes da mãe, não do pai porque é sujeito de poucas falas e que dizem sempre assim foi, e dos irmãos que nas lides do campo não entendiam as “
distracções” dela, as
“ausências”, a falta de ritmo no trabalho…
Desta constante querela entre ela, mãe e irmãos, surgiu uma barreira de silêncio e de incomunicabilidade total que nunca mais souberam romper.
Adelaide vivia uma vida de refúgio, fugas, ausências pelas serranias – a família deixou de contar com ela para o cumprimento das tarefas rurais que exigiam e exigem horários certos. Passou a ser vista como um fardo que havia que carregar e por certo, se lho não disseram, ou se o não escutou ela sem eles saberem, sentia-o e cada vez mais se ausentava, quer para dentro de si, quer pelas serranias horas a fio.