quarta-feira, janeiro 09, 2008

deixei de contar o tempo

Deixei de contar os dias. Vivi-os da melhor forma apoiando o tio Zé Carlos, que com uma complicação advinda de uma pneumonia me fez recear o pior, mas acredito que ainda há-de enterrar muitos de nós apesar dos seus, não tarda, 93 anos de vida bem vivida.
Regressei ao meu eremitério que vim encontrar gelado e húmido, apesar de não ter vindo directo.
Como ia chegar de noite e amigos que cá têm casa, há quase década e meia, já sabiam o desconforto que seria regressar no Inverno, de noite, depois de tantos meses, a uma casa vazia nesta zona, convidaram-me a pernoitar nessa noite em casa deles, no Porto, e que no dia seguinte viríamos em excursão.
Assim foi e soube bem.
Nada como a experiência e o conhecimento.
Mesmo de dia a casa pareceu-me uma gelada e húmida tumba.
Abri portadas, deixei-a a arejar e marchei com eles para a casa onde passam muito tempo, onde almoçamos, passámos o dia à conversa em frente da lareira e onde conheci uma outra blogger como já referi a alguns amigos por causa da minha lamentável ignorância informática e do erro daí decorrente.
Mas aprendi mais uma coisa nesse dia – neste capítulo – noutros aprendi muitas.

Uma delas, foi a força e a solidariedade activa e expressa de forma tão singela e natural como respirar.
Claro que levei a Batalha comigo para Lisboa.
Mas a minha horta e flores ficaram. Pensei que tudo estaria morto. Mas não.
A nhora Ninhinha, enquanto o Sol apertou, lá a foi regar - quase quatro quilómetros ir e vir.
E lembremos que tem uma vida árdua em cima, criou seis filhos mais sobrinhos e afins, trabalhou nos campos desde criança, e vai fazer 86 anos no dia vinte e nove de Maio próximo.
Quando percebi o que aquela doce e sábia criatura fizera, sem nada esperar em contrapartida, por puro amor humano, o meu coração cantou qual ave no ramo mais alto e soalheiro e dos meus olhos águas de gratidão e ternura brotaram.
No dia seguinte, ao acordar, fui visitá-la e aí me informou dos cuidados tidos com os vegetais porque: “ o sol calava nos leguminhos que o senhorinho cultivou com carinhinho” acrescentou, ” claro que a Laidínha, aquela cridinha, foi sempre comigo a ajudar-me e arreceosa que caísse no camininho e prá lí ficasse…”.

Ora digam lá se esta doçura, este amor aos seres, plantas incluídas, não é de uma pureza tocante e que nos reforça a fé na abstracta humanidade?
Em mim tem esse efeito.
Parece que vim cair no Geres para encontrar esta sábia mulher e com ela aprender, ou talvez ela seja um Anjo que ali está para quem dela necessita.
No próximo post falo-vos da Laidinha que também tem uma estória e uma lição de vida muito bonita.
P.S - desculpem a gralha no texto da imagem supra. Leia-se "infundados" e não infudados com está.

14 comentários:

Isamar disse...

Amigo, como gosto de ler-te! Tu escreves com os afectos que te são peculiares e que eu muito aprecio.Depois, encontras pelos caminhos que percorres, esses anjos sábios ou esses sábios anjos que te vão retribuindo aquilo que tu lhes dás: atenção, carinho, alegria...
E vale a pena passar por aqui...fico bem mais rica.

Beijinhossss

MARIA disse...

Olá Eremita,
que lindo tudo o que pensou e tudo o que escreveu.
O seu coração dita-lhe a arte de colorir as palavras com as cores da emoção, dos afectos e ainda lhes acrescenta o brilho da ternura...
Sai-se deste espaço com a alma mais rica e um brilhozinho nos olhos ...
Obrigada.
Um beijinho amigo
Maria

Filoxera disse...

A vida tem aspectos muito belos, momentos emocionantes. A mim, parece-me que quanto mais idade as pessoas têm e mais simples foi a sua existência, mais nós temos a aprender com elas.
Então se for para aprender e contar, valerá ainda mais a pena...
Este é mais um post que adorei.
Beijinhos.

Francisco Sobreira disse...

Meu caro,
Eu também quero te chamar de amigo e, evidente, acolho com a maior satisfação a tua amizade. Obrigado pelas palavras de incentivo em mais um aniversário do meu blogue. Como digo lá, pessoas, como você, são o principal responsável por ele continuar ativo. E qto ao teu texto, só temos a aprender com o convívio com pessoas mais velhas, principalmente se temos o dom de escrever. Grande abraço.

rui disse...

Olá Eremita

É lindo o que escreves!
É reconfortante encontrar e estar rodeado de pessoas assim, simples e puras!

Grande abraço, amigo eremita

bettips disse...

Uma romântica da terra, essa mulher sábia.
Gostei muito. Comoveu-me.
As couves são bonitas assim grandes e acenando. Um verde tenro.
Tens um tesouro e sim, anjos pelo caminho.
Pois sou, e mais ainda ingénua.
Obg
Abraços

Lusófona disse...

Que bom chegar aqui e ler um texto tão vivo, tão cheio de carinho...
Adoro ler-te, amigo Eremita.

Beijinhos

Simone disse...

Sim, nós complicamos o simples, vemos obstáculos em todo o lado, não vivemos a vida em pleno por causa das mesquinhices...

Obrigada por lembrar

Um abraço

Mié disse...

Olá Eremita

Vim aqui ter através de outro blog que me levou a outro e mais outro e ao seu.
Já não me lembro como isto tudo começou, e aqui estou.

Li-o no fim, fui ao princípio, li um pouco ao meio, e fiquei-lhe com muito respeito. Procurou, não parou, buscou, continua a buscar.
Oh, como gostaria de me eremitar também pró gerês :)

Adorei lê-lo.
Alma cheia de sabedoria.

Voltarei

deixo-lhe um abraço

Fique bem

mixtu disse...

um ir
um cuidar
um anjo
um saber
natureza
viagens...

abrazo serrano

António Viriato disse...

Caro Leitor e Confrade desta peculiar confraria, que é a blogosfera, onde é maior a agressividade do que a solidariedade, excepto entre alguns círculos restritos, ligados por afinidades diversas, venho agradecer-lhe a visita e comentário deixado.

Reafirmo-lhe o propósito de respeitar os factos que motivam os meus escritos, de ser o mais possível imparcial no sentido de não favorecer facções, mas já não desejo permanecer isento em matérias de interesse social ou colectivo. Aí, entendo que haverá sempre um partido a tomar em favor dos mais fracos, dos mais necessitados, em favor da harmonia geral, da solidariedade, esteios sem os quais a vida em sociedade se tornará difícil, se não mesmo, a prazo, de todo impossível.

São estes princípios singelos escorados num remanescente humanismo de base cristão que ganharíamos todos em reerguer como norma orientadora da nossa vida colectiva ou estaremos caminhando para um mundo cada vez mais inóspito, cruel, com o cortejo de miséria material e moral que lhe está associado.

Com os socialistas e com os social-democratas sou, às vezes, mais severo na crítica, pela sua obrigação ética de governarem sob a inspiração das doutrinas que lhes deram razão de existir, mesmo considerando a sua adaptação à conjuntura actual, porém, sem esquecer e muito menos subverter a sua doutrina original.

Dos social-democratas já disse bastante e de forte sentido crítico em anteriores fases, quando foram os responsáveis pela governação. Agora, julgo dever fazer o mesmo com os socialistas, que ainda iludem muita gente. Daí que possa ter-lhe parecido desequilibrado o meu artigo.

Dada a explicação, concluo com um abraço de amizade e votos de Bom 2008.

António Viriato disse...

Corrijo : de base cristã e não cristão, como ficou escrito. Por maior que seja a atenção com que se escreve, o erro sempre espreita e com frequência consegue escapar.

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Uma visita que tardava.

Desejo que agora esteja mais confortável ainda que o tempo esteja bastante frio aí para esses lugares.

Votos de tudo bom para 2008.

Um abraço

un dress disse...

a vida é simples.

no campo é muito mais simples.

se assim soubermos ou

aprendermos a viver....:)






~
~
beijO