Degrau Erodido
urgia afastar-me do avassalador tom Azul da Água Amortecido pela sombra do Casulo em que abrigara o Corpo como se numa Caixa onde, Criança e Conselheiro de mim
pudesse vogar no Céu. Comungar de toda e qualquer conversa. lambuzar-me de chocolate. curar a ferida no cotovelo e voltar, imaculadamente limpo, com a luminosa brancura da cal.
o distanciamento ao degrau erodido pelo uso, apesar da exponente e envolvente luminosidade fez emergir, como se iluminada por intenso farol a fusão das coloridas flores, imensa tela a tudo inundar de paz eliminando a possível existência de um inferno onde o ser se enterrasse no pantanoso lodo da loucura – fina linha que, sem licença, separa o mundo das trevas daquele onde a luz solar e o luar pontificam.
em que todo o movimento tem método tal suave vibração do despontar da manhã, ou do ritmado rolar do mar a marcar o compasso que nos separa da inexorável morte. linha ______ ______ __________vibração ~~~~~~~~~~ e compasso /\/\/\/\ --- /\/\/\/\ que nos torna nefelibatas nem que por fugazes momentos. nos quais, sem fuga ou ostracismo deliberado, nos recolhemos ao mais íntimo do ser como se gota de orvalho fossemos e assim, sem qualquer obstrução, viajássemos dentro de nós ou entre países sem fronteiras ou ainda entre o país real e o imaginário. leve pena no vento do pensamento. corpo e alma sem raízes luminosa rosácea a reflectir a luz do sol e, sem sobressalto, projectar a sombra da sua silhueta numa ténue tapeçaria onde nunca há tempestades.
viagem de uma vida sem vulnerabilidade onde toda a variável é vertical.
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suave e odorífero Vapor evolando-se sem necessidade de nada Vasculhar.
TMara
DOZE VEZES CINCO
Entre as flores da manhã e a tapeçaria de orvalho em que se diluía a silhueta do país, o vapor variável subia na vertical, era o sobressalto do emergir da nossa presença pela terra virgem, como um desenho nefelibata, avassalador, um céu pesado, um dia de vida outrora, plantas secas no caminho. E contudo as tropas logo perceberam que aquele fim de viagem, quase sem sol, tocado, ao longe, por uma sombra ténue, uma certa fusão do mar imenso com os restos da tempestade tropical, era algo que não lhes pertencia, que se afirmava distante das suas raízes.
As tropas haviam chegado ao lugar que lhes coubera, na rede das posições da guerra. Todos sabiam que o comando optara por uma estratégia de grande vulnerabilidade, abivacando, no entanto, perto do cotovelo de um rio, dispondo de água para o corpo, argila e cal para o paiol, uma rosácea de plantas agrestes em volta, obstrução desconfortável do horizonte a leste, um azul amortecido no espaço desse azimute ou linha, solo erodido pelos ventos do inferno.
Tudo era estranho para os homens naquele trânsito, entre uma espécie de lodo e de loucura, presos ao método de quem quer integrar-se na espera e só absorve a sensação do movimento que termina, do distanciamento sem nome, entre barracas de lona, a caixa da ração de combate, o chocolate amolecido, o luar a inundar o esboço do acampamento.
Foi preciso tempo para afastar dali, pela manhã, os bichos mais impertinentes, vasculhar covas ou o casulo de algum ser menos amistoso. Cada soldado vigiava o espaço envolvente e a própria conversa dos companheiros antevendo o ostracismo, a comungar anseios, o sentido do sonho e da morte, as palavras do capitão bom conselheiro, a memória de cada degrau para amanhã, a pena pelas noivas afastadas, cada qual como criança sob a hora onde as ordens teriam forma exponente, expansiva, projectada, e também a licença de perguntar por modos de agir.
Os primeiros tiros atingiram o acampamento, de súbito, ao anoitecer.
Os soldados acenderam o farol e varreram, como resposta, o espaço em redor, numa enorme nuvem de metralha.
XIVA Viagem
rosácea que se via na sua face, de pele suave como a de uma criança, não
era do sol que brilhava no céu azul, naquela manhã de verão.
A silhueta do seu corpo, outrora altivo e arrogante, não provocava já qualquer tempestade no coração do sr. Conselheiro, e era agora uma ténue sombra vertical pela qual os habitantes do farol, onde tinha as suas raízes, sentiam pena.
A loucura que a fez comungar, sem qualquer obstrução, no desejo avassalador de se fazer ao mar para aquela viagem, onde quase encontrara a morte, mostrou bem a vulnerabilidade da sua saúde.
Sem ser necessário vasculhar na sua vida que se apresentava com um certo distanciamento mas envolvente em mistério, aquele passeio marítimo programado para se discutir o método de fusão das duas empresas de tapeçaria, com sede no país agora votado ao ostracismo, serviu para afastar aquela que tinha sido o exponente máximo do Movimento Luar (Liga Unida dos Artesãos).
Bastou uma escorregadela naquele maldito degrau um pouco erodido pelo tempo e, nem o cotovelo lhe serviu de amortecedor pois, mergulhou a todo o vapor na água para depois emergir, gelada, branca como a cal com um monte de lodo a cobrir-lhe a cara, onde os olhos, como gotas de orvalho, brilhavam assustados.
Daquele banho forçado, resultaram danos físicos que a obrigaram a uma longa permanência em casa, com licença para descansar. Flores, caixa(s) de bombons, presentes, nada lhe faltou naquele imenso período
de convalescença.
Até aquele amigo nefelibata que vivia como se estivesse dentro de um casulo, aparecia com frequência para a inundar com as novidades do inferno das guerras que devastavam este velho Mundo e a conversa fluía sem nenhuma linha de orientação, calma, sem sobressalto, mas sempre variável nos temas abordados.
A chávena de chocolate quente não faltava, mas nada impediu que o seu corpo perdesse o vigor da juventude já distante.
XV
ténue linha
devia afastar-me da água que caía como se gigantesca caixa se houvesse aberto no céu derramando juntamente água e cal a queimar-nos o corpo.
urgia ultrapassar o degrau. criar o distanciamento. abrigar-me sob o grande toldo que parecia emergir da parede, envolvente escudo protector, farol na noite, pois bem via as viçosas flores aí abrigadas do Imenso Inferno em que, sem aviso nem licença, o mundo se transformara.
o toldo aparecia como a única linha de sobrevivência naquela manhã. tábua de salvação ao naufrago, no mar da estranha chuva.
nefelibata impedido de o ser. indivíduo brutalmente lançado no mundo real sem obstrução interior. a sobrevivência falando mais alto. gritando mesmo. nem o sofrimento causado por viver num país que desvalorizava cultura e criatividade duma forma que provocava tanto dor como pena por ignorar as verdadeiras raízes, sustentáculo e identidade - a rosácea, pedra mestra onde se encontravam todos os símbolos da sua história e as silhuetas de seus antepassados…
nada lhe causava tão grande sobressalto como aquela chuva queimando. caindo de um céu que era, em si, estranha tapeçaria nunca antes vista naquelas cores, nuances, movimentos e projécteis arremessados sobre a terra. feroz tempestade de tóxico vapor varrida por ventos de variável direcção e intensidade não permitindo adivinhar de onde surgiria a próxima e inclemente agressão.
com o corpo amortecido pelo avassalador cansaço olhei o céu ansiando pelo protector casulo do toldo a que tardava em chegar. como se este se afastasse quando julgava alcançá-lo. meu ser erodido já não ouve nem vê nada ao seu redor. só o exponente abrigo existe. a fusão dos elementos químicos da água com os da cal causticam-me o corpo. a pele arde-me . começa a ulcerar. sinto inusitado desalento inundar meu pensar e movimentos.
a insanidade apodera-se de mim. sinto-me enterrado em lodo. alguém a afundar-se em movediças areias …a loucura começa a possuí-me. a irracionalidade a impor-se. não distingo o real do imaginário num regresso ao nefelibatismo ortodoxo, mas de um modo negativo, destrutivo. que me não é usual. não o conheço. não sei lidar com ele pois não obedece a nenhuma lógica ou método. sinto-me na antecâmara da morte.
recordo a frescura do orvalho. tento imaginá-lo a deslizar-me na pele queimada. lembro o auto-ostracismo em que vivia, por incapacidade de enfrentar a realidade nua e crua das relações humanas tal como as via – um sol que queimava e feria sem o bálsamo de uma sombra…
tão diferente da situação que agora vivo e no entanto tão semelhantes nas consequências, no ardor….na dor…
ténue linha da vida esta.
alucinado ponho-me a vasculhar na memória o fio-de-prumo, a vertical linha que define a humanidade do meu ser e rio. rio sem parar da analogia que por fim encontro entre a forma como sempre vi - mais do que isso, senti - as relações humanas. Corroente chuva de emoções e a situação em que me encontro.
deixo-me cair no passeio a rir.
surpresos os transeuntes olham o homem que ri alucinadamente e logo baixam ou desviam o olhar. Embaraçados.
Eremita
diz-me...
diz-me, porque estás aí sentado com esse olhar perdido e amortecido num imenso distanciamento? porque não vens comungar deste erodido e avassalador sentimento. esta fusão de mar, céu e azul em mim feitos tempestade?
porque te não moves, nada dizes, e te transformas no farol que necessito?
______________________________inicia a viagem a dois para que a vida nos deu licença.
___________a vulnerabilidade da morte atingira-me sem qualquer obstrução
na exponente manhã em que sentia a bela tapeçaria da vida a esboroar-se, a afastar-se. delida. sem possível conserto foste o anjo-da-guarda conselheiro que me trouxe de volta.mas agora estás aí. a comer chocolates ______________ quedo _____________mudo….enquanto a loucura assente em velhas raízes e lodo começa a emergir e num sobressalto me retira toda a água do corpo _________figura de cal.
na interminável busca de mim começo a vasculhar-me. e tu, aí! quieto ______________ calado e mudo ___________________saboreias os chocolates que retiras da caixa...
penso num método para me fazer ouvir… me tornar visível _________________________com olhos de cal procuro-me e vejo o que de mim resta. um cotovelo onde uma branca rosácea alastra ___________________________não há conversa ______________movimento _______ variável alguma que te faça abandonar o ostracismo em que vives? ou o ostracismo a que me votaste…?
não sei… construíste um casulo como se fosses único habitante de inexistente país.
não há vapor que o amoleça queime e destrua. só talvez algum que do inferno ascenda directo ________________ até ti ___________________________vertical
nefelibata não de sonhos mas de pesadelos…
antes eram os teus braços___________ os teus braços eram as flores que recordo ___________________________ deixo-me inundar pelas memórias dos teus olhos brilhando na noite __________farol e luar.
XVIIé lugar comum dizer que o mar é imenso. avassalador até. a fusão dos elementos em fúria, na mais poderosa tempestade cria em nós um distanciamneto erodido pelo medo necessário à sobrevivência. à necessidade de voltar a comungar em pleno com o azul do céu e do mar mesmo nos dias em que se encontra amortecido. Sereno farol do começo dos tempos.
O mesmo acontece na viagem da vida por mais envolvente que seja a luz do sol. ténue a linha da sombra. Há sempre traiçoeiro degrau que, sem licença, nos rasteira.
é na beleza e perfume das flores, no chocolate guardado numa caixa que buscamos o retempero. o consolo que nos reponha o equilíbrio. é tal a vulnerabilidade que não obstante o mais exponente conselheiro tendemos a afastar a bela e suave tapeçaria em que nos encontramos e indiferentes a toda a obstrução, ao vivo instinto da criança em nós, ao claro e manso despertar da manhã, à leveza da pena e à beleza do orvalho na flor corremos para a medonha silhueta da morte.
séculos e séculos de racionalidade e método desaparecem quando o lodo da loucura em sobressalto começa a emergir. o corpo, como se agredido por gigantesco cotovelo, esquece as suas raízes. põe-se a vasculhar imerso em água e corrosiva cal até nada mais restar senão estranha rosácea. amálgama de si.
variável nossa conversa e movimento. leve e imponderável casulo pendente em pouco vertical ramo. inferno de um país que, ano após ano, se deixa inundar por fogos ateados com o residual vapor da loucura fonte criadora de ostracismo do qual o nefelibata foge através dos raios do luar.
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XVIIIDe branco vestida, roupas esvoaçantes, um laço de cetim alindando os cabelos negros…corpo coberto de lodo e raízes, silhueta esguia num suave emergir da água naquele ponto onde a fusão do rio com o mar imenso acontece!
Num distanciamento, até onde a vista alcança, na ténue linha do horizonte, onde o azul do céu num gesto envolvente e sem pedir licença, se aconchega para comungar com o visitante, da beleza de um por- de-sol avassalador.
Em movimento lento, nefelibata, Carminho segue até ao farol situado num cotovelo de terra que se adentra pelas águas.
Com a vulnerabilidade causada pelas horas de viagem e pelo refrescante mergulho, Carminho sentou-se ao luar, que, de forma pouco variável, ao entardecer se instala para inundar de beleza aquele lugar e dar vida à noite…
Por detrás deste cenário, luxuriantes vinhedos crescem nas escarpas e penhascos erodidos pelas intempéries, e cercam o povoado de casas baixas, brancas de cal deixando a visão espraiar-se como se de uma tapeçaria se tratasse.
Carminho retirou da mochila uma pequena caixa que a acompanha desde criança e começou a vasculhar o interior, enquanto se deliciava com uma barra de chocolate.De dentro da caixa, seu casulo, retirou um ramo de flores secas e a pena com que o pai (seu conselheiro) sempre escrevera e depois da sua morte lhe pertencia por herança.
Retrocedeu no espaço e no tempo até á infância e ao país distante onde nascera, há25 anos atrás e de onde o inferno da guerra a fez afastar para sempre. Num rasgo de loucura, saiu com a promessa de não voltar. Desviou o olhar para as águas onde deslizava um pequeno vapor que, na sombra da noite, navegava perto da costa, tão perto que o tom da conversa amortecido pelo bater das ondas lhe era audível.
Em sobressalto apercebeu-se de que o orvalho da manhã dera lugar a uma tempestade.
Com método, colocou a caixa na mochila e saiu daquele sítio, exponente máximo de encantos junto à orla marítima. Era a primeira vez que Carminho estava naquele lugar, as bátegas de água fustigavam violentamente o seu corpo, subiu na vertical cada degrau, sem obstrução, e seguiu até ao pequeno adro onde se erguia uma capela onde se abrigou, não sem que antes tenha olhado demoradamente a rosácea que a encimava..
Numa reza improvisada, pediu a Deus paz para o mundo e fez preces para que a sua terra saísse do ostracismo...
Enquanto a paz não fosse uma realidade em todo o mundo, Carminho iria viver naquele lugar e continuar em busca de felicidade
XIXA silhueta recorta-se no azul imenso que lhe rasa os pés e sobe envolvente por detrás do farol, espraiando a cor no espaço sem horizonte. Nem um sobressalto quando o movimento da onda quebrada numa vaga mais forte ameaça inundar o espaço em que posa, erodido na preia-mar.
Nefelibata, o olhar perdido para além do céu e do ardor amortecido do sol que vem marcar a linha do horizonte até então indefinida, ele retoma a viagem de uma vida sem corpo, num sentimento avassalador que o consome por inteiro.
É a tempestade da loucura varrendo a sua mente no distanciamento da realidade quieta do mar e das tonalidades suaves do entardecer. É o exponente do pesadelo que o oprime na obstrução do sentimento de vulnerabilidade perante o lodo da corrupção, o desprezo do homem pelo homem, o ser amoral, conselheiro do homem novo. Cresce nele o inferno da impotência perante a fusão da memória, qual vapor libertado da água sobre a pedra de cal, sem método, sem retorno, degrau a degrau subindo, erguendo a sombra que se estende variável, mas vertical.
Vota ao ostracismo as raízes, o país que houve, a criança que foi, na manhã cálida a pena pousando no orvalho brilhante, a beleza ténue das flores ao luar, o casulo de chocolate a emergir do invólucro de prata colorida.
Vasculhar sem licença na caixa de Pandora, na rosácea desenhada na tapeçaria que os seus olhos enxergam para lá do horizonte, no cotovelo do mundo, é comungar também da esperança dos homens em afastar a inexorabilidade da morte.
Jawaa
Breve, tão breve
Este vasculhar do corpo da palavra
Breve, tão leve
No casulo, o nefelibata se fez criança
Na fusão das flores, luar e da água
Pelo avassalador ostracismo das raízes em rosácea
Qual silhueta amena e cândida
Breve, tão ténue
O conselheiro exponente da morte, da loucura, do lodo
Tecia, degrau a degrau, um inferno de sombra com pena de chocolate
Com o erodido método do sobressalto
Pela vulnerabilidade da obstrução
Em forma de tapeçaria sobre a caixa de cal e vida
Em contínuo movimento
Breve, tão breve
Pensa-se afastar o vapor envolvente da conversa em tempestade
Sobre o distanciamento amortecido num país sem farol
A inundar de orvalho em linha vertical.
Mas o poeta, apoiado no cotovelo,
Desponta a manhã
Num intenso e imenso divagar
Fazendo emergir da viagem
Pelo céu das letras amenas
Um amor maior a comungar.
Breve, tão leve
Renasce a palavra de sol e azul-mar
Num sorriso com licença para voar.
Amita
4 comentários:
Estão todos de parabéns.
Fico fascinada com a forma tão bonita com que algumas pessoas aqui apresentam as suas palavras, numa harmonia e graciosidade..Um abraço, ell
Um desafio mesmo nada fácil!! Isso é verdade! Beijos para todos.
Nada fácil este desafio!!.
Sem querer alongar muito a escrita, tornou-se um pouco complicado compor qualquer coisa com principio, meio e fim.
Mas, o travesseiro sempre foi bom CONSELHEIRO e numa manhã de CEU AZUL, com uma CAIXA de CHOCOLATE por companhia pus-me à CONVERSA com o lápis e lá consegui escrever umas LINHAs.
Parabéns a todos e valeu a PENA o trabalho.
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