terça-feira, abril 22, 2008

2º JOGO DAS 12 PALAVRAS - 1ªPARTE

Dando continuidade ao nosso "Jogo das 12 Palavras", aqui ficam, em duas postagens, os textos enviados para o 2º.
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No tocante à periodicidade, segundo a vontade expressa pela maioria, o Jogo passará a ser MENSAL - 17 votos para mensal; 3 votos para quinzenal; 2 votos aceitando qualquer uma das periodicidades; os restantes participantes não se pronunciaram, mas a maioria é clara.
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Por email acordaremos datas para o 3º jogo que posteriormente aqui postarei.


Passemos ao que mais importa. Os textos:


I
Vida


apesar de te quererem

sombra envolvente

és um degrau de sol

uma linhaviagem entre flores

és uma ténue caixa de chocolate
aberta sem licença
rúbens da cunha
II

Linha da vida

Cansado da viagem, sentou-se no primeiro degrau da estreita escadaria que levava ao pequeno largo. Ali estava à sombra, e uma ténue brisa atenuava o calor da tarde.
*
Uma jovem mulher pediu-lhe licença para passar, levando nos olhos cor de chocolate o sol incandescente da alegria, e nos braços uma caixa com flores
*
Perturbado, seguiu-lhe o ondear envolvente da linha das ancas, que afinal não era senão o ondear sedutor da vida, desafiando-o.
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Manteve-se, contudo, sentado na sombra. Ainda demasiado cansado.
Justine


III

As Palavras

São-nos oferecidas, as palavras, como peças de puzzle para completar, acomodadas em caixa de cartão com letras e desenhos de meninos na tampa. Surgem na boca dos recém-nascidos em pedaços de sons misteriosos e brincam com eles, entre risos e lágrimas, até adormecerem por momentos nos braços do João--pestana. Tocam-se entre si, primeiro ao de leve, como estranhos, mas depois, pouco a pouco, vão-se reconhecendo dentro da vida envolvente onde crescem e, de tanto se escutarem, acabam por se dar as mãos e dançar a música das sílabas. Não pedem licença para se fazer ouvir, pois não, e atravessam a sombra do desconhecido com todo o à-vontade de criança que sobe um degrau de escada quando quer chegar aonde a curiosidade a leva, sem que a dificuldade lhe empecilhe o passo e a determinação. De repente… Ah! O menino disse uma palavra! Ainda que pequena, é uma palavra com sentido, e a franzir-lhe o sobrolho: Não! Outras surgirão, em linha de sucessão, à semelhança das famílias reais, poderemos dizer, porque todas elas fazem parte de um reino de significados e entendimentos vários que é o da comunicação.
*
No jardim há flores de muitas cores, e pássaros de asas abertas.
*
Sim, no jardim há flores de muitas cores, e pássaros de asas abertas, meu querido.
*
Repetir as palavras do menino, dizê-las devagarinho dentro de um sorriso, enquanto ele desenha o mundo na folha de papel branca que cobre a mesa onde apoia os bracinhos… É como sentir a doçura de chocolate a derreter-se na boca, é sol a aquecer-nos nesta nossa viagem terrena. Ainda que saibamos quão ténue é por vezes a luz dessa bola amarela pintada no céu.
M

IV


Recordando!



Voltei àquela casa da minha infância
Senti que o tempo recuava…
Nas paredes havia ainda
Fotos das festas, das brincadeiras,
Do chocolate á volta da lareira
E do sol ao entardecer
Que beijava as flores no jardim,
E fiquei extasiada, encantada...
Como se tivesse aberto a caixa,
O baú das recordações
E vi a linha da
viagem da vida,
A licença para a felicidade!
Em cada degrau do caminho,
A promessa de um sorriso,
na envolvente aventura da vida
E a certeza de que quando
A minha força foi ténue
E chegou a hora da sombra,
Lutei...lutei
Até que viesse a luz,
Para me inundar,
e me levar mais além
Para continuar a viagem da vida!
elsa nyny



V



Na vida...


Nesta viagem a que chamamos vida, quantas vezes não deslizamos, escorregamos, derrapamos, em piso molhado, saturado de sabão? Vai-se subindo degrau a degrau à procura de um lugar ao sol ou de uma sombra refrescante. Mas o meio envolvente está pronto a pregar-nos partidas e é precisa toda a atenção. Cada estrada que se percorre ou cada degrau que se sobe, não é mais do que uma ténue linha de seda entre o que se sabe e o que se desconhece. Do lado de lá, a doce tentação - uma caixa de bombons de chocolate e um bouquet de flores. Mal nos aproximamos e eis que, sem pedir licença, uma abelha escondida numa flor, vem ferrar-nos o nariz, quando, daquela, apenas queríamos o odor!
fa menor
VI

Entardecer


Uma ténue linha de um raio de sol ilumina as flores do vaso no degrau por onde a sombra já se estende alongada.
*
Sentado neste recanto, onde a envolvente vida dos arbustos me protege do vento, estendo a mão para a caixa e retiro um chocolate.
*
Ergo os olhos do livro de viagens e observo o gato a espreguiçar-se para de seguida, na liberdade que lhe é característica, sem necessitar autorização ou licença, dar uma volta sobre si e voltar a enrolar-se aproveitando o último calor do sol.
*
Deixo-os diluir e fundirem-se nos meus afectos. Sol, gato e chocolate.
Eremita

VII



Depois de Abril …


Depois de ti a minha vida é sombra
De uma alma morta e em viagem
Procurando um espaço onde me esconda
Dessa ténue linha de miragem.
Que me persegue sempre, inclemente
Transportando, aonde vá, o teu olhar,
Tanto mais fuja eu, mais envolvente.
Por mais que ao sol eu queira entregar,
Esta dor que em mim marca presença
E que de mim não sei como afastar,
Tomou-me a alma inteira sem licença
E eu ando sempre nela a vaguear…
Subo a escada da louca fantasia.
Desço, degrau a degrau, em agonia.
Procuro-te no ar, roubo-te à lua, à aurora
Tudo se esvai, como se aberta a caixa de Pandora …
Plantaste-me no peito tantas flores
Nos lábios, trazias chocolate e carinho
Depois partiste, abandonando a ilha dos amores
E entraste neste mar em que te espero, sozinho…
Maria

VIII


SAUDADE


A viagem tinha corrido bem chegando agora ao fim da linha.

*
Subí aquele último degrau e bati à porta nervosamente, de coração apertado, ainda com a ténue esperança de te ver aparecer...
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Desta vez não foste tu quem me deu licença para entrar, nem foste tu quem me veio abraçar na alegria do reencontro, nem eu estava tão preparada para essa realidade que me esperava
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Desta vez, nem o mar, nem o sol nem os velhos amigos conseguiram arrancar a tristeza que foi crescendo dentro do peito.
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O velho cadeirão onde te sentavas a ler, a esplanada da praça onde todos os dias paravas para um café entre amigos, a caixa do teu chocolate predilecto, as flores que gostavas de tratar, a mesa de pedra do jardim onde nós e tantos dos nossos antepassados se foram sentando ao longo de gerações em tardes cálidas e envolventes de verão... tudo estava lá e, tudo me falava de ti...
*
A velha mesa continua solidamente implantada sob as ramagens frondosas dos carvalhos seculares naquele recanto do jardim, contudo já não se ouviram histórias nem risos, apenas a sombra e o silêncio deixado por ti.
*
O não querer aceitar o facto de teres partido, ainda que inconsciente, o querer acreditar que tudo não passou de um pesadelo, foi duro, e doeu como o "caraças", sabias? Claro que sabes.
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Mesmo sabendo-te sempre a meu lado, não é fácil evitar este vazio que sinto dentro da alma.
*
Esta dor de saudade que o tempo teima em não ajudar a esmorecer.
*
Mas a vida continua, eu sei que nos vamos encontrar um dia, lembro-me até de me teres dito que todos seguimos no mesmo comboio e que todos temos o mesmo destino, com a única diferença que uns ocupam as carruagens dianteiras e outros seguem mais atrás, eu sei, não me esqueci, mas tenho... tenho tantas saudades tuas pai...
Micas



XIX

Abrira sua porta, no meio da noite fria e solitária. Para surpresa, ali estava algo, a sua espera. Mas, precavida, não quis ir de encontro com sua ansiedade, que lhe tomava por dentro. Observava cuidadosamente o tamanho da caixa aberta. Chocolates franceses lhe tentavam, mas quem saberia disso? Será que não haveria um engano? Quem poderia, nessa sombra de destino, lhe enviar aquele voto de amor envolvente? Um pouco mais abaixo, no degrau escuro do prédio, havia pétalas, traçando uma linha que ela deveria seguir. Certamente, quem enviara isso, conhecera seu senso investigativo. E foi a caminhar, coração na mão, por aquele rumo desenhado. Parecia flutuar, tamanha sua expectativa. E longo era esse finito de curiosidade. Deu-se, no final com ele. Ele, seu grande amor, que ali esperava. Ele, que com o olhar ténue, a recebia com flores nas mãos. E ela aproximava-se. E ela chegara perto daquele que emocionara sua vida. Suas mãos moveram ao seu encontro. Mas, ao pedido de licença, sentiu um raio de sol invadir seus olhos. No trem, banhada pelo vento que insistia em rebeliar seus longos cachos, acordara de um sonho lindo, onde o amor lhe parecia ser uma eterna viagem...
auréola branca

X
O Piquenique

Hoje, recordo, com saudade o primeiro amor da minha vida. Foi com ela que eu senti a primeira grande paixão de amor.
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Era domingo, encontrámo-nos de manhã e pensámos fazer um piquenique.
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Foi um pretexto para estarmos sós e contemplar, com emoção, toda a natureza.
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À tarde iniciámos a pequena viagem até à margem do rio e caminhámos por estreitos caminhos rodeados de flores até chegar junto dele.
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Lá, estava aquela grande árvore com mais idade que nós, projectando no chão a sua sol
*
- vamos fazer o nosso piquenique ali!
- disse eu.
- é boa ideia! - disse ela.
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Depois, ficámos ali muito juntos e por um momento contemplámo-nos. Foi uma visão maravilhos: o sol ainda distante da linha do horizonte e o cheiro das flores tornavam a atmosfera envolvente.
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Sentámo-nos e ela colocou no chão a sua pequena cesta, feita de verga, com flores decorativas, e eu retirei do bolso maior, do blusão encarnado, a caixa que continha um chocolate: eu queira tornar aqueles momentos inolvidáveis.
*
Depois, esquecemo-nos de tudo aquilo que nos rodeava. a minha visão tornou-se ténue à medida que o meu coração pulsava mais e mais, a cada momento que passava e a minha paixão aumentava degrau em degrau.
*
Subitamente um impulso enorme fez explodir a minha racionalidade e o fogo do amor irrompeu e eu, sem lhe pedir licença abracei-a; as nossas bocas uniram-se até consumirem os nossos ardentes desejos.
Literatura
XI
Tempos que se fizeram presente


Resquícios de sol apagavam-se na linha do horizonte enquanto um homem cauteloso descia degrau a degrau a desgastada escadaria de uma das colinas da cidade. Valia-lhe o corrimão de ferro, colocado ali muitos anos depois da escadaria, a tinta já descascada pelas estações que se haviam sucedido sem apelo nem agravo como o tempo na vida das gentes.
*
Levantou a cabeça e viu o Tejo enquadrado por um corredor de prédios antigos. Candeeiros a condizer com a paisagem, em belo ferro forjado, feitos para perdurarem, começavam a acender-se, projectando a sua sombra, para que não se sentisse perdido.
*
Empreendera a viagem com uma caixa na mão e um pequeno ramo de flores na outra, num malabarismo com a escadaria e o corrimão que o ia socorrendo naquela descida íngreme e algo desconcertante.
*
Ia ao encontro da que havia um dia amado com todo o fervor.
*
A última vez que a tentara ver - tão jovem… - os pais dela não lhe haviam dado licença para tal. Viviam no Restelo, zona que só pelo nome tinha o peso de um cartão de visita imponente. Também dali se via o Tejo – curiosa coincidência - e ele sentira-se pequenino, pequenino, à porta do casarão onde lhe fora vedada para todo o sempre a entrada.
*
Ao longo dos anos, na Praça do Comércio, via o Tejo e deixava de estar no presente para voltar à recordação envolvente mas triste do casarão do Restelo. Porque afinal era dali que ela lhe escrevia cartas de amor que o deixavam a suspirar noites a fio…
*
Os anos tinham passado e ele tornara-se num homem habituado a ser conduzido e não a deambular periclitantemente nas zonas velhas de Lisboa. Olhou para os números das portas. Se o seu secretário e confidente não se tivesse enganado nas buscas que empreendera, estava na porta certa.
*
Havia como que uma ténue sensação de abandono, novamente a tinta lascada desta feita na madeira antiga da porta. Mas podia reparar-se numa janela, mesmo ao lado, com cortinas feitas em croché num ponto delicado que não vira em nenhuma das outras janelas que observara no trajecto pela cidade velha.
*
Não, a Mariana não o pode ver porque está a estudar piano.”, recordou-se ao ouvir a sonoridade suave de um piano.
*
Encheu-se de coragem e tocou à campainha, já as sombras envolviam a capital por completo. A porta abriu-se como se o receio tivesse ficado guardado para outros locais da cidade, e uns olhos azuis sorriram interrogativamente.
*
Ele não conseguia falar. Entregou-lhe as flores, as suas favoritas, e a caixa que trouxera com tanto cuidado. E ficaram num impasse. Sem o convidar a entrar, ela colocou as flores numa jarra de cristal que só parecia condizer seus olhos azuis e depois, virou-se para a caixa qual menina curiosa num corpo de mulher mais velha e abriu-a. E ali estava um delicado coração de chocolate no meio de inúmeras cartas de amor com a sua letra.
*
Uma lágrima escorreu pela face de Mariana, não sem que antes tivesse tempo de dizer, “Entra Sebastião!”.
Raquel

XII


Meu querido sol, há quase um ano que te escrevo estas missivas sempre incompletas, por faltar uma resposta que lhes ilumine o caminho até à tua caixa. Quando elas te encontrarem nesse ermo para o qual partiste flutuando entre negras névoas, pedirei licença à linha ténue que separa a bruma da sombra e… sem chorar, entregarei a minha vida neste conjunto de cartas manchadas pelas lágrimas, outrora quentes, arrefecidas pela aspereza do tempo. Questiono-me acerca da tua coragem para subir o degrau do amor restrito e me dares aquele abraço envolvente que só o sentimento mais profundo é capaz de assumir. No entanto, esta nossa viagem precisa de ser feita. Entregarei meu corpo ao toque de flores e reconhecerás na minha voz o sabor a chocolate.

(continua na 2ª parte)

18 comentários:

MARIA disse...

Olá meu querido amigo,
Como era esperado estas 12 palavras deram lugar a textos surpreendentes. Li já rapidamente os dois posts que quero ainda com mais tranquilidade saborear e verifiquei que alguns são mesmo excepcionais.
Os meus cumprimentos a todos e parabéns.
Adorei "ver" o Brasinha no seu encantador escrito.
Um beijinho muito amigo
Maria

Justine disse...

Gostei muito do teu texto conciso e poético, encantou-me o protagonismo do gato :))

Lusófona disse...

Há muito tempo que não visitava o eremitério :(

Vi várias postagem sobre jogo das 12 palavras, há muitoo para ler ;)

Beijinhos e fica bem

Rui Caetano disse...

Um texto profundo e leve na leitura. Muito sugestivo.

Bichodeconta disse...

Sinto-me gota de chuva, leve sopro de brisa, pequena folha que se esvai no vento..Tamanha pequenez deve-se á qualidade dos textos que acabo de ler, alguns são maravilhosos.. Um abraço, ell

BlueVelvet disse...

Parabéns pelo sucesso da sua ideia.
Desta vez não consegui, mas para o mês que vem, cá me tem.

Vim também avisar que se me visitar e encontrar o meu blog privatizado, não é porque o fechei aos amigos:))))
É só porque estou a mudar quase tudo nele, e é impossível fazê-lo com ele aberto.
Deve demorar uns 2 dias, talvez menos.
Fico à sua espera, no mesmo endereço, mas de carinha lavada.
Dias Felizes

Fá menor disse...

Estou fascinada com estes textos!

Mais logo leio os seguintes.

Bjinhos a todos os participantes

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Meu bom amigo devo-lhe esta explicação e um pedido de desculpa por só agora vir acusar a recepção do convite que a falta de tempo impediu de concretizar.

A iniciativa está interessante e parece-me corresponder aos seus objectivos.

De momento é-me impossível dedicar-me a mais esta tarefa mas continuarei a visitá-lo e a saborear estes belos textos.

Um abraço amigo.

M. disse...

Mais uma vez a criatividade fantástica posta nas palavras muito próprias de cada um. Parabéns a todos.

Rubens da Cunha disse...

veleu participar de mais esse,
todos muito bons.

diz aqui (rubens712003@yahoo.com.br)
que eu quero te mandar meu livro.

abraços
Rubens

Anónimo disse...

Apreciei estes texto, de fino gosto, que se lê com agrado. Boa semana.

Isamar disse...

Mas que ideia fantástica, tiveste, Eremita!
Tens aqui uns textos lindíssimos.
Creio que vou participar no próximo.
Vou ler o regulamento com atenção.
Deixo-te um cravo de Abril com aroma de liberdade.

Beijinhossss

Eme disse...

Mais uma vez constato tal como no primeiro passatempo que alguns textos na ordem certas e seguidos dão espantosamente uma continuidade a uma história. Já repararam?

estou mesmo a ver, ao fim de uns meses temos livro? :

Abraço caro eremita.

Auréola Branca disse...

Olá, Eremita.
Vim aqui, pra mais uma vez dizer que adorei seu jogo de escrita. Um incentivo e tanto para todos os blogueiros.
Obrigada e parabêns pelas postagens. Muito bom!
Bjão

Micas disse...

Já vim aqui várias vezes mas ainda não tinha comentado, só agora consegui ler todos os textos com calma. Há aqui textos magníficos. Estão todos de Parabéns, principalmente o amigo Eremita por esta fantástica ideia.

Beijinhos para todos e bom domingo

Heduardo Kiesse disse...

DESLUMBRANTE!!!

Heduardo Kiesse disse...

M.


A ideia do LIVRO é nota 20 valores!!

:-)

abraços

Auréola Branca disse...

Olá, meu caro Eremita.
As três palavras que gostaria de sugerir é "pena", "afastar" e "conselheiro".
Um abraço apertado.