quinta-feira, setembro 13, 2007

Vá lá uma pessoa entender-se

Vejam se entendem, pois eu não.
E tenho a veleidade de pensar que me conheço razoavelmente.

Passo a contar:
Os “DIAS DE…”, criados para homenagear, mães, pais, namorados, etc, já são tantos que em cada dia do ano já têm que se encaixar vários.
Na família nunca os valorizamos e sempre considerámos que eram dias “comerciais”, artificialmente criados para estímulos ao consumo.
Os dias, todos eles, são dias de tudo isso, para tudo isso.
Para amar e demonstrar com gestos de ternura e pequenos nadas simbólicos a importância dessas pessoas em nossas vidas, como nos fazem felizes e nos tornamos melhores com elas e por elas, como somos gratos por existirem em nossas vidas…
E esta posição não correspondia, não corresponde a nenhum snobismo da nossa parte, família, mas a uma forma de estar na vida.

Os filhos cresceram, felizmente, e felizmente também, seres autónomos, com projectos e vontade própria. Por isso seguiram seus rumos.
E nós, M. M. e eu, felizes por os ver traçar seus caminhos, bater com a cabeça e dar alguns trambolhões, mas levantarem-se e seguirem em frente, com confiança e segurança.

Ora estando eles fora de Portugal, na época do já longínquo dia do Pai, uns amigos do Porto insistiram que passasse uns dias com eles.
Amigos sendo e daqueles a quem a palavra se adequa na reciprocidade e totalidade.
Chegado o dia iam eles sair, almoçar fora e fazer algum programa com os filhos.
Convidaram-me para ir com eles pois somos uma extensão de “família pelo coração” e eu e a M.M. padrinhos dos dois e de casamento de um.
Achei que era melhor deixá-los sós, pois pelas exigências e ritmo da vida a proximidade não é tanta quanto todos gostariam. A Maria José vive em Lisboa com a família e o Manuel e respectiva família, em Braga.
Escusei-me com uma mentirinha afirmando ter, previamente aceitado, um convite de outros queridos amigos para um passeio a Guimarães.
A verdade é que passei o dia sozinho, deambulando pela cidade do Porto, visitando algumas exposições, indo a Serralves e ao Museu de Arte Moderna e terminando com uma boa caminhada pela marginal do Porto.

Ora para onde quer que me virasse só via filhos e progenitores.
E tal provocou-me um aperto no coração, uma dor que nunca pensara possível.
Nostalgia dolorosa.
E tal emoção deixou-me surpreso.

Ontem ao anoitecer, quando andava a jardinar - vocês nem imaginam como as ervas daninhas aparecem e crescem rápido por aqui – é realmente uma terra criativa, veio-me aquele dia, nomeadamente as emoções e sensações que me tomaram, à cabeça.
A palavra “irracionalidade” pontuava sempre, mas todos sabemos que emoções nada têm a ver com racionalidade.
Sendo já passado foi mais fácil analisar, dissecar, mas não cheguei a perceber bem a totalidade dos sentimentos e concluí que me conheço pior do que pensava.

Já é uma boa conclusão.
Conheci, de mim, inesperados aspectos.

Nota: imagens retitadas da net, sem autoria identificada.

31 comentários:

wind disse...

Estamos sempre a aprender-(nos):)

M. disse...

Somos muito complexos...

Meg disse...

Eremita,

Depois de te ler com a atenção devida, encontro no texto as mesmas dúvidas que julga serem comuns a muitos de nós. Se nem o passar dos anos nos permite um conhecimento absoluto de nós próprios, como podemos conhecer "os outros"?
Mas enquanto o tentamos, é sinal que estamos vivos, Eremita!
Um abraço

Isamar disse...

Li o teu post com a emoção que as tuas palavras, ditadas pelo coração, sempre me suscitam. Vejo que és um homem de afectos, emoções,sentimentos, partilhas...
enfim,és feito de um tecido fino, delicado, de grande valor...semeias empatia, amizade, carinho por onde passas.
Conheceste de ti, dizes, inesperados aspectos mas, se me permites, muitos mais irás conhecer. Afinal, nunca nos conhecemos completamente e estamos sempre a surpreender-nos.
Vais ver que muitas mais interrogações irás pôr-te e , certamente, irás encontrar as respostas para as mesmas.
Então, diz-me, costumavas ler o "Bom Dia Isabel"? Felizmente consegui recuperá-lo na totalidade.Graças a uma das muitas amigas que aqui fui fazendo.
Mais uma vez, gostei muito do teu post.
Beijinhos

Paula Raposo disse...

Muitas das nossas reacções são desconhecidas para nós mesmos!

Sol da meia noite disse...

Porque é que tem que haver "dias de..." para as pessoas prestarem homenagens, expressarem afectos, retribuírem carinhos?...
Porque é que se têm que forçar situações?
De todos esses dias, ao que eu acho mais piada, é ao das madrinhas, uma semana antes da Páscoa. Lá vem a minha afilhada "engraxar-me" com um ramo de flores, para depois o "folar" ser bom...
Mas é, sem dúvida algo, que já está enraizado na nossa cultura.

Gostei do post no seu todo, mas destaco a parte em que dizes que as emoções nada têm a ver com racionalidade.
A quem o dizes, hoje particularmente...

Deixo um beijo!

Filoxera disse...

Auto-análise conhecimento de si próprio: algo em que não costumamos ser muito bons...

Ruela disse...

"DIAS DE..."
Deixei-me disso...todos os dias são...até o meu aniversário...dou importância ao momento…uma nova vida…agora o resto…todos os dias são dias…

margusta disse...

Olá Eremita,
...eu também não ligo muito a esses "dias de...". Dias bons para o comércio. Assim como não entendo porque existe o dia da Mulher, e não existe o dia do "Homem".

Penso que nunca nos conhecemos por completo...

Fiquei com uma pontinha de inveja , ao imaginar-te a arrancar as ervas...sou filha da serra ..muito perto daí....

Um beijo e até outro momento.

Ps. O meu poema ..é apenas um poema, não tem nada de intimista, pelo menos assim o vejo, talvez um pouco ousado para aquilo que costumo escrever...mas só pincelei palavras como costumo fazer com as telas...

bettips disse...

Completamente de acordo com as tuas hesitações e emoções. São elas, emoções semelhantes, que nos levam a seguir o caminho "do pronto a pensar", muito ainda se estamos sós (e menos sólidos). Mil seduções de bem viver, à moda do que é moda, com muito coração artificial, muita avó chorosa, muito pai desnaturado. É difícil, bem sei... Abraços

Conceição Bernardino disse...

È meu amigo, por mais que queiramos as dúvigas ficam e aprendizagem continua é uma estrada até à partida.
Beijo
Conceição Bernardino

Um Certo Olhar disse...

Somos sempre desconhecidos de nós próprios.E quanto mais pensamos que nos conhecemos tanto mais nos surpreendemos.
Tantos dias disto, daquilo, do outro, da outra. Não passam de dias comerciais porque dias do pai, da mãe, da criança, são-no todos, em todas as horas.
Gosto que gostes do meu blogue. Em breve novo poema.
Beijo

rui disse...

Olá Eremita

"Ora para onde quer que me virasse só via filhos e progenitores.
E tal provocou-me um aperto no coração, uma dor que nunca pensara possível.
Nostalgia dolorosa.
E tal emoção deixou-me surpreso."

Grande sensibilidade e pureza humana para descrever estas emoções.

Senti este texto.

Grande abraço

Anónimo disse...

Compreendo bem tua reflexão. Sabes tmb vivo so, as filhas estão espalhadas e com as suas vidas. Nunca valorizámos, antes desvalorizámos od "dias de" pq consideramos haver uma certa hipocrisia. Mas somos seres de afectos e é natural k de vez em quando eles batam. Por isso se diz que somos seres sociais.
E tu, ainda no luto estarás mais sensível.
Não há contradição entre o K pensas e os teus, e smp praticaram.
Foi um ataque de saudade, ou solidão.
Tu tmb o dizes (está na lasteral do teu blog): muitas vezes a solidão é mais forte no meio das multidões.
E como seres em crescimento há sempre coisas de nós mesmos k nos surpreendem, o k, penso, é um bom sinal.
Sinal de k continuas a crescer, coisa k não acontece com todos.
Bjs
Luz e paz ao teu redor

Marta Vinhais disse...

Não sabemos tudo sobre nós; surpreendemo-nos e ficamos intrigados pela forma como reagimos, tão pouco usual...
Interessante o teu post; faz pensar...
Bom fim de semana.
Abraço
Marta

un dress disse...

descobrir...é tão belo

des cobrir !!

! ainda por cima sem sair da alma...:)




bOm tempo ~ beijO

Anónimo disse...

...dia de chegar aqui.


ler.


e

identificarmos a nostalgia.


beijo.


/piano.

un dress disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
un dress disse...

branca fresca água de emoção pura e próxima...

gosto muito deste teu...convite!
...ou do modo como nos convidas a vir aqui...:)

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

"os dias de..." foram aproveitados por uma política de consumo e nós, práticamente todos, fomos na onda...

Sobre os nossos sentimentos há momentos em que não nos reconhecemos. Tanto há para descobrir...

E é em alturas de reflexão que meditando aprofundamos as pesquisas interiores.

Bendita jardinagem...

Um abraço

Lusófona disse...

Olá Amigo Eremita!!

Na vida nada perde-se, tudo transforma-se, até sentimentos e emoções, a cada momento elas são diferentes, depende do nosso estado de espírito. Ainda sou novita, não sei nada da vida, mas é isto que penso =)

Beijinhos e feliz fim de semana
Fica bem

Papoila disse...

Amigo Eremita:
Dias de são puras formas comerciais... todos os dias são dias de... e é bom recordá-lo a cada amanhecer.
Quanto aos pontos de interrogação a meu respeito seriam bem mais que esses que vejo nesse quadro branco... mas quando o quadro tem questões de imediato tentamos responde-las e assim nos vamos A- Prendendo...
Gostei deste texto.
Beijos

Nilson Barcelli disse...

Não ligamos aos dias, mas de tanto nos matraquearem a cabeça, acabamos por entranhar a ideia...
Talvez seja isso, mas nunca temos a certeza de nada...
Bfs, abraço.

a d´almeida nunes disse...

Caro amigo
Darmos connosco a reflectir sobre se nos conhecemos ou não penso que será frequente. Quantas vezes não nos interrogamos sobre as motivações das nossas próprias atitudes, vezes sem conta contrárias aos nossos princípios racionais?
O pior ainda é quando nos é quese impossível perceber o que motiva certas atitudes fundamentais das pessoas que nos podem afectar o curso da nossa própria vida. Isso é muito complicado de gerir.
Um abraço amigo
António Nunes

Fata Morgana disse...

A capacidade de nos surpreendermos a nós próprios não significa que não nos conheçamos pelo menos razoavelmente bem... digo eu.

Acho muito natural o que sentiste. Eu também não ligo a "dias disto e daquilo", tenho-lhes até uma espécie de embirração. Os dias especiais não são convencionados, acontecem na vida de cada um. E, mesmo a esses, prefiro os que não têm nada que os marque e se estendem à minha frente para que os trilhe como puder! :)

Um abraço.

~pi disse...

dias que nos crescem...

Isamar disse...

Passei para te desejar uma noite serena.
Beijinhos

Espaços abertos.. disse...

O ser humano envolve por sua natureza mistérios nunca desvendados,vivemos numa contínua aprendizagem.
Bj Zita

Conceição Paulino disse...

Vim ver se havia novidades. não há, propriamnete, mas podemos voltar a ler. Há smp qq coisa de novo k nos chama.
Bj
Luz e paz ao teu redor

Francisco Sobreira disse...

Caro Amigo,
Peço me desculpar por não ter colocado o seu mimo no meu blogue, que tão gentilmente me ofereceu. Mas acredite que não foi por desinteresse pelo mimo, foi pura distração, ou esquecimento. Estou muito grato pela gentileza de me escolher entre as pessoas na blogosfera às quais você o concedeu. E, principalmente, pelo fato de nos conhecermos, embora virtualmente, há tão pouco tempo. Mas na próxima postagem irei reparar a minha falha, que, repito, não foi por desinteresse. Um grande abraço e uma bela noite.

De Amor e de Terra disse...

Olá Eremita, boa tarde!
Não creio seja irracionalidade, nem falta de conhecimento de nós próprios, creio mais que há épocas diferentes em que estando muito mais carentes e/ou sós, determinados sentimentos como que nos minam, por dentro, e nos fazem "ver" com maior intensidade, a falta que certas pessoas /coisas, nos fazem; estava tudo lá, só que ainda não tínhamos dado por isso...
Sei bem do que falo!!!!

Bj

Maria Mamede